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O dirigente Paulo César Silva  movimentou o Paraná fora e dentro de campo:  “Mas provoquei  ciúmes em algumas pessoas.” | Fotos: Edeson Alves/ Gazeta do Povo
O dirigente Paulo César Silva movimentou o Paraná fora e dentro de campo: “Mas provoquei ciúmes em algumas pessoas.”| Foto: Fotos: Edeson Alves/ Gazeta do Povo

Paulo César Silva chegou ao Pa­­ra­­ná depois da derrota para a Portuguesa, por 6 a 1, humilhação que culminou na saída do técnico Marcelo Oliveira e pôs a equipe na rota da Terceira Divi­­são. Pouco mais de um mês de­­pois, ele pode vangloriar-se de ter tido papel importante na permanência do Tricolor na Série B. "Não fui o salvador, fiz a minha parte apenas. O [técnico Roberto] Cavalo e os jogadores merecem o reconhecimento", diz o empresário curitibano, 55 anos.

Em entrevista exclusiva à Ga­­zeta do Povo, concedida na Vila Capanema, "Paulão", como é cha­­mado no clube, relembra suas outras passagens pela bola, dos bastidores do retorno ao Tricolor e, para o futuro, embora não deva permanecer no clube, aposta: "Seremos uma surpresa agradável para 2011".

Como você iniciou na bola?

Comecei no Pinheiros, o Érton Coelho Queiróz [que dá nome ao estádio do Boqueirão] era meu tio. Em 84, o Pinheiros estava em uma situação difícil e me chamaram para ajudar. Mas meu negócio era o social. Cheguei e chutei o balde, literalmente, combinei com o massagista. Um time daquele porte não poderia estar numa nhaca. Acabamos campeões paranaense.

Depois voltou em 1996...

Fui convidado pelo Ernani Buchmann [então presidente] para ser diretor de futebol. O salário estava atrasado, mais do que hoje. Nosso time tinha Régis, Gil Baiano, Edinho, Marcão, Clau­­dinho, Saulo, um timaço. Falei de superação. Fechamos o grupo e fomos tetracampeões.

Esse mesmo tom motivacional você usou agora?

Falei de superação, compromisso, lealdade e, principalmente, amor. Fiz uma preleção no jogo com o Coritiba, falando do emocional, e o [Roberto] Cavalo, um baita treinador, fez a parte tática. Deu certo e todo mundo gostou.

Como foi o teu retorno agora?Fui chamado pelo médico do clube, Arnaldo Reis. Ele disse que o Paraná iria para a Terceira Di­­visão, que estava devendo, o Ara­­mis [Tissot] estava doente. Não aceitei. Depois fui em uma reunião na casa do Aquilino [Romani, presidente do Tricolor] e ele perguntou se eu era mesmo paranista. Aceitei, mas disse que faria do meu jeito e que eles teriam de pagar os salários.

Que jeito é esse?

Olho no olho. Sou coração. O jo­­ga­­dor quer sinceridade. Foi possível ajeitar a questão financeira?Não é vergonha dever. Mas é preciso dar satisfação. Se o Paraná não iria pagar o jogador, não contratasse. Se contratou, pague.

Um dos problemas na tua chegada foi o caso do volante Luiz Camargo...

Um diretor queria que nós multássemos ele, pois antes do jogo com a Portuguesa, ele não gostou de ser sacado. Multa de 30% do salário. Perguntei se o pagamento estava em dia. Não estava. Então eu disse, "finjo que multo e você finge que paga o salário".

Por que o Paraná chegou nessa situação?

Não é culpa do Aquilino. Vem desde o afastamento daquele presidente [José Carlos de Miranda]. Eu disse que o Paraná ia pagar um preço muito alto..

Como vencer essa dificuldade?

O Paraná é grande, não pode ficar dependente de apenas seis, sete pessoas. É preciso união.

Como é tua relação com a diretoria?

Temos nossas discussões, mas somos amigos. Não há diretoria rachada. São pessoas voltadas para o Paraná. Mas provoquei ciúmes em algumas pessoas.

E com os empresários?

Veio um querer tirar vantagem do clube. Até fui grosso com ele e me arrependo. Ele queria 50% dos direitos federativos de um jogador que despontou. Falei que quando voltasse para a sala não queria vê-lo mais.

Como você vê a torcida?

Fui saudado pela torcida no jogo com o Coritiba, só isso já valeu a minha vinda. A torcida é grande, mas está magoada pelas más administrações. O torcedor não é bobo.

Alguns jogadores e até o técnico Roberto Cavalo pediram a tua permanência para 2011. Você fica?

É difícil. Não sou profissional, sou um amador, eu pago para ser di­­retor aqui. E minha família pediu para eu me retirar.

Você disse que fará uma foto desse time, como será isso?

Vou fazer uma foto deles no gramado da Vila Capanema. Podem me perguntar, por que fazer essa foto? Se não foi campeão, esse ti­­me teve a coisa mais importante, que é dignidade.

Você acredita que o Paraná po­­deria ter subido?

Só não disputou o G4 não por fa­­lha dos jogadores, mas de direção.

O que você projeta do Paraná pa­­ra o ano que vem?

Montar uma espinha dorsal com experiência e trazer os moleques. Precisamos disputar o título do Campeonato Paranaense, para resgatar a auto-estima. E tem de subir para a Série A com condições de ficar. Acho que seremos uma surpresa agradável para 2011.

O Kelvin fica?

Deveria. O clube precisa de ídolos. Mas não podemos ser hipócritas. Ninguém consegue segurar um jogador com essa qualidade por muito tempo.

Fora do futebol, o que você gosta de fazer?

Gosto de cinema, música também, sou fã do Roberto Carlos e do Julio Iglesias. Sou evangélico, minha mulher é pastora.

Já pensou em seguir o caminho dela?

Não, o meio do futebol tem pessoas sérias, mas muita gente safada.

Como foi a tua passagem pela Federação Paranaense de Fute­­bol? Você trabalhou na época do Onaireves Moura. Pode falar a respeito...

Fiquei dois anos, no início dos anos 90. Não o conhecia. Ele disse que nunca se meteria no futebol. Foi um relacionamento profissional. As coisas que aconteceram, com o grupo dele, não me envolvi. Pagou pelos próprios erros. Ele não é burro, é inteligente, mas usou a inteligência para outros fins.

Você passou pela CBF também...

Fui convidado pelo Ricardo Tei­­xeira, como relações públicas. Via­­jei com a seleção, observei, no tempo da Copa do Mundo de 1994. Ganhei um título de benemérito, posso ir a qualquer estádio no Brasil.

Por que deixou a entidade?

Fui convidado para ficar, remunerado. Mas tinha que trocar Curi­­tiba pelo Rio de Janeiro. Não troco a minha cidade. Fiz a escolha certa.

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