• Carregando...

Trajetória da campeã

Fernando Rudnick

O momento de levantar a Copa do Mundo chegou. Para a Espanha a espera foi muito maior do que para qualquer outro campeão. Foram 76 anos de fila desde o Mundial de 1934, na Itália, quando a Fúria estreou no principal torneio de futebol do planeta. Exatamente por isso, o instante em que o capitão Casillas, levantou a Taça Fifa – às 18h18 (de Brasília) deste domingo, 11 de julho de 2010 – nunca mais sairá da memória de espanhóis.

Para chegar ao estádio Soccer City, em Johannesburgo, e vencer a Holanda com um gol de Iniesta no segundo tempo da prorrogação da grande decisão, a seleção espanhola viveu uma gangorra de emoções.

Desembarcou na África do Sul com sua melhor geração de jogadores e favoritíssima à conquista. Dois anos antes, a Fúria havia deixado para trás o trauma de chegar, mas nunca levar. Jogando bonito, venceu a Eurocopa em uma final com a Alemanha - coisa que não fazia desde 1964. Tudo indicava que 2010 seria o ano de La Roja no futebol. O baque, porém, veio quando e de onde menos se esperava.

Na estreia do Grupo H, diante da modesta Suíça, a Espanha se impôs, tocou bola, criou chances. Não marcou. Em um lance, viu Gelson Fernandes estragar tudo. Saiu derrotada de campo. O mundo não acreditou.

O elenco comandado por Vicente Del Bosque precisou recomeçar. Primeiro, bateu a fraca Honduras, com dois gols de David Villa, um dos artilheiros do torneio com 5 gols. Na sequência, derrotou a empolgação do Chile, pelos pés de Villa e Iniesta. Deu sorte e ainda conseguiu ser líder de sua chave, evitando o confronto com o Brasil nas oitavas.

Com toque de bola refinado, ofensividade e o poder de conclusão de Villa, passou pela retranca do histórico rival Portugal. Contra o defensivo, mas bravo Paraguai, nas quartas de final, o camisa 1 da Fúria, Casillas, foi tão decisivo quanto seu artilheiro.

A repetição da Euro 2008 veio na semi. A Alemanha, sensação do Mundial até então, sucumbiu diante do jogo ibérico. No fim das contas, a magia dos meias Xavi e Iniesta só valeu por causa da insistência do zagueirão Puyol.

A derrota no primeiro jogo trouxe lições. As quatro vitórias seguintes, o favoritismo e a confiança de volta. Na sétima partida em solo africano, primeira final em Mundiais, a hora de exorcizar os fantasmas e antigos medos finalmente apareceu. Com a previsão de Paul, o polvo, jogando a seu favor, a Espanha entrou - merecidamente - para o seleto clube de campeões da Copa do Mundo.

Veja o caminho percorrido pela Espanha na Copa do Mundo 2010:

Primeira Fase

16/06 - Durban – Espanha 0 x 1 Suíça

21/06 - Johannesburgo - Espanha 2 x 0 Honduras

25/06 - Pretória – Espanha 2 x 1 Chile

Oitavas de Final

29/06 - Cidade do Cabo – Espanha 1 x 0 Portugal

Quartas de final

03/07 - Johannesburgo – Espanha 1 x 0 Paraguai

Semifinais

07/07 - Durban – Espanha 1 x 0 Alemanha

Final

11/07 – Johannesburgo – Espanha x Holanda

Um título que nunca havia sido conquistado jamais viria facilmente. Ainda mais para uma seleção que sempre teve a fama de fracassar na hora H. Amarelona? Não. Sua cor é vermelha. E o título finalmente veio. Para a torcida da Espanha, pareceu que nunca viria. Noventa minutos que viraram 120. Ou melhor, 115, quando Iniesta estufou as redes e tirou da garganta um grito entalado há uma eternidade.

Uma conquista com direito a 0 a 0 no tempo normal, 1 a 0 sobre a Holanda na prorrogação, desabafos, choro... A primeira Copa do Mundo na África viu nascer o oitavo campeão da história. A partir deste domingo, a Espanha pode botar uma estrela no peito e exibir para o planeta que amarela é a cor da taça na mão dos seus jogadores.

