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O técnico da seleção é uma pessoa sóbria, educada e inteligente. Como treinador ganhou a "batalha dos Aflitos" com o Grêmio, e tirou o Corinthians que ardia no mármore do inferno – ambos estavam na Série B. O currículo do nosso treinador é até certo ponto discreto, e lembra um pouco Dunga e Parreira, que massagearam o ego na Copa das Confederações e depois perderam os Mundiais do ano seguinte. Estes sim de peso inquestionável. Como existe o jogador que nasceu para brilhar nos grandes momentos. A pergunta é: teria Mano Menezes o perfil ideal para comandar o desafio e a pressão de uma Copa do Mundo em casa?

O amistoso contra a Argentina e os Jogos Olímpicos, é uma bomba-relógio para os dois lados. Um fracasso hoje contra os hermanos, dependendo das circunstâncias – uma goleada, por exemplo – pode até capotar o técnico da rota olímpica. Numa hipótese como essa, penso que Ney Franco e Carlinhos Neves tocariam o barco sem nenhum problema. Se não perder da Argentina, Mano tem moral para buscar a medalha de ouro em Londres e seguramente ficará até a Copa de 2014. Aí a bomba-relógio vai para as mãos do presidente José Maria Marín, que tacitamente prefere Muricy Ramalho no comando.

Neste caso, até que ponto é bom ganhar um jogo amistoso chave como o de hoje? Sempre. Mesmo em prejuízo lá na frente. Duvido que alguém, mesmo aquele tipo ranzinza de carteirinha, consegue torcer pela Argentina contra o Brasil. Já vi de tudo no esporte, até mesmo um louco que torcia pelo touro contra o toureiro (que talvez fosse argentino). Mas torcer para eles, nem falar. Nós nos divertimos com a desgraça deles e vice-versa.

Mas dizem que o ódio é o amor congelado. Aliás, recentemente quando a revista Time incluiu a presidenta Dilma Rousseff entre as 100 pessoas mais influentes do mundo, Cristina Kirchner, que não estava no rol, se pronunciou: "Ela e eu trouxemos o ímpeto que deriva de nossa herança imigrante e o desafio enfrentado por mulheres que cresceram (e venceram) num espaço dominado por homens. Concordamos que a desigualdade social seja o maior problema enfrentado por nossos países. O conceito de ‘coisa nacional’ na América Latina sempre foi como o oposto dos demais interesses da nossa região. O que se vê hoje é um Brasil convencido de que seu interesse nacional está ligado aos interesses de seus vizinhos". Falou com elegância.

Voltando ao futebol, o interesse dos nossos vizinhos é de cutucar sempre. Nós nem tanto. Acho tudo isso sadio. Há excessos como aquela manchete do periódico Olé, em 1996, quando a Argentina se classificou para a final olímpica e esperava no dia seguinte o vencedor de Brasil e Nigéria para decidir o ouro de Atlanta: "Que vengan los macacos (que venham os macacos)!". Virou crise diplomática.

O maior clássico do futebol mundial não precisa mais da malícia e da dor de cotovelo do tango. Requer sim que o nosso treinador seja sempre agressivo e não deixe o seu oponente controlar o jogo. Como se faz no mano a mano do pôquer.

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