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A propaganda e o marketing, comercial e individual, sempre existiram. Hoje, são cada dia mais frequentes e agressivos, em toda a sociedade e no futebol.

O ser humano sempre foi um grande marqueteiro, um garoto-propaganda de si mesmo. Adora ser visto e admirado. Para isso, coloca uma máscara, para se achar melhor do que é, e também para sobreviver, em uma sociedade de aparências. Em alguns, principalmente nos que têm uma cara pública e/ou famosa, a máscara é tão grande que encobre a cara original. A criatura engole o criador.

A novidade, neste início de ano, é Muricy trabalhar, durante as partidas, com uma camisa e um boné com o nome de uma empresa que não tem nada a ver nem é concorrente da empresa que patrocina o Palmeiras. O anúncio na camisa do técnico é negociado pelo clube.

Todo o dinheiro recebido do anunciante, conforme noticiado pela Folha, vai para o clube. Não entendi. O garoto-propaganda é Muricy. A não ser que o técnico esteja com sentimento de culpa por ganhar um altíssimo salário e ver o Palmeiras fora da Liber­­tadores. Isso também não faz sentido. Muricy pediu um salário, e o clube aceitou.

A moda dos técnicos fazerem propagandas personalizadas tem tudo para pegar. Será que Luxem­­burgo vai colocar um anúncio em seu terno Armani?

Dunga é também garoto-propaganda de uma marca de cerveja. Não é o primeiro técnico da seleção que faz isso. Dunga aparece na tevê, batendo no peito e dizendo que tem de ser guerreiro. O anúncio mostra torcedores com a camisa da seleção, vestidos para uma guerra, gritando e cobrando que os jogadores têm de ser guerreiros.

O futebol já está extremamente guerreiro e violento, dentro e fora de campo. Cada vez mais torcedores acham que o time ganhou porque foi guerreiro e perdeu porque não foi. Gos­­tam mais de jogadas de raça que de outras brilhantes. Os jogadores percebem e tentam agradar ao torcedor. Raça é o que não falta. Falta, muitas vezes, futebol, e um pouco, o mínimo, de gentileza e delicadeza.

Não há nada de ilegal nem é antiético um treinador da seleção ser garoto-propaganda, desde que o anúncio não esteja em conflito com seu trabalho. Mas não gosto, acho esquisito, seja anúncio de cerveja, de religião ou de qualquer outro.

No final dos anos 1960, quando jogava, fui garoto-propaganda de uma lâmina de barbear. Fiquei vaidoso com a proposta, além de ganhar um bom dinheiro, para a época. Mas, quando me vi na tevê, com uma cara que não era a mi­­nha, senti vergonha e uma sensação de ter cometido a maior das idiotices.

A Copa de 1970 foi a primeira ser transmitida, ao vivo, pela tevê brasileira. Os marqueteiros não perderam tempo. Todos os jogadores da seleção, menos Pelé, jogaram com a chuteira de um fabricante. Pelé fez contrato com outro. Aí, surgiu o grande problema. A chuteira do Rei era mais pesada que as dos súditos. Não podia.

O roupeiro da seleção resolveu o problema. Colocou a marca que simbolizava um fabricante na outra chuteira. Os pés de Pelé ficaram mais confortáveis, e o fabricante mostrou seu produto.

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