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“Sem fotos, por favor”. Esta foi a única exigência do empresário Carlos Werner, superintendente da base do Paraná e membro do Paranistas do Bem, ao receber a equipe da Gazeta do Povo na sede de Campo Largo da empresa de estruturas metálicas CAW, da qual é dono. Avesso à exposição, Werner conversou com a reportagem ao longo de duas horas.

Discorreu sobre investimentos na base, aporte financeiro, renúncia de Rubens Bohlen, reformulação do elenco e chances de acesso na Série B. Traçou um raio-X do Tricolor e revelou projetos ambiciosos, como a construção de uma arena privada no Boqueirão. Ao final, garantiu que deixa o clube definitivamente em dezembro, para cuidar de problemas de saúde, e que espera reaver o dinheiro que está investindo.

“Se você dá o dinheiro e diz que não precisa devolver, a coisa não tem limites. O dinheiro não aceita desaforo”, ressalta. Confira a entrevista completa.

Os Paranistas do Bem prometeram aporte de R$4 milhões no futebol. A promessa será cumprida?

Teremos que passar disso. Vamos ter que chegar à faixa dos R$6 milhões. Eu banquei os primeiros R$400 mil e outros membros do grupo a segunda cota. Já temos mais duas cotas em nossa conta corrente, vindas de gente que não fazem parte do Paranistas do Bem, mas que nos procuraram para ajudar. Uma delas é o aporte de um pessoal que o Aquilino Romani conseguiu.

Este time vai brigar pelo acesso?

Nosso elenco é para ir para a Série A. Temos reforços, uma mescla interessante da base e uma comissão técnica experiente. Seguimos em formação, mas hoje temos opções. Em novembro vamos precisar de uma pegada de grana. Podemos trazer um jogador a mais, dar uma premiação maior, pode ser crucial para o acesso.

Isso quer dizer que o time do Estadual não serviria para a Série B?

Eu já tinha expectativa de que perderíamos para o Jacuipense na Copa do Brasil. Nosso time estava totalmente enfraquecido. Era um elenco derrotado. Se jogássemos aquela partida com nosso time sub-19 teríamos no mínimo empatado e classificado.

Diante da política de teto salarial de R$20 mil, a saída do Lúcio Flávio foi um mal necessário?

Foi uma infelicidade. Temos orçamento de R$400 mil mensais e não podemos extrapolar. O salário dele, mais os atrasados parcelados, iam nos onerar muito. Mesmo ele saindo, seguiremos pagando a ele o que devemos. Portanto, ele segue na nossa folha mesmo fora do clube.

Muito se fala de que você tem bancado o clube sozinho.

A exposição é algo que me incomoda. Não é verdade. Na entrada do grupo, na transição, ajudei mais. Estava no clube há mais tempo do que os outros e assumi liderança. Tivemos que fazer composições e rescisões de contrato. Naquele momento, fiz essas colaborações. Pagamos rápido para poder aliviar o caixa. Agora só sigo bancando a base. Eu não vivo de juros, como foi comentado.

Você tem investimentos na base com garantias de ressarcimento em passes de atletas, além de outras verbas investidas no clube. Planeja receber estes montantes novamente?

Hoje tenho três mútuos com o Paraná [investimentos que o clube se compromete a devolver]. O primeiro se refere a uma dívida com a Sanepar. O clube devia R$270 mil e eu paguei R$140 mil na negociação, no início do ano.

O segundo diz respeito ao zagueiro Alisson, que está emprestado para o Botafogo. O Paraná recebeu proposta de R$400 mil por 50% dos direitos. No desespero, queriam vender. Eu achei pouco. Então ofereci R$450 mil para o Paraná e, quando o Alisson for vendido, eu recebo essa exata quantia de volta. Se ele for vendido por R$4 milhões, eu só recebo os R$450 mil que investi. Ele é um garantidor do mútuo.

