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Políticos, líderes religiosos, empresários, dirigentes esportivos, pessoas que precisam vender o seu peixe tornam-se populares ao pronunciarem suas certezas de forma inteligente.

Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda no tempo do “milagre brasileiro”, é um cidadão tão agudo que ninguém espera que possa dizer bobagem. Pelo contrário, ele está sempre cercado pela expectativa da opinião que ilumina. Pois ele aproveita-se disso para confundir os espíritos, como impecável representante de uma categoria que não acredita no que diz, dotada, porém, da capacidade de levar os outros a acreditarem. Ocorre com o consagrado político e economista o mesmo que se dá, por exemplo, com grandes atores cômicos: logo que aparecem, a plateia já começa a rir.

Ex-presidentes, como Collor e Lula, apenas para ficar com dois bastante rodados na arena política, apresentam-se na tevê com estilos bem diferentes. Collor vai a um programa e se exibe no seu repertório de sentenças sobre as coisas da política, espraiado convictamente entre o paradoxo e o embuste. Lula percebe que a plateia é favorável e solta o verbo. Ninguém o segura mais. Sua retórica tornou-se difusa, apesar de passar a impressão de que possui o dom de colocar ordem no mundo como Pitágoras organizou a tabuada. Ele mostra as saídas da crise com o esforço mínimo de quem abre portas de dobradiças bem azeitadas.

Assistindo alguns presidentes de clubes de futebol que se apresentaram recentemente na tevê, recebidos por entrevistadores amáveis que se desmancharam em sorrisos, fui obrigado a reconhecer o talento desses grandes atores.

Nada como uma reação tão cativa para deixar o entrevistado à vontade, e nem se fale se o herói da noite é um grande cômico, ou um Eurico Miranda da vida.

O futebol brasileiro deixa de ter graves problemas ouvindo a retórica irônica desses homens vivazes. As ironias e os disparates fermentam, afirmados risonhamente, quando não se concluem numa espécie de gargalhada interior que agita o cenário sem suscitar outro ruído além de um chiado intermitente que lembra a risada do cachorro de “mister” Magoo. Recordam o velhinho quase cego e seu cão perverso, embora simpático? Estranha personalidade, a do cão de Magoo.

Geração de jogadores tecnicamente sofrível pelo mau trabalho nas categorias de base, jogos enfadonhos, campeonatos arrastados, estádios vazios, más arbitragens, violência das torcidas organizadas, tudo parece normal ouvindo os donos da bola.

Os cartolas folheiam suavemente as páginas do passado, do presente e do futuro, e as leem para o torcedor como um pai que prepara o filho para um sono tranquilo.

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