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Não, amigos, o título da crônica não tem nada a ver com o tempo em que os ponteiros dominavam o futebol brasileiro: Garrincha, Julinho, Sabará, Maurinho, Lanzoninho, Joel, Gildo, Dorval, Jair, Jairzinho, Rogério, Valdomiro, Renato ou Mueller pela direita; Esquerdinha, Pinga, Canhoteiro, Escurinho, Pepe, Babá, Zagallo, Rinaldo, Edu, Aladim, Júlio César ou Éder pela esquerda. Vamos tratar do domínio dos ponteiros do relógio sobre as nossas vidas.

Se você chegar às 9 horas num jantar marcado para as 9 horas, já sabe o que você é: um inconveniente, para não dizer um chato de galocha. A dona da casa ainda esta finalizando os preparativos comandando o exército de mordomos, copeiros e garçons e você aparece ali na porta de entrada com aquela cara de comilão.

Qualquer um nascido do lado de baixo do Equador sabe que horário não é para ser cumprido. E não só para jantar ou festa. Pode ser também na reunião, na consulta médica, no batizado, no casamento. Só enterro não atrasa. É impressionante a rapidez com que os funcionários das empresas funerárias agilizam o procedimento. Mas aí também tem uma explicação: não é o começo, mas o fim de tudo.

Nada, absolutamente nada começa pontualmente, a não ser cinema. Antigamente os melhores cinemas tocavam uma musica-tema que os frequentadores conheciam de cor e sabiam que, quando ela terminasse, as luzes se apagariam e começava o jornal da tela. Nos circos, também, mesmo com pequenos atrasos, havia o primeiro sinal, o segundo e, afinal, a entrada triunfal dos palhaços, domadores e trapezistas para o maior espetáculo da terra.

Futebol é mais ou menos como sessão de cinema ou peça da Marí­­lia Pêra. Raramente atrasam. A não ser, agora, com esse negócio de executar os hinos oficiais. Hino em um local onde não se respeita nem minuto de silêncio é coisa anacrônica e fora de propósito. Mas, no Brasil, hora marcada e só a senha para você entrar no banho e começar a se arrumar.

Pontualidade britânica é coisa para poucos. O culto à desobediência tem apoio irrestrito da maioria dos brasileiros, que não vacilam em castigar os que ousam transgredir as regras. Falo de cátedra. Co­­nheço poucos tão pontuais como eu: chego sempre na hora combinada.

Sendo assim, estou acostumado a esperar, conversando com o pessoal de serviço e, manjado pela turma, servem-me logo um aperitivo e troco algumas opiniões sobre futebol ou outro assunto palpitante qualquer.

Já tentei me deseducar, mas des­de os tempos em que era obrigado chegar às 7 horas no colégio os ponteiros do relógio têm total domínio sobre meus atos. Sempre vivi em torno dos horários de iniciar a transmissão do jogo, de ir para o aeroporto, de chegar no escritório ou na repartição.

O pior é que fico nervoso quando corro o risco de deixar alguém esperando por mim.

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