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Bezerrão fica a 40 km de Brasília, no Gama, e foi preterido pelas seleções | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Bezerrão fica a 40 km de Brasília, no Gama, e foi preterido pelas seleções| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Romário apoiou a construção do estádio

  • Os estudantes Higor e Willian gostariam de ver o espaço aberto para a população

Com Romário como garoto-propaganda e um Brasil x Portugal como jogo de inauguração, o governo do Distrito Federal se gabava, em 2008, da construção do novo estádio do Bezerrão. "Com ele, Brasília sai na frente para ser uma das sedes da Copa de 2014", dizia o comercial de televisão sobre a obra.

A ideia vendida pela publicidade oficial era de que o espaço seria fundamental como centro de treinamento das seleções que jogassem na capital do país.

Passados seis anos, o Mundial realmente desembarcou em Brasília, mas graças ao Mané Garrincha, arena mais cara do torneio – custou R$ 1,9 bilhão. Já o Bezerrão não foi utilizado por nenhuma das 12 seleções que visitaram o Distrito Federal . E só. Enquanto o primeiro é um dos mais sérios candidatos a elefante branco após a competição, o segundo vive há tempos uma realidade de "elefantinho".

Modelado no "padrão Fifa", o Bezerrão custou R$ 55,4 milhões (em valores da época), tem 20 mil cadeiras numeradas, câmeras espalhadas por todas as áreas, vestiários individuais para cada jogador e banheiras de hidromassagem. Cravado no coração do Gama, cidade a 40 quilômetros do centro de Brasília, se destaca entre as construções locais. Mas é um espaço público quase sempre fechado à comunidade.

"É muito difícil de entrar [para fazer outras atividades no estádio]. É mais comum ver gente usando o espaço externo do estacionamento", diz Higor Alves Ferreira, 17 anos, estudante de uma escola pública da cidade. "Para mim, sempre foi um elefante branco", complementa o colega William Oliveira, também de 17 anos.

O Bezerrão foi utilizado 16 vezes ao longo da primeira divisão do Campeonato Brasiliense de 2014. Entre vários públicos inexpressivos, um jogo entre Ceilandense e Legião chamou a atenção. Apenas nove torcedores pagaram para ver o confronto.

O estádio não foi suficiente para impulsionar nem a Sociedade Esportiva do Gama, seu principal usuário. Em 2008, o time estava na Série B do Brasileiro. Em 2014, não conseguiu vaga nem para a Série D.

Se foi difícil para o Bezerrão aparecer no noticiário esportivo, no de escândalos políticos a situação é bem diferente. O gasto público de R$ 9 milhões para levar brasileiros e portugueses para a inauguração teve consequências para o então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, e os presidentes da CBF, Ricardo Teixeira, e do Barcelona, Sandro Rossel.

O espanhol era sócio da empresa de marketing esportivo Ailanto, que recebeu o dinheiro sem licitação. O caso veio à tona em 2012, quando foram reveladas ligações entre a Ailanto e Teixeira. O então chefe da CBF teria recebido R$ 705 mil de sócios da empresa. Dois meses após as primeiras reportagens sobre o episódio, Teixeira renunciou ao cargo, que ocupou por 23 anos, e ao assento no Comitê Organizador Local da Copa de 2014.

Envolvido em outro escândalo, conhecido como mensalão do DEM, Arruda foi preso e cassado em 2010. Neste ano, o episódio do jogo de inauguração do Bezerrão o levou à condenação por improbidade administrativa pela Justiça do Distrito Federal.

Em uma reviravolta política, conseguiu se viabilizar novamente como candidato a governador. Já Romário, símbolo do estádio que "abriu as portas" de Brasília para a Copa, elegeu-se deputado federal em 2010 e agora é candidato a senador pelo Rio de Janeiro. Uma das plataformas do ex-jogador é, quem diria, criticar os gastos públicos com o Mundial.

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