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Arena Amazônia (esq.), Estádio Nacional de Brasília (dir, acima), e Arena Pantanal, em Cuiabá: cenário sombrio. | Fotos Públicas e Secopa/
Arena Amazônia (esq.), Estádio Nacional de Brasília (dir, acima), e Arena Pantanal, em Cuiabá: cenário sombrio.| Foto: Fotos Públicas e Secopa/

Passada a euforia pela realização da Copa do Mundo no Brasil, o ano de 2015 confirmou o que já se previa antes mesmo de seleções e craques pisarem os gramados. Dos 12 estádios erguidos para o Mundial de 2014 no país, oito deles se tornaram elefantes brancos de concreto e aço.

Obras que explodiram seus orçamentos, possuem custo elevado de manutenção e, embora tenham sido elaborados como espaços multiuso, apresentam pouca utilidade para o futebol e a população da cidade. São símbolos de projetos mal planejados, desorganização e, consequentemente, desperdício de dinheiro.

As sete praças esportivas podem ser divididas em duas categorias. Casos mais graves: Estádio Nacional (Brasília), Arena Pantanal (Cuiabá) e Arena Amazônia (Manaus). E casos graves: Maracanã (Rio de Janeiro), Arena das Dunas (Natal), Arena Pernambuco (Recife), Fonte Nova (Salvador) e Castelão (Fortaleza).

Os políticos que avalizaram esses estádios [Brasília, Cuiabá e Manaus] deveriam vir a público e falar em implodir todos eles. Pensando em longo prazo, seria mais barato do que arcar com a manutenção. Agora, é claro que ninguém quer assumir esse desgaste político

Amir Somoggi,  consultor de marketing e gestão esportiva

Em comum entre os “elefantes”, o fato de não terem um “dono histórico”, como ocorre com os outros quatro estádios que foram sede da Copa. São eles Arena da Baixada (Atlético), Itaquerão (Corinthians), Beira-Rio (Internacional) e Mineirão (Cruzeiro) – grupo que também enfrenta, em menor escala, dificuldades financeiras.

Somente em 2015, os três mais problemáticos – estádios de Brasília, Cuiabá e Manaus – deram prejuízo multimilionário. As três construções são públicas, estão localizadas em centros de nenhuma tradição no futebol nacional e torraram aproximadamente R$ 18,2 milhões a mais do que arrecadaram ao longo do ano.

“Os políticos que avalizaram esses estádios deveriam vir a público e falar em implodir todos eles. Pensando em longo prazo, seria mais barato do que arcar com a manutenção. Agora, é claro que ninguém quer assumir esse desgaste político”, comenta Amir Somoggi, consultor de marketing e gestão esportiva.

De acordo com Somoggi, é inviável reverter o caso dos três: “Não há um modelo de negócio possível para gerir esses estádios adequadamente. Não há sequer futebol local, organização esportiva. Nenhum plano, nada pode amenizar o que é gasto. A África do Sul [sede da Copa de 2010] assumiu o prejuízo e até hoje está pagando”.

Esses estádios [Maracanã, Arena das Dunas, Arena Pernambuco, Fonte Nova e Castelão] foram construídos sem ter sido feito um planejamento operacional. Pensaram apenas em construir arenas multiuso. Mas como operar? O que fazer com esses espaços? Nunca foi pensado. É sem dúvida alguma a principal falha

Andressa Rufino, especialista em marketing e autora do livro Arena Multiuso – um novo campo de negócios

Os outros cinco “elefantes” são menores. Maracanã, Arena das Dunas, Arena Pernambuco, Fonte Nova e Castelão também são deficitários e apresentam problemas sérios de gestão – com os consórcios, clubes etc. Mas são estádios que, com vontade política e ação de profissionais, têm chances de reverter o cenário atual.

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“Esses estádios foram construídos sem ter sido feito um planejamento operacional. Pensaram apenas em construir arenas multiuso. Mas como operar? O que fazer com esses espaços? Nunca foi pensado. É sem dúvida alguma a principal falha”, aponta Andressa Rufino, autora do livro Arena Multiuso – um novo campo de negócios.

Para a especialista em marketing esportivo, a solução mais simples é apelar para a iniciativa privada. “Não é o ideal, mas é o caminho mais lógico. Entregar para profissionais que conheçam o mercado, que saibam projetar não apenas um calendário de eventos, mas a viabilidade da própria arena, sem imediatismo”, sugere Andressa.

