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Onaireves e imagens do seu reinado à frente do futebol paranaense. Período de quase três décadas ficou marcado por prisões, amizade com Ricardo Teixeira e construção do Pinheirão | Fotos: Arquivo/ Gazeta do Povo
Onaireves e imagens do seu reinado à frente do futebol paranaense. Período de quase três décadas ficou marcado por prisões, amizade com Ricardo Teixeira e construção do Pinheirão| Foto: Fotos: Arquivo/ Gazeta do Povo

Abril de 2008. Em entrevista coletiva, Onaireves Moura solta o verbo – detona as eleições da Fe­­de­­ração Paranaense de Futebol (FPF), rechaça as dívidas da entidade... Sobra até para o então governador Roberto Requião, por causa da in­­dicação do estádio curitibano para a Copa do Mundo. Era o último ato do cartola-mor do Paraná.

Após aquele rompante, o dirigente esportivo sumiu. O motivo? "Dei baixa no futebol. Me fez muito mal", revela o homem que carregou embaixo do braço a bola do estado durante 22 anos.

Exilado por conta própria em São Paulo, Moura relutou em quebrar o silêncio ao ser encontrado pela reportagem da Gazeta do Povo. No primeiro contato telefônico, limitou-se a responder "não" a todas as perguntas. Na segunda investida para entrevistas (após mais de três anos sem falar à imprensa), acabou topando tratar da nova vida. Fotos? Nem pensar.

Nesse longo período de reclusão, o ex-presidente da FPF abandonou Curitiba e decidiu cortar qualquer vínculo com o passado – mesmo o contato com os familiares é raro. Desenvolveu uma repulsa ao futebol. Diz não acompanhar nada, não gosta de assistir às partidas pela televisão.

Não guarda interesse nem mesmo pelo Pinheirão, símbolo de seu reinado recheado de polêmicas no Tarum㠖 no início do mês os filiados à FPF aprovaram em assembleia-geral a negociação da praça esportiva, que deve ocorrer em breve e provocar a implosão do estádio. "Não quero saber", sentencia.

Mágoa originada no episódio que afastou o estádio do Mundial de 2014, no Brasil. "Fui traído. Ha­­via um compromisso do governo do estado de que o Pinheirão receberia os jogos da Copa. O governador [Requião] foi para o Japão e o [Orlando] Pessuti [vice-governador] mudou tudo. Fiquei sem chão. Joguei todas as minhas fichas nisso", relembra.

Aos 64 anos, ele reside sozinho na capital paulista, onde retomou o ofício anterior à incursão no mundo esportivo, como presidente do Atlético, em 1982. Vende aço para a empresa de um antigo conhecido, dos tempos em que tocava a Mouraço Indústria e Comércio de Ferro Ltda.

"Eu estou reconstruindo a minha vida. Fui à zero. Meu patrimônio acabou. Saí com uma mão na frente e outra atrás. Tive de recomeçar de baixo e hoje estou conseguindo sobreviver", afirma. Ainda em 2007, ele teve a falência da Mouraço decretada. Recente­­mente, perdeu uma chácara na Cidade Industrial.

Sobraram as complicações com a Justiça. "A maioria dos problemas está se encerrando. Espero que logo todos se acabem", declara.

O processo que o levou preso pela terceira vez, em 2007, na Operação Cartão Vermelho, deflagrada pelo Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), segue tramitando na 5.ª Vara Criminal de Curitiba. Moura e outras nove pessoas são acusadas de desvios de dinheiro, fraudes, estelionato e apropriação indébita.

As mais de duas décadas na cartolagem, segundo Moura, não valeram a pena. "Foram 25 anos da minha vida desperdiçados. O futebol é uma cachaça, envolve a pessoa e quando ela percebe, não consegue sair. Se alguém imaginar que é bom negócio está muito enganado. É péssimo. Nem passa pela minha cabeça voltar".

Após quase dez minutos de conversa, Moura se despede. Pelo tom, para sempre.

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