A história dessa nova campeã mundial não começou no Soccer City. No início tinha outro técnico, Luis Aragonés, e quase os mesmos jogadores. O time vencedor da Eurocopa de 2008 transformou a Fúria na seleção a ser batida. O treinador mudou, entrou Vicente del Bosque, voltou a decepção: fracasso na Copa das Confederações, derrota na estreia do Mundial contra a Suíça. Mas O time que melhor toca a bola no planeta deu a volta por cima. E termina 2010 no topo.

O jogo

As duas equipes começaram o jogo com as formações que venceram na semifinal. Assim, Fernando Torres continuou no banco da Espanha e Pedro foi titular no ataque. E o artilheiro David Villa ficou preso entre os zagueiros, com pouca mobilidade. A Laranja contou com sua força máxima, do 1 a 11, com as estrelas Sneijder e Robben presentes.

A Fúria conseguiu ter mais posse de bola, do jeito que gosta, durante os primeiros 90 minutos: 57%. Mas não conseguiu marcar nos 12 chutes que teve, enquanto a Laranja tentou nove. Pela primeira vez desde 1994, quando o Brasil bateu a Itália nos pênaltis, a final terminou com 0 a 0 e foi para a prorrogação.

Com o Soccer City lotado pela segunda vez no Mundial (84.490 torcedores, mesmo público da partida de abertura), Espanha e Holanda fizeram a final com o maior número de cartões amarelos da história: 13. Ainda teve um vermelho para Heitinga, na prorrogação.

Cinco cartões amarelos e poucas chances

Quem esperava o futebol arte se decepcionou nos primeiros 45 minutos. Sabe aquela Espanha que toca bem a bola e a Holanda fatal nos contra-ataques? Não entraram em campo. As duas seleções deram vez a uma faceta mais violenta, que ainda não haviam mostrado na Copa: foram cinco cartões amarelos, sendo que pelo menos um merecia a expulsão - Heitinga deu uma voadora no peito de Xabi Alonso.

A Fúria chegou à partida com 81% de aproveitamento em passes certos. Mas no primeiro tempo teve 75%, errando toques bobos. A Laranja foi bem pior: 55% de acerto. A primeira boa jogada foi espanhola. Sempre perigoso nas cobranças de falta, Xavi cobrou uma na cabeça de Sergio Ramos, que, da marca do pênalti, obrigou Stekelenburg a fazer grande defesa, aos quatro minutos. Aos sete, a Holanda deu o primeiro chute a gol com Kuyt, de fora da área, nas mãos de Casillas.

Pela direita, a Fúria conseguia bons ataques e quase marcou um golaço aos dez: Iniesta achou Sergio Ramos, que entrou na área, pedalou para cima de Kuyt e bateu cruzado, mas Heitinga tirou perto da linha. Um minuto depois, em novo cruzamento da direita, David Villa pegou de primeira de canhota e acertou a rede por fora, fazendo alguns torcedores até comemorarem.

O primeiro cartão amarelo foi para Van Persie, que deu um carrinho em Capdevila. Logo em seguida, Puyol fez falta violenta em Robben e também recebeu o cartão. Aos 22, foi a vez de Van Bommel ser advertido por acertar Iniesta. Mais um minuto, outro amarelo: Sergio Ramos, por levar Kuyt ao chão. O árbitro inglês Howard Webb ainda amarelou De Jong, que foi com as travas da chuteira no peito de Xabi Alonso, quando o holandês merecia um vermelho.

Aos 34 minutos, um lance inusitado quase resultou em gol para a Holanda. Após o jogo parar para atendimento médico, Heitinga resolveu devolver a bola para Espanha e chutou, do seu campo, em direção a Casillas. A bola quicou na frente do goleiro, que teve que se esticar para tocar nela e colocar para escanteio.

O time de Bert van Marwijk passou a gostar mais do jogo e a procurar o ataque na segunda metade do primeiro tempo. De pé em pé, a bola chegou a Mathijsen na área, aos 36, mas o zagueiro furou feio e desperdiçou boa oportunidade. Aos 45, mais uma boa troca de passes e Robben, do bico direito da área, arriscou e acertou o cantinho esquerdo de Casillas, que conseguiu salvar.