Veja os números financeiros de 2015 dos três estádios mais problemáticos erguidos para a Copa do Mundo. No total, prejuízo de R$ 18,2 milhões:

1) Estádio Nacional, em Brasília

Rui Faquini/Portal da Copa/Fotos Públicas

Custo da obra:

R$ 1,4 bilhão

Manutenção:

R$ 7,2 milhões

Arrecadação:

R$ 1,6 milhão

Prejuízo:

R$ 5,6 milhões

A praça esportiva na capital federal foi a mais cara da Copa do Mundo de 2014, custou mais cerca de R$ 1,4 bilhão. Sem futebol local forte, o governo local luta para minimizar os prejuízos de operação e planeja ceder para a iniciativa privada o espaço que receberá eventos da Olimpíada 2016.

“Fui contra a construção do estádio, mas esse discurso já venceu. Precisamos agora encontrar alternativas para uma operação estável”, afirma Jaime Recene, secretário de Turismo do Distrito Federal, pasta responsável pela gestão do estádio.

No início de 2015, o governo transferiu três secretarias (Economia, Desenvolvimento Humano e Social e de Esporte e Lazer) para as dependências do Mané Garrincha, nome anterior do lugar. A manobra poupou R$ 14 milhões ao longo do ano.

“Considerando jogos e eventos, o estádio é deficitário. Mas estamos buscando reforçar o calendário de eventos e trazer mais partidas. Realizamos 60 atrações em 2015 e o objetivo é aumentar esse número”, diz Recena.

2) Arena Amazônia, em Manaus

Jose Zamith de Oliveira Filho/Portal da Copa/Fotos Públicas

Custo da obra:

R$ 650 milhões

Manutenção:

R$ 9,3 milhões

Arrecadação:

R$ 719 mil

Prejuízo:

R$, 8,6 milhões

A sede da Copa do Mundo no Amazonas recebeu em 2015 apenas nove eventos. Foram sete partidas e duas atrações culturais, que ocorreram na parte externa da praça esportiva. Aproveitamento ruim que o governo do estado pretende minimizar em 2016.

“Enfrentamos um cenário difícil do país. Mas estamos planejando para equacionar todas as questões da melhor forma possível. Queremos trazer mais atrações para a arena, visando diminuir os prejuízos”, conta Ricardo Marrocos, secretário-executivo da Secretaria de Estado da Juventude, Desporto e Lazer (Sejel).

Da mesma forma que Brasília, Manaus será sede de jogos de futebol da Olimpíada 2016, com sede principal no Rio de Janeiro. Participação que implicará em novos gastos. Além disso, o Comitê Olímpico não oferece nenhum tipo de “aluguel” pelo espaço.

“A contrapartida está no turismo. E isso é um trunfo que nós temos, por ser um estádio na Amazônia. Pretendemos capitalizar ainda mais e atrair as pessoas e amistosos de outros times para a arena”, comenta Marrocos.

3) Arena Pantanal, em Cuiabá

Secopa

Custo da obra:

R$ 676 milhões

Manutenção:

R$ 7,2 milhões

Arrecadação:

R$ 3,2 milhões

Prejuízo:

R$ 4 milhões

Dos três estádios localizados em praças de pouca representatividade no futebol, a Arena Pantanal é o que teve mais utilização em 2015. Recebeu 160 eventos, mas, mesmo assim, acumulou prejuízo de cerca de R$ 4 milhões.

A alternativa encontrada pelo governo do Mato Grosso foi assumir integralmente as despesas para ver o local ocupado constantemente. Por exemplo, não cobrar aluguel dos clubes do estado para atuar na praça esportiva.

“Fizemos uma parceria com o governo. Conseguimos reduzir muito o custo de operação do estádio, e utilizar apenas alguns setores, para minimizar o impacto da utilização”, diz João Carlos de Oliveira, presidente da Federação Mato-grossense de Futebol (FMF).

Em 2015 foram jogadas 68 partidas na Arena Pantanal, do Campeonato Estadual, das quatro divisões do Brasileiro e da Copa Verde. O custo com a abertura do estádio para partidas locais é de cerca de R$ 8 mil.

O entorno do estádio serve ainda como espaço de lazer para a população, com a prática de corrida, caminhada, pista de bicicleta e skate. Atrações culturais também são realizadas no espaço, sem a cobrança de ingressos

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