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Semanas atrás, usei este mesmo espaço procurando enxugar as lágrimas que o goleiro Rodolfo derramou no Ecoestádio, depois do jogo com o Londrina. Quinta-feira agora, no mesmo local, os prantos vieram de Nathan, companheiro de Rodolfo, ao fim da partida com o Maringá. De ambos, um choro vindo do fundo da alma. Sincero, singelo, emotivo e por razões distintas. Chorar em público ou diante da televisão, não é raro. Também não é vergonha. Para o futebol de hoje, entretanto, onde o mercantilismo impera, é mais do que isso, é comovente.

Quando vejo as imagens surradas, em preto e branco, da final da Copa de 50, e as comparo com a derrota de 98 – foram as únicas decisões que o Brasil perdeu – noto a diferença de fisionomia nos jogadores daqueles dois mundiais. Claro que não dá para julgar sentimentos, e muito menos compará-los à luz da razão. São reações íntimas e subjetivas de cada um. Há, porém, um abismo de diferença entre o sofrimento e o desprezo àqueles que perderam para o Uruguai, em relação aos derrotados na França.

O choro na final de 1998 era do torcedor. Choro de raiva. Ou por ser lesado na compra do ingresso (ficando fora do estádio) ou, se dentro dele, por assistir um time anêmico do Brasil. Já no Maracanazo a dor dos jogadores ultrapassa o imaginário. Barbosa foi parar no DOPS, Bauer viajou para São Paulo sentado no chão do trem, Friaça surtou. Os jogadores foram acusados de traidores da pátria. As lágrimas dos vice-campeões mundiais de 1950 foram sufocadas. Sadismo total. Por isso chorar é necessário. Seja por saudade, dor, medo, alegria, sentimento de culpa, não importa, chore.

O choro do garoto Nathan, depois da grande partida que fez contra o Maringá, impressionou justo pela carência que vivemos com a falta de sinceridade no relacionamento clube/atleta. Esse menino, gerado no CT do Caju, é bom lembrar, foi eleito o melhor dos brasileiros no mundial Sub-17 do ano passado nos Emirados Árabes. Ganhou a camisa e a nota 10.

O que vi nesta semana foi um choro de alegria. De felicidade. De amor pelo clube e pela família – pai, mãe e avô. O jogador encantou pela pureza explícita e derramada pelos sentimentos. Lágrimas que encharcaram a grama do Ecoestádio. Diria Tom Jobim, como se fossem (...) as águas de março fechando o verão. Seria muito bom ter entre nós atletas desse quilate técnico e emocional por um tempo maior. Doce ilusão. A realidade do futebol e do mercado não permite. Nathan – com todo o merecimento – mais cedo ou mais tarde agregará sua arte ao ciclo dos grandes negócios da bola. E a vida segue. Então, já que é assim, que suas lágrimas fecundas sirvam para regar os campos para outros talentos. Foi gratificante sentir o choro de Nathan.

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