• Carregando...
Jorginho e o primo Éder observam os campos de treinamento do CT do Caju: único camarote da cidade para os treinos da reclusa seleção brasileira | Valterci Santos/Gazeta do Povo
Jorginho e o primo Éder observam os campos de treinamento do CT do Caju: único camarote da cidade para os treinos da reclusa seleção brasileira| Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo

Ambulante se desdobra para chamar a atenção

Genílson Silva da Cruz, de 33 anos, passa o dia em frente ao portão secundário do CT do Caju, acesso de jornalistas e técnicos. Faz de tudo um pouco para chamar a atenção da trupe que acompanha a seleção brasileira às vésperas do Mundial da África do Sul. Controla bola de futebol, de tênis, de gude... Sem deixá-las cair, o que é essencial na vida de um malabarista.

Mas o que Genílson quer mesmo é ganhar dinheiro. Além das embaixadinhas, ele vende café e chá (R$ 1 pelo copo de 200 ml) para complementar a renda mensal – dá expediente no Ceasa como carregador de caixas. Para hoje, promete intensificar o comércio, oferecendo réplicas da camisa do Brasil (sem preço definido) e algumas guloseimas, como o tradicional "churrasquinho de gato". "Está ficando bom. Hoje (ontem, no meio da tarde) já vendi mais de 30 cafés. Para mim, quanto mais gente por aqui melhor", diz ele, vestindo a camisa 10, de Kaká, apenas um dos itens de seu catálogo.

Genílson, porém, terá de contar com uma mãozinha da CBF para melhorar as vendas. Os poucos torcedores que enfrentaram o frio para dar plantão no CT estavam indignados com a ausência de informação – e de contato – da seleção. "Só queremos ver os jogadores, mas eles não deixam", diz Antônia de Lima, 49 anos. "Queria tanto uma lembrança do Kaká. Ele é lindo. É injusto o que fazem com a torcida", emenda na reclamação Cássia Dias.

  • Genílson Cruz faz de tudo em frente ao centro de treinamento: embaixadinhas, negocia café, chá e camisas pirateadas

A seleção brasileira chega hoje a Curitiba, mas, mesmo antes de aportar no CT do Caju, já está me­­xendo com a vida de Jorginho. Não se trata do auxiliar de Dunga, e sim de um vizinho da casa atleticana que, curiosamente, saiu do ano­­nimato apenas por ter uma sacada nos fundos de sua residência.

Jorge Augusto Chmura reside no fim da Rua Lupionópolis, localizada no Sítio Cercado, em uma das entradas da área de confinamento do time de Dunga. E desde que a CBF confirmou a escala em Curitiba, virou estrela. Deu entrevistas para tevê, sites e jornais. Na faculdade, nota que as garotas agora o olham diferente. Ultima­men­­­te, os amigos do curso de Di­­reito tentam repetidamente marcar um churrasco na residência do rapaz para este fim de semana.

O motivo da popularidade repentina é simples. Além da comissão técnica, provavelmente só ele e seus convidados conseguirão assistir aos treinos fechados do selecionado. A varanda do andar de cima da residência, na parte traseira, é uma espécie de camarote para metade dos campos do centro de treinamento. Coincidentemente, os gramados onde ontem estavam sendo instalados os banners dos patrocinadores da seleção.

"Depois que descobriram, quase todos os dias vem alguém falar comigo", conta o adolescente de 17 anos que, pela experiência anterior, pede uma pausa antes da foto para poder trocar de roupa. "Já passei até na tevê. Espero que ajude lá na faculdade", justifica, revelando que se isso servir para atrair as garotas, já está valendo.

Mas, por enquanto, o único garantido na plateia é o primo Éder, de 18 anos. Ele aproveitou a carona para sair na foto e discutia com Jorginho também algumas outras possibilidades de aproveitamento do local. Primeiro, os dois chegaram à conclusão de que, para melhorar a visibilidade, será necessário fazer uma poda na árvore do quintal. Depois, que se o churrasco falhar, talvez dê para conseguir um dinheiro extra alugando o espaço para a imprensa.

"Se souber de alguém, avisa", despede-se o garoto que é apenas um dos exemplos de como a seleção mexeu com a região.

Com a chegada da imprensa, que tomará o lugar dos vários operários que fizeram as melhorias na região, os escassos estabelecimentos comerciais das redondezas esperam manter o lucro por mais, no mínimo, cinco dias.

O restaurante Comida Caseira, que fica a cerca de 100 metros do acesso que terá a mídia ao CT, viu o movimento multiplicado por seis na última semana. De uma média de 25 refeições vendidas diariamente, chegou, ontem, a 150. Já está pensando em, ao menos nesse período, abrir à noite.

Até mesmo as duas lanchonetes da rua resolveram incrementar as vendas. Na do Almeida, os 50 salgados que eram comprados por dia serão triplicados. Já no estabelecimento Pizzaria e Restaurante, que só vendia lanches, deverá incrementar o cardápio com um prato feito bem temperado feito pela proprietária. Se o lugar é simples, ao menos a propaganda é boa.

"De comida eu entendo, pode falar lá para o pessoal", diz dona Zelinda. Mas se você estiver de passagem, não a chame por esse nome, ela é mais conhecida como Baiana.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]