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Imagem de Solntsevo, distrito de Moscou: de dia, nada de anormal. A noite pode ser violenta para forasteiros. | Fotos: André Pugliesi
Imagem de Solntsevo, distrito de Moscou: de dia, nada de anormal. A noite pode ser violenta para forasteiros.| Foto: Fotos: André Pugliesi

A meia hora do Estádio Luzhniki, palco da abertura e final da Copa do Mundo 2018 e da Fifa Fan Fest, o point para assistir aos jogos em Moscou, está Solntsevo. Ignorado pelos torcedores, sem apelo turístico, o distrito vizinho ao torneio é o berço da máfia russa.

Na área, com pinta de bairro de classe média baixa, nasceu o principal grupo criminoso do país: a Solntsevskaya Bratva, numa tradução simplória, a “Fraternidade do Sol” (Solntsevo, em russo, significa sol e se escreve солнцево no alfabeto cirílico).

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Surgida nos anos 80, a gangue foi amealhando poder com o debacle da União Soviética a partir dos 90. E, com o tempo, passou a comandar as mais diversas transas ilegais, diretamente da região à noroeste da capital do Mundial.

Lavagem de dinheiro, jogos de azar, tráfico de drogas, armas e mulheres, prostituição, extorsão, assassinatos, roubos, entre outras atividades. Serviços de uma firma de mais de 9 mil membros liderada por um ex-garçom russo chamado Sergei Mikhailov.

O apelidado Mikhas foi rápido e malaco o bastante para aproveitar o vazio de poder e infiltrar-se em todas as instâncias do estado em colapso. Aproveitou os processos de privatização para pilhar as riquezas das ex-repúblicas soviéticas.

Movimentação frenética que contrasta com a calmaria atual de Solntsevo. Nada indica o terror que iniciou ali e se espalhou pelos mares e, principalmente, ares, contando com a proximidade do Aeroporto Vnukovo, um dos três grandes de Moscou. A vida transcorre normalmente.

Não há russos de 1,90m trafegando com metralhadoras kalashnikovs penduradas ao pescoço. O que se vê, em um dia de semana qualquer, são idosos, crianças indo para a escola, comércio aberto, um homem fumando sem camisa na janela, uma mulher surgindo curiosa na sacada.

A paisagem não é opulenta como no ambiente de Copa do Mundo: os estádios cheirando a novo, as fan fests ultraorganizadas, as vigiadas imediações da Praça Vermelha, o shopping ostentação GUM, a impecável Catedral de São Basílio, o chique Arbat.

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Circular pela quebrada da Solntsevskaya Bratva é encarar outra realidade. Especialmente, ao perambular pelo agrupamento de prédios que está no coração do distrito. De cinco andares, datam do início dos anos 90, época em que o país ficou sem grana.

É um cenário de conjunto habitacional, construções que são erguidas fora do centro para iniciar o desenvolvimento de determinado lugar. Caixotes idênticos de cimento que lembram os projects do Brooklyn, nos EUA, ou os prédios que deram origem à Cidade de Deus.

Há grafites em algumas paredes, pichações em outras, intervenções que praticamente não aparecem em Moscou. E carros velhos, abandonados, com destaque para os clássicos Ladas, rodonaves populares fabricadas na Rússia e importados pelo Brasil nos anos 90.

Não há clima de Mundial. Não há o menor sinal da realização do maior evento esportivo do planeta, pela primeira vez no país. Não há torcedores do mundo inteiro em comunhão futebolística. Não há brasileiros posando de irreverentes e sendo solicitados para fotos.

O único pedido é de um zelador, curioso com a movimentação dos forasteiros. Quer tirar uma foto com a credencial para a Copa do Mundo, expedida pela Fifa. É oriundo do Tajiquistão, uma ex-república soviética. Só arranja trabalhos braçais porque não se comunica bem em russo.

Mas é hora de voltar para Moscou. O caminho passa por um dos três anéis viários que cercam a cidade. São avenidas largas, novas e, por causa do Mundial, estão forradas de blitz policiais. O trânsito é caótico.

Complicado como fica Solntsevo à noite, com acesso não recomendável somente para os turistas. A violência, entretanto, não se compara ao Brasil. Os últimos números mostram que a Rússia possui índice de sete homicídios para 100 mil habitantes, contra 27 no Brasil.

O que pega são as turmas de homens que saem pelas ruas para beber e, quem sabe, espancar algum desavisado. São formadas, invariavelmente, por russos que vêm do interior em busca de trabalho e acabam rejeitados por não ter qualificação.

E aí, resta engrossar as fileiras dos skinheads, hooligans e reforçar a linha de frente das organizações criminosas, como a de Solntsevo. As tarefas básicas são aplicar alguns “sustos” e praticar pequenos assaltos, celebrados com talagaços de vodcas e abraços apertados.

Eles são a parte mais visível das máfias russas. Com a tecnologia, os acertos deixaram as ruas e migraram para a internet com o suporte especializado dos hackers. As negociações ocorrem em escritórios espelhados de Moscou City, o centro financeiro, e nos gabinetes do governo.

É mais fácil encontrar um legítimo gangster russo no White Rabbit, badalado restaurante na elegante região de Smolenskaya. Num almoço tranquilo, à mesa com alguma das prostitutas que surgem eventualmente para caçar milionários no bar, na melhor vista panorâmica da cidade. De onde se pode ver, ao longe, Solntsevo.

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