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O futebol brasileiro tem o péssimo hábito de entender o esporte pela lei mais selvagem de mercado. A nova ordem é elitizar os estádios de futebol. Quer ver um jogo in loco? Pague caro ou fique no sofá. "É a modernidade...", dizem os cartolas.

Nenhum dirigente parece preocupado – diante do deslumbramento do público com as novas arenas – com a necessidade de bolar uma verdadeira cultura de assiduidade nos estádios. A ideia é afastar os pobres e até a classe média dos assentos. Parte-se da equivocada lógica de que os ricos vão manter e, quem sabe, incrementar a receita de bilheteria. Não vão.

Pelo menos um exemplo de sucesso existe para contrariar essa tendência de segregação: a Alemanha. Na Bundesliga, desembolsa-se em média R$ 50 por jogo. Com isso, os germânicos conseguem a façanha de ter a maior taxa de ocupação dos estádios da Europa, com uma média de 45 mil fãs por partida. Melhor: há torcedor com alma. Aquele que grita, chora e sorri.Neste fim de semana, o Brasil provou do veneno em duas frentes. Em Brasília, com o tíquete mais barato a R$ 80, despedida de Neymar, palco de luxo e Flamengo em ação, a casa estava cheia (63.900 pagantes). Mas os fãs torciam com a emoção de quem segura o controle remoto, no ritmo do 0 a 0. Passado o jogo, quem voltará para ver uma atração menor? Em Salvador, com a Fonte Nova sem o mesmo encantamento inicial, cobraram-se exorbitantes R$ 70 (mínimo) para Vitória e Internacional. Os baianos reagiram à altura. Apenas 8.955 pagaram para ver o movimentado empate por 2 a 2.

Com base na primeira rodada, a consultoria Pluri fez o custo médio de ir aos jogos no país. Segundo o levantamento, paga-se R$ 41 pelo ingresso e gasta-se R$ 75,84 (considerando estacionamento, gasolina e lanche). O estudo não colocou o duelo do DF na conta, pois o pacote iria para R$ 93,90. Acompanhar o time do coração em 19 jogos do Brasileirão sai, no total, R$ 1.440,96 para uma pessoa. É muito. É injusto.

Neste cenário, falar de Curitiba chega a ser patético. Aqui o sistema elitista está bem mais avançado. Quer torcer, seja sócio. Não há meio-termo. Paraná e São Caetano jogam hoje à tarde. Um prato cheio para estudantes, a maioria adolescente, pegar gosto pelo futebol no sereno. Pois bem, peça para o pai, tio, mãe a bagatela de 60 pilas para passar nas catracas da Vila Olímpica. Mais viável brincar de videogame, não?

Isso sem contar que outras atrações, como o cinema, por exemplo, saem muito mais barato.

A Copa está colocando o futebol brasileiro nessa encruzilhada. Dois caminhos bem distintos, com linhas paralelas, surgem no tortuoso caminho. Por enquanto, os dirigentes pegaram a estrada da ganância. Quem seguir o caminho oposto, abrindo a porta para uma torcida plural, de todas as faixas de renda, tende a lucrar mais a médio prazo. Essa é a lição alemã. Ou alguém ainda duvida do país de Bayern e Borussia?

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