O terceiro é da base, no valor de R$1,7 milhão. Mas esse dinheiro não foi usado somente na base. O clube precisava de investimento. Meu primeiro aporte foi pagar a folha salarial de setembro de 2013, a pedido da diretoria. Como os valores foram aumentando, o clube ofereceu uma lista de atletas como garantia. Não tenho porcentagem de passe, apenas garantia na venda destes atletas. Mesmo caso do Alisson.

Isso indica que a informação de que você não pediria nada em troca dos investimentos não confere.

Não posso chegar e dar R$6 milhões para o Paraná e dizer que não precisa devolver. Os caras vão moer o dinheiro. Então você precisa de um documento que diz que o clube está te devendo. Senão não tem limite. O clube sabendo da dívida fica assustado e não faz dívida maior. Tem que respeitar o dinheiro. Dinheiro não aceita desaforo. Eu não posso dar. Também não vou esfolar ninguém por causa de dinheiro.

Você disse antes da entrada do Paranistas do Bem que não tinha experiência com o futebol profissional. Como está sendo conhecer este mundo?

É um mundo que não precisava ter conhecido. O mundo industrial segue as leis trabalhistas, o mundo do futebol não. O profissionalismo técnico é bonito, mas o financeiro não. Não pagar, empurrar com a barriga. Este é o lado ruim do futebol. Tenho grande paixão pelo esporte, mas é um meio em que não há respeito. Há poucas pessoas sérias, pois aprenderam a viver de forma não séria.

Por falar nisso, o que você achou do Boletim de Ocorrências registrado pelo ex-presidente Rubens Bohlen contra o atual vice de Marketing, João Quitéria?

Não gosto de olhar o passado. O Quitéria tem esse jeito explosivo, mas é graduado, não é um troglodita. A Fúria foi patrocinou o Bohlen, preservou sua vida pessoal. Acho que o episódio foi uma gota d’água para o Bohlen. Ele estava só, sem apoio, não é incompetência. Mas com ele o Paraná não chegaria em abril vivo. Não teria dinheiro nem pra viajar, montar um time.

Você planeja concorrer à presidência em setembro?

Minha colaboração é forte esse ano e não pretendo fazer mais isso. Saio do Paraná em dezembro com certeza. Vou tratar da minha saúde. Eu tenho um câncer. Esse ano deixei de lado o tratamento. Em dezembro, deixo o Paraná. Vou deixar a base e o clube redondinhos, em dia, antes de sair.

Qual o saldo de seu trabalho na base?

Queria deixar sete campos impecáveis, mas não será possível. Se meu empenho fosse só na base, faria no Ninho da Gralha uma sede tão boa quanto a do CT Racco. O Ninho está penhorado, mas se meu foco fosse só a base, certamente iria correndo negociar com o Léo Rabello. Tudo é negociável. É uma questão de credibilidade, de apresentar um projeto. O Rabello é como eu: um visionário, um empreendedor.

O que impediu meu projeto de termos a melhor base do sul do país foi a necessidade de investir no profissional. Mas ainda teremos 70% do time principal oriundo da base.

O presidente Casinha disse que o acordo com a prefeitura por uma nova arena no Boqueirão está longe de acontecer. Qual a saída?

Fazer um built suit, como o Grêmio e Palmeiras fizeram. Achar uma empresa que fizesse o investimento na Vila Olímpica, criar uma arena e ter um arrendamento por 20 anos. O Paraná teria que pagar aluguel mensal e teria opção de recompra nesse período. Esse projeto já existe e foi apresentado. O Paraná precisa de projetos. Minha parada em dezembro é por questão de saúde, mas espero que o clube continue com esses projetos.

Se o Paraná não subir, este investimento do Paranistas do Bem não será mais um ônus futuro para o clube?

Isso é discutível. Esse aporte de R$4 milhões, só dos acordos, da metodologia de pagar em dia, de evitar futuras ações trabalhistas, pela credibilidade, já valeu. Vai ser algo fácil de pagar. Mas não acredito que esses dez paranistas vão querer receber tudo no ano que vem. Esse prazo é flexível. Entregaremos o clube com menor dívida e toda a renda de tevê do ano que vem intacta.

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