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Em ano de Copa, a mídia faz dezenas de programas sobre o assunto. Perto e durante o Mundial, quase só vai se falar disso. Muitos acham que todos os brasileiros adoram futebol. Imagine como se sente alguém que não gosta. Deve ter vontade de desaparecer.

Os depoimentos, histórias, imagens e conceitos mostrados nesta época costumam ser os mesmos de todas as copas. Já vi um milhão de vezes Pelé fazer o gol que não foi gol, Garrincha driblar de um lado para o outro, e tantas outras imagens. Os jovens devem achar que Garrincha era apenas um driblador, um bailarino. Ele era também extremamente eficiente.

Ao ver alguns grandes clássicos dos mundiais, na íntegra, com narrações e comentários atuais, são desmistificados alguns conceitos, como o de que havia pouca violência no passado. As partidas entre Brasil e Holanda, em 74, e entre Brasil e Argentina, em 78, foram festivais de pontapés e agressões. Hoje, não terminariam. Quase todos os jogadores seriam expulsos.

O futebol de hoje é mais faltoso e truculento, mas o do passado, por haver menos punições, era mais desleal e violento. Recebi muitas cusparadas e ameaças de que iam quebrar minha perna. Na época, não havia exame antidoping. O uso de "bolinhas", como eram chamados os estimulantes, era mais comum, embora menos sofisticado.

As tevês adoram mostrar Pelé recebendo uma falta violenta de um português, na Copa de 66. A imagem é sempre a mesma. É uma boa desculpa para a derrota do Brasil. Faltas violentas existiram dos dois lados. Portugal venceu porque era melhor.

Dizem sempre que, em 58, os jogadores exigiram a escalação de Pelé. Ele era titular antes do Mun­­dial e só não jogou os dois primeiros jogos porque estava contundido. Contam ainda que o psicólogo, doutor Carvalhaes, barrou Garrincha por achá-lo criança. É uma boa história, nunca confirmada.

Em 66, eu estava presente. Dou­­tor Carvalhaes se divertiu quando Garrincha, ao fazer um teste psicológico, desenhou um homem com um corpo pequeno e com uma enorme cabeça. Antes que alguém fizesse um profundo diagnóstico freudiano, Garrincha disse que era Quarentinha, seu companheiro no Botafogo. Essa história também já foi contada umas mil vezes.

Falam ainda que, em 70, Zagal­lo, pressionado, teve de me escalar, além de Rivellino e Piazza. Não foi bem assim. Perto da Copa, Zagallo ainda tinha dúvidas. Em um amistoso, em Guanajuato, no México, ele colocou os três. Foi a pri­­meira excepcional atuação co­­letiva da seleção. Saímos do campo alegres e conversando. Zagallo nos recebeu com um enorme sorriso. Naquele momento, todos ti­­nham certeza de qual seria o time titular na Copa. Nas­cia uma grande seleção.

Quando alguém tem opiniões diferentes dos chavões, mesmo com ótimos argumentos e informações, é geralmente ignorado. Opiniões de famosos são mais valorizadas, mesmo que eles não entendam e/ou não acompanhem o futebol de perto.

A história não vive somente de informações nem somente de literatura. A realidade, a ficção e os mistérios caminham juntos, no futebol e na vida.

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