• Carregando...
 |
| Foto:

Rio – O Brasil tem condição de abrigar uma Olimpíada? A resposta para a pergunta de um taxista carioca que acompanhou o Pan apenas pelo radinho do carro vai deixar muita gente frustrada. O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, é um deles. Lula colocou o cofre do governo à disposição do Rio de Janeiro. Só não queria passar vergonha. E, se desse, tentaria credenciar o país a ser sede de eventos de maior envergadura, como os Jogos Olímpicos de 2016.

Apesar da contrariedade do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), relutante em aceitar as evidências, o fato é que o Pan 2007 mostrou que o Brasil ainda precisa amadurecer como nação para abrigar a mais importante competição esportiva do planeta. "Perfeito este Pan não foi, mas foi muito bom. Sediar um Pan não dá o direito de ganhar uma Olimpíada. Há muito trabalho por fazer", avaliou Mario Vásquez Raña, presidente da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa).

Rio está na briga pelo evento internacional com Chigaco, EUA, Madri, Espanha, Tóquio, Japão, e Doha, Catar.

Os Jogos revelaram problemas que mancham a candidatura verde-e-amarela. A começar pelas promessas que não saíram das pranchetas, como o metrô que ligaria a zona sul da cidade à Barra da Tijuca. Sem um transporte alternativo eficiente, e que serviria como legado para o município, o jeito foi se espremer entre linhas amarelas e vermelhas para chegar a tempo às competições. A prefeitura municipal até tentou pintar faixas exclusivas para a "família Pan", mas bastou um carro policial dar meia-volta para a ordem virar desordem. Foi um tal de cada um por si e Deus por todos.

Impedidos por barreiras policiais de seguir o itinerário rotineiro, os cariocas se perderam em congestionamentos e caminhos alternativos (muitos deles mais longos) para não se atrasarem. E se o compromisso fosse no horário de pico, entre 17h30 e 20 horas, esqueça. Relaxe e goze...

"Não vejo a hora de o Pan acabar". A frase virou lema para taxistas e motoristas de ônibus. "Gostamos de quase tudo. A estrutura nos pareceu perfeita. Mas para sediar uma edição dos Jogos Olímpicos, o Brasil precisa trabalhar sobre o tema transporte. Às vezes demoramos demais dentro de carros", avaliou o chefe da missão argentina, Mario García.

Os jornalistas também sofreram no quesito transporte. Tudo porque o prefeito César Maia (DEM) resolveu "aumentar" o caminho que liga o Riocentro, onde estava localizado o centro de imprensa, à praia de Copacabana ou ao Complexo Esportivo de Deodoro. Em vez de fazer o trajeto mais curto, os ônibus seguiam o percurso criado pelo poder municipal. "Diz que é só para mostrar as belezas do Rio para os turistas", afirmou um dos motoristas, que pediu para não ser identificado. "Não entendo como tem transporte do Maracanã até o hotel reservado para a imprensa em Copacabana e não tem do Maracanã até o hotel da Barra. Perco mais de uma hora nesta brincadeira", criticou o jornalista porta-riquenho Alan Obrador, do diário El Vacero.

O carimbo da desinformação também ficará grudado no rosto do solzinho Cauê, mascote do Pan. Pobres voluntários. Mal treinado, o grupo não sabia solucionar problemas. Tudo ficava para depois. Até que a paciência terminasse.

A baixa presença de público nos ginásios, por causa do alto valor dos ingressos, e o comportamento da torcida, como na confusão com a equipe de judô de Cuba, fecham a série do que deu errado no evento brasileiro.

Há, porém, virtudes que merecem ser exaltadas. Temor número um do turista que coloca os pés na Cidade Maravilhosa, a segurança passou com louvor no teste. Os 18 mil homens, entre policiais federais, militares, civis e mais a Força Nacional de Segurança, deram conta do recado sem sustos.

Outro aspecto interessante diz respeito aos palcos esportivos. Ao contrário da Cidade do Rock, que literalmente chafurdou na lama nas disputas de beisebol e softbol, a Arena Olímpica, o Parque Aquático Maria Lenk, o Maracanãzinho e o Estádio João Havelange encheram os olhos dos atletas. "Tudo muito bom, perfeito. No mesmo nível dos ginásios da Olimpíada de Atenas (2004)", elogiou a paranaense Natália Falavigna, medalha de prata no tae kwon do.

Contudo, para erguer estruturas de primeiro mundo, o orçamento do Pan saltou de R$ 409 milhões para a casa dos R$ 4 bilhões. Muito do dinheiro, desviado de setores importantes como saúde, educação e crise aérea, saiu da conta das diferentes esferas governamentais diretamente para o bolso das empreiteiras, em forma de aditivos contratuais, sem a necessidade de licitação. "Você já foi a outros Pans? Então não deve saber que todas as competições anteriores tiveram problemas", resumiu Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, num curtíssimo diálogo que travou com a imprensa na sexta-feira passada, durante a disputa da ginástica rítmica.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]