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Vágner recebe atendimento no gramado da Vila após o choque de cabeça com Charuto, do Sport. | Arquivo GRPCOM/
Vágner recebe atendimento no gramado da Vila após o choque de cabeça com Charuto, do Sport.| Foto: Arquivo GRPCOM/

Nesta segunda-feira (20), completam-se 25 anos da morte do zagueiro Vágner, do Paraná. Além da dor pelo fim trágico do jogador, vitimado a partir de um lance de jogo, a família do primeiro capitão paranista ainda sofre, tanto tempo depois, para receber a indenização estabelecida pela Justiça.

No dia 15 de dezembro de 1995, o juiz Valter Ressel, da 16ª Vara Cível de Curitiba, julgou inadequada a conduta dos médicos que atenderam o atleta: André Luiz Oliveira, do Paraná, e Inolan Guiginski de Oliveira, do Hospital Evangélico. E determinou que as duas instituições arcassem com a reparação financeira.

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“O pagamento foi cumprido por 10 anos, mas nunca chegava direitinho. Havia uma cláusula que o atraso não poderia alcançar três meses, então quando estava próximo de vencer eles pagavam. Ainda estamos lutando”, revela Renata de Souza Antunes, 55 anos, viúva de Vágner.

De acordo com os advogados da família, a dívida atual é de cerca de R$ 610 mil. Evangélico e Paraná foram condenados à época a pagar solidariamente pensão mensal de 10,9 salários mínimos até 2019, quando Vágner completaria 65 anos. Além de dano moral de 500 salários mínimos – este já pago.

Luis Ricardo Berleze, vice-presidente jurídico do Tricolor, nega o débito. “O Paraná pagou a parte que devia, honramos integralmente. O Evangélico que não pagou e o processo está em discussão. A viúva queria que a gente pagasse por ser solidário”.

No contato com a reportagem, o paranista disse que iria verificar a situação. Entretanto, procurado por dois dias depois, não atendeu às ligações.

O hospital, por sua vez, falou via assessoria de imprensa: “O Hospital Universitário Evangélico de Curitiba tem procurado cumprir em dia os pagamentos de pensão à viúva do jogador . Nunca deixamos de atendê-la”.

Conflito sobre um caso que chocou o esporte. Vágner desembarcou na Vila Capanema como uma das principais contratações do clube recém-fundado, fusão entre Colorado e Pinheiros. Com passagem por Palmeiras e Botafogo, logo se tornou referência do elenco novato.

Com apenas quatro meses de existência, o Tricolor perderia seu capitão. Em 14 de abril, o Paraná enfrentava o Sport Campo Mourão, pelo Estadual, na Vila Capanema. Escanteio, a bola foi alçada, Vágner saltou e se chocou com Charuto, defensor do adversário.

O camisa 6 despencou estirado no gramado, urrando de dor. Foi imobilizado pelos médicos, substituído pelo técnico Rubens Minelli e encaminhado ao Hospital Evangélico. Seriam seis dias de desespero até o diagnóstico fatal.

Drama que jamais será esquecido. “A passagem do tempo nesses 25 anos só foi cronológica. Para mim e para os meus filhos, não ter o Vágner é um buraco em que entramos e não sairemos nunca mais”, desabafa Renata.

Logo após a perda do marido, Renata voltou com os filhos, Wágner e Tayanne, para o Rio de Janeiro. Trabalhou em uma agência de viagens e, logo em seguida, conseguiu emprego em um hotel de Copacabana. Mora em Jacarepaguá, zona oeste, com o filho.

“Não fosse pela força da minha mãe, não sei como seria”, comenta Wágner, 30 anos, analista de projetos. Tayanne tem 33 e é analista financeira.

Da passagem por Curitiba, a família do Bacharel, como Vágner era conhecido, guarda ainda a amizade com um dos companheiros do jogador no Paraná, Pedrinho Maradona. “Joguei com ele no Guarani, tínhamos uma amizade forte. A Renata é madrinha da minha filha. Sem o nosso líder, perdemos o rumo”, recorda o ex-jogador.

Procurado, André Luiz de Oliveira, um dos médicos do caso, comentou: “O que aconteceu foi uma fatalidade, que infelizmente deparamos no exercício da nossa profissão”.

Cronologia

Relembre os principais momentos do caso Vágner Bacharel

1990

14/4 - Ao disputar uma bola no alto, Vágner leva uma cabeçada do defensor Charuto, do Sport Campo Mourão. O jogador cai desacordado e depois reclama de fortes dores de cabeça. É atendido pelo médico do Paraná, André Luiz Oliveira. O jogador foi imobilizado e conduzido ao Hospital Evangélico. O diagnóstico foi de traumatismo cervical e o tratamento iniciado.

16/4 - Vágner recebeu alta médica, decidida pelo médico do Tricolor, André Luiz Oliveira, e supervisionada pelo médico do Evangélico, Inolan Guiginski de Oliveira, ambos ortopedistas. O atleta foi para casa, onde continuaria o tratamento, utilizando o colar cervical. No mesmo dia, voltou para o hospital, por causa de fortes dores de cabeça e vômitos. A partir deste momento, ficou aos cuidados do neurologista Charles London. Após exame tomográfico, foi constatada uma fratura no crânio.

17/4 - Devido ao agravamento do quadro, Vágner foi transferido para a unidade de terapia intensiva (UTI).

19/4 - Após novo exame, e a piora do quadro, o jogador foi transferido à pedido da família para o Hospital Cajuru. Às 19h30 foi constatada a morte cerebral de Vágner.

20/4 - Às 9 horas o hospital noticiou que o atleta havia sofrido parada cardíaca irreversível.

23/4 - Começam as investigações sobre o caso. É aberto um inquérito policial e outro administrativo pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná. A família do jogador inicia o processo de ação indenizatória na Justiça.

1991

Dois dos três médicos envolvidos no caso são condenados pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná. André Luiz de Oliveira recebeu a pena de censura pública, e Inolan Guiginski de Oliveira censura confidencial. Charles London foi absolvido.

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