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Elencos maravilhosos são formados por um conjunto de jogadores bem ajustados e um astro iluminado. Foi assim com a Holanda de Cruyff, o Flamengo de Zico, a Argentina de Maradona e tantos outros.

Para cristalizar, no entanto, o cast necessita de dois gênios. É o que diferencia o extraordinário do transcendental. Hoje o Barcelona de Messi e Neymar está no grupo seleto e imortalizado do Brasil de Pelé e Garrincha, da Hungria de Puskas e Kocsis, do basquete de Paula e Hortência, Jordan e Magic Johnson. Até em outras áreas, como na arquitetura de Niemayer e Lúcio Costa, ou na música de Gil e Caetano, duetos são incomparáveis.

São as dobradinhas que encantam e fazem a diferença. Por aqui o futebol solidificou duplas famosas - não se trata de supertimes. Kruger e Kosilek, Washington e Assis, Saulo e Adoilson, Paquito e Abatiá. A rotatividade para o lucro imediato não mais permite a manutenção de dois ídolos no mesmo time.

Acompanhei Garrincha diversas vezes, das arquibancadas, tribunas de imprensa e mesmo ali dentro do campo. Pelo Botafogo e seleção brasileira. A primeira vez foi aqui na Vila Capanema. Depois no Maracanã, Pacaembu, Liverpool e por aí vai. Conversei, entrevistei e até autógrafo ainda guardo do Mané. Só não joguei futebol ao lado dele... Missão que ficou para o amigo Sicupira (que privilégio, não Barcímio?).

Neste sábado, resgato, de certa forma, sublimes lembranças dos anos dourados de 1960, assistindo “A mulher do fim do mundo”, título do show de Elza Soares, no Guairão. No livro que ganhei de Nilton Santos, “Minha Bola, Minha Vida”, o autor descreve que no primeiro treino de Garrincha no Botafogo, o treinador Gentil Cardoso disse: “No Botafogo, dá de tudo, até aleijado”. Elza, no primeiro teste como cantora, ouviu de Ary Barroso: “De que planeta você veio?”. “Do planeta fome”, respondeu.

Elza e Garrincha conviveram por 16 anos. O casal encantou o público pela alegria e descontração – ele no campo, ela no palco. Mas enfrentaram preconceito feroz por conta do machismo da época (diga-se, pouca coisa mudou meio século depois. Mas isso é outra história). Elza foi forte e tentou salvar Garrincha do vício. Não o suficiente para evitar a morte do gênio da bola, derrubado pela cirrose.

O que é que Neymar e Garrincha têm em comum? Quase tudo. Alegria, mania de colocar apelido, talento, generosidade, além do encanto e o prazer pelo jogo. Se Chico Xavier psicografasse uma mensagem de Mané Garrincha nos dias de hoje, com garranchos tantos quanto suas pernas tortas, seriam mais ou menos assim:

“Minhoca (apelido de Neymar), divirta-se em campo. Ganhe o dinheiro que eu não consegui. Brinque. Namore. Quando o Messi estiver fora, ou jogando mal, assuma. Fiz isso em 62 quando o Pelé se contundiu. Não se compare. Você e Messi são as duas principais pessoas da santíssima trindade, como dizia o Armando Nogueira, descrevendo eu e Pelé. Não se irrite. Não simule. Cuidado, seja humilde! Seu amigo Mané”.

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