Oportunidades claras não tiram o zero do placar

As equipes voltaram para o segundo tempo sem substituições. Com dois minutos, a Espanha tentou sua famosa jogada de escanteio, que faz sucesso no Barcelona e valeu até a vitória na semifinal sobre a Alemanha: Xavi cruzou, Puyol subiu e encostou de leve na bola, mas Capdevila furou na pequena área.

A Laranja apostou nos contra-ataques e chegou duas vezes perto de Casillas. Mas Xavi chegou ainda mais perto do gol: em cobrança de falta aos nove, a bola passou rente ao travessão. Na jogada, Van Bronckhorst recebeu o sexto cartão amarelo do jogo. Aos 11, mais um: David Villa puxou o contra-ataque e levou um carrinho de Heitinga. Webb nem marcou falta, mas depois parou a partida e puniu o holandês.

Aos 15, Vicente del Bosque fez a primeira substituição da partida, mexendo no ataque: tirou Pedro e pôs Navas. Mas quem entrou de verdade no jogo foi Sneijder. Até então sumido, o camisa 10 criou a melhor chance até então: aos 18, o craque acertou um lançamento perfeito para Robben entre dois zagueiros espanhóis. O atacante do Bayern de Munique invadiu a área, cara a cara com Casillas, e chutou, mas a bola bateu no pé do goleiro e foi para escanteio.

Para evitar mais perigo, a Fúria voltou a adotar a tática das faltas. E levou o oitavo amarelo do jogo: Capdevila, por parar o contra-ataque de Van Persie com carrinho. Aos 24, foi a vez de a Espanha desperdiçar a sua melhor oportunidade na final: Navas cruzou da direita rasteiro, Heitinga cortou mal, e a bola ficou com Villa, na pequena área, mas o chute bateu na zaga e foi para escanteio, por cima.

Aos poucos, a Espanha voltou a controlar o jogo. E a velha jogada de apelar para o cruzamento de Xavi voltou a ser utilizada: aos 31, o camisa 8 bateu cruzamento na cabeça de Sergio Ramos, que, livre e de cara para Stekelenburg, concluiu para fora. Um lance parecido ao gol de Puyol contra a Alemanha na semifinal. Robben igualou o placar de oportunidades claras ao ficar novamente sozinho diante de Casillas, aos 38 minutos, depois de ganhar de Puyol na corrida. O goleiro saiu bem e evitou o drible, e o holandês reclamou de forma acintosa de falta do zagueiro, recebendo o nono cartão amarelo do jogo. Com os ataques em um mau dia, os 90 minutos terminaram com 0 a 0.

Iniesta marca e vira o herói

A prorrogação começou com o mesmo panorama da segunda etapa, com gols sendo desperdiçados. Fabregas, que substituíra Xabi Alonso, recebeu ótimo passe de Iniesta e chutou para defesa salvadora de Stekelenburg com o pé. No lance seguinte, foi a vez da Holanda: Casillas saiu mal do gol em cobrança de escanteio, e Mathijsen não aproveitou, cabeceando para fora.

A Espanha chegava com mais frequência e mais perigo. Iniesta tentou um drible em vez de um chute e despediçou boa chance. Jesus Navas preferiu o oposto e concluiu mesmo com Van Bronckhorst à sua frente. A bola bateu nele e na rede pelo lado de fora, arrancando um sorriso do goleiro Stekelenburg.

Os treinadores fizeram suas últimas substituições na tentativas de tirar o zero do placar. Bert van Marwijk pôs Van der Vaart e Braafheid nos lugares de De Jong e Van Bronckhorst, e Vicente del Bosque trocou o artilheiro Villa por Torres. O holandês ganhou um motivo para se preocupar quando o zagueiro Heitinga recebeu o cartão vermelho após falta em Iniesta.

O gol, que teimava em não sair, veio aos dez minutos do segundo tempo da prorrogação. Após jogada valente de Jesus Navas, que correu em direção ao ataque, Fabregas deu passe para Iniesta chutar cruzado e marcar.

Confira como foi a transmissão interativa:

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]