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Felipão no jogo da “fuga”: derrota em casa para o Juventude | Rubens Vandresen/ Arquivo Gazeta do Povo
Felipão no jogo da “fuga”: derrota em casa para o Juventude| Foto: Rubens Vandresen/ Arquivo Gazeta do Povo

O Couto Pereira foi o cenário da maior vergonha do currículo de Luiz Felipe Scolari. Também o de um capítulo importante da sua maior glória. E é o estádio em que o técnico mais bem pago do país pode dar uma nova guinada na carreira. Um impulso capaz de levá-lo novamente ao banco da seleção brasileira em uma Copa do Mundo.

Felipão estava no Kuwait quando o Coritiba foi buscá-lo, em setembro de 1990. O clube atravessava uma profunda crise financeira e técnica. O fechamento dos bingos no estado e o confisco da poupança pelo governo federal esvaziaram os cofres alviverdes. Dentro de campo, o time caminhava rumo à Série C. Paulo César Carpegiani foi demitido. Ênio Andrade, Edu Coimbra, Antônio Lopes, Levir Culpi, Sérgio Cosme, Valdir Espinosa e Jorge Vieira foram cogitados. Nenhum deles acertou. Levir indicou Felipão e o ex-zagueiro topou. "Não pretendo impedir que a equipe dê shows, mas não abro mão da competitividade, do futebol com garra", discursou logo na apresentação.

A busca por esse time brigador resultou no afastamento dos leves Tostão e Pachequinho, craques do time e ídolos da torcida. "Ele estava muito nervoso, na preleção só falava dos outros times, brigou com jogador em campo", relembrou Tostão. "Era uma barca. O clube não tinha dinheiro, uma fumaça danada", reforçou Bonamigo, volante daquele time.

O Coxa perdeu os três jogos com Felipão: 2 a 0 para o Juventude e 4 a 0 para o Joinville fora; 2 a 0 para o Juventude no Couto Pereira. É desse último tropeço que vem a mais famosa história da passagem do técnico. "Ele buscou a mala no vestiário e atravessou o gramado. O tempo foi passando e ele não voltava, aí fomos atrás. E descobrimos que ele tinha subido no ônibus do Juventude e voltado para Caxias do Sul", contou o então presidente coxa-branca, João Jacob Mehl. "Ele nunca voltou nem para receber o que o clube lhe devia", acrescentou o ex-dirigente.

Não voltou para receber nem pôs no currículo. O descritivo da sua carreira pula direto do Kuwait para o saudita Al-Shabab. A conquista mais expressiva, a da Copa do Mundo de 2002, está em destaque, claro. Um título irrepreensível, com sete vitórias e duas escalas em Curitiba.

A família Scolari passou duas vezes pela capital paranaense em 2001. Primeiro, ficou no CT do Caju treinando para o jogo com o Paraguai, pelas Eliminatórias, em Porto Alegre. Voltou em outubro, para enfrentar o Chile no Couto Pereira. A forte pressão sobre a seleção, quarta colocada nas Eliminatórias, fez Felipão determinar um regime de clausura nas duas estadas.

O treinador deixou o CT apenas duas vezes para fazer algo que não fosse treinar o time. Em agosto, foi à Arena observar Kléberson, Nem e Alex Mineiro na vitória por 4 a 0 sobre o Flamengo. Neste jogo que o Xaropinho começou a cavar sua convocação.

Em outubro, participou de um jantar na casa do presidente rubro-negro Marcus Coelho, preparado pelo próprio dirigente e regado a muito vinho. Cerca de 20 pessoas participaram do encontro, a maioria da diretoria atleticana. "Um deles pediu que o Felipão levasse um jogador nosso para a Copa. Cortei dizendo que naquela noite não se falaria de seleção", conta Roberto Karam, então relações públicas do clube e cicerone do treinador.

O encontro atiçou a diretoria alviverde, que foi à Federação Paranaense de Futebol (FPF) reclamar que o Atlético estava usando a presença da seleção no Caju para fazer lobby. O Brasil derrotou o Chile por 2 a 0, no Couto Pereira lotado mesmo debaixo de chuva, gols de Rivaldo e Marcelinho Paraíba. A partir dali, a equipe fixou-se no grupo de classificação para a Copa do Mundo vencida no ano seguinte.

Felipão trocou o Brasil por Portugal logo depois do Mundial. Em seis anos, levou os lusitanos a uma final europeia e uma semifinal de Copa. Depois, não conseguiu domar o arisco vestiário do Chelsea e venceu a inexpressiva liga usbeque antes de retornar ao Palmeiras, em 2010.

Mesmo com o maior salário entre os técnicos brasileiros – 3,6 milhões de euros por ano, segundo o site Futebol Finance –, não conseguiu dar um título ao clube paulista. Ainda colecionou fracassos, com a eliminação dentro de casa pelo Goiás, na Sul-Americana de 2010, e o acachapante 6 a 0 para o Coritiba, na Copa do Brasil do ano passado.

Hoje, volta ao Couto Pereira para encerrar um jejum de quase três anos sem título. Uma conquista que faria dele a maior sombra para Mano Menezes na seleção, ainda mais caso cumpra a promessa de não renovar com o Palmeiras no fim do ano. Ele se juntaria a Flávio Costa, até hoje único técnico a comandar o Brasil dentro de casa em uma Copa. Mais um episódio para fazer Felipão não se esquecer do Couto Pereira.

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