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Coxas, atleticanos e paranistas são solidários em uma aflição: a falta de um 9 confiável. Falo do homem de área, o fazedor de gols. Aquele que, se não balançar a rede, é favorito à indicação de pior em campo.

No Couto, Marcel e Caio Vinícius falharam tão clamorosamente que Marcelo Oliveira prefere apostar na mobilidade do ataque e nos zagueiros a confiar a um dos dois a missão de fazer os gols. Periga Keirrison receber uma chance antes deles. Na Baixada, traumatizada pelas caneladas de Nieto e os problemas mil de Morro García, a torcida rubro-negra ainda olha com desconfiança para Fernandão, embora o Finazzinho tenha (quase) todas as características do homem gol. Falta "apenas" registrar na carreira uma média mais elevada de... gols. Na Vila, a profusão de jogos por todas as segundas divisões possíveis ainda deixa a torcida em dúvida quanto à conclusão de Ricardinho: vale mais os lépidos Luisinho e Arthur no ataque do que apostar em um dos três centroavantes do elenco – Wellington Silva, Douglas Tanque e Nilson.

Não foi sempre assim. Cito Brandão, Oséas e Saulo. Brandão, desconfio, nunca acertou um passe fora da área, mas dificilmente errava o alvo dentro dela. Oséas era tão obcecado pelo gol que chegou até a estufar as próprias redes, em um Corinthians e Palmeiras. Saulo acrescentava ao vasto repertório de gols a apresentação para a tabela na entrada da área. Nada de despachar muito longe do escritório. Fora daqui, tivemos Túlio Maravilha, Paulinho McLaren, Super Ézio, Valdir Bigode, Serginho Chulapa, Careca, Roberto Dinamite. Grandes na área e no nome, em um tempo em que um Diego Maurício nem passava na porta do clube, o que dizer vestir a camisa 9.

Quem começou a nos tirar o encanto pelo 9 foi Romário. No auge, o Baixinho arrastava marcadores do centro do gramado até o fundo das redes. Só ali os beques conseguiam pegar a bola, enquanto Romário corria, marrento, com os braços abertos. Ronaldo, o sucessor, foi a evolução. A partir dele, não bastava se materializar na área quando a bola sobrasse pedindo que um pé a mandasse para a rede. Era preciso subjugar o adversário, desde o ponta esquerda até o goleiro. Ser centroavante era passado. Ser atacante era presente e futuro.

A nova ordem se espalhou pelas categorias de base. O principal era se movimentar, driblar, parafinar o cabelo, colorir a chuteira. Fazer gol tornou-se opcional. E o futebol brasileiro paga hoje por isso – e pagará mais ainda no futuro. Fred e Luís Fabiano são mortais; Borges, Vágner Love e Kléber Gladiador, um ou dois degraus abaixo que os tricolores, também são confiáveis. Todos beiram ou passaram dos 30.

Quais os 9 brasileiros confiáveis com menos de 23 anos? Leandro Damião, e só. Mas notem: Damião furou a ditadura da base. Foi da várzea para o profissional. A várzea – juntamente com as peladas de terça à noite – é o último reduto dos centroavantes. É lá que os formadores devem buscar a inspiração para moldar os atacantes. E lá onde quem não cumpre seu dever de 9 deveriam fazer uma reciclagem.

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