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| Foto: /Jonathan Campos/Gazeta do Povo

No centro do campo, o técnico Roberto Martínez gesticula animado, gira seu apito e depois vai separar bolas para o treino. Não é qualquer gramado: pertence a um centro de treinamento de Copa do Mundo em Moscou onde se prepara a Bélgica, semifinalista do Mundial. Está ali o mesmo treinador que foi contratado um mês após a própria federação do país colocar um anúncio na internet à procura de um profissional para o cargo.

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A trajetória inesperada de Martínez ganhou repercussão mundial quando a Bélgica bateu o Brasil nas quartas-de-final, na última sexta-feira (6). O resultado teve direta participação do técnico espanhol com sua mudança de esquema que desnorteou a seleção ao reforçar a defesa, ao mesmo tempo em que colocava De Bruyne como falso nove e Lukaku pelos lados.

Uma surpresa porque o estilo do treinador foi sempre ofensivo. Mas nem tanto ao se perceber que a ousadia para mudar é uma característica da carreira do treinador.

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Até agora Martínez só esteve no comando de times de porte pequeno ou médio na Inglaterra, como o Swansea City, o Wigan e, mais recentemente, o Everton. Foi no Wigan que o treinador espanhol conseguiu a proeza de ganhar uma inédita FA Cup para o clube em 2013, em confronto com o Manchester City. No mesmo ano, foi rebaixado para a Segunda Divisão com a mesma equipe.

Do Everton, saiu demitido em maio de 2016. Não sem antes ter treinado Lukaku, estrela da seleção belga, que agora joga pelo Manchester United. Talvez esteja aí um dos segredos para a surpreendente contratação de Martínez para dirigir a talentosa geração belga poucos meses depois.

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A URBSFA (sigla para a federação belga de futebol) não parecia muito certa do que queria em julho de 2016 quando colocou em sua página um anúncio com o emprego de técnico. As requisições para o cargo envolviam experiência em um “mundo do futebol que muda rápido” e expertise no uso de ferramentas modernas, entre outros itens. No mês seguinte, Martínez assumiu. Por coincidência, praticamente na mesma época de Tite na seleção brasileira.

Embora sem uma carreira brilhante, o técnico espanhol tinha, sim, um perfil que se encaixava na seleção composta por vários talentos ofensivos. Amigo do ex-jogador Johan Cruyff, já falecido, tinha com ele a afinidade da construção de times que priorizam a posse de bola, jogar, se impor ao rival. Não é à toa, esse estilo de jogar do Barcelona foi criado por Cruyff após estruturar essa base de pensamento no clube nos anos 90.

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Era o ex-jogador holandês um dos maiores apoiadores de Martínez. Os dois sempre conversam e Cruyff tentou leva-lo para o seu Ajax, sem sucesso. Tal era o grau de proximidade que o treinador tornou-se padrinho de uma das netas da lenda holandesa. Prioritariamente, a Bélgica atual joga para ter a bola e agredir o adversário, com exceção da partida contra o Brasil em que se fechou melhor porque se via em inferioridade em relação ao rival.

Ao contrário de Tite, cuja seleção deslanchou de cara, o time belga não evoluiu de forma suave. Em novembro de 2017, após um amistoso decepcionante com o México, De Bruyne afirmava que o time latino-americano tinha sido melhor taticamente e que a Bélgica vinha apostando de mais só em talentos. Mas os resultados estavam longe de serem ruins, tendo obtido 19 vitórias nos seus 25 jogos.

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Na gestão de seu time, Martínez acredita que é preciso criar um sistema de pressão para os jogadores para que eles mesmos se cobrem. “Mas tudo tem relação com a pressão interna. Você precisa criar uma pressão interna que estabeleça certos padrões para o jogador atingir, e pensar que isso vai criar muito mais pressão do que o que vem de fora”, contou, durante a Copa.

Foi o que se viu em até em um leve treinamento na volta aos treinos após o triunfo por 2 a 1 sobre o Brasil. Divididos por coletes, dois grupos de jogadores disputavam a bola em um espaço exíguo do campo.

Mesmo com o treino fechado a jornalistas, era possível ouvir os gritos do auxiliar técnico exigindo atenção e acerto nas movimentações. E os próprios atletas, ora em holandês, ora em francês, também gritavam com colegas para não perder a bola para o grupo rival.

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