• Carregando...
Guilhermina Guinle no papel da socialite Alice, em "Paraíso Tropical" | Reprodução www.globo.com/paraisotropical
Guilhermina Guinle no papel da socialite Alice, em "Paraíso Tropical"| Foto: Reprodução www.globo.com/paraisotropical

Falta de apoio mina projetos e sonhos de Niclevicz

A falta de apoio e patrocínio no esporte brasileiro não é nenhuma novidade. Se em modalidades mais reconhecidas e com história no país, como vôlei e basquete, a dificuldade existe, em outros esportes ela se agrava. "Estou há dois anos sem patrocínio. Ultimamente escalei montanhas na Groelândia, no Ártico e na Austrália sem apoio. Não existe patrocínio ao esporte no Brasil, tirando o futebol. Acho que é um problema cultural, brasileiro não tem hábito de praticar esportes e, erroneamente, alpinismo é mais desconsiderado ainda como esporte", lamenta.

Uma dos projetos mais aguardados pelo paranaense é escalar três montanhas na Geórgia do Sul, que fica na Antártida. Ninguém menos do que o velejador Amir Klink iria levar Niclevicz até lá, já que tem profundo conhecimento da área. A expedição, porém, tende a naufragar pela dificuldade de obter apoio. "As empresas acham que não tem apelo apoiar escalas por montanhas pouco conhecidas. Agora se você chegar para um suíço, um inglês, um italiano, e falar que quer alcançar o topo de determinada montanha, ele primeiro vai achar que você tem capacidade, e depois considerará seriamente o patrocínio. Em lugares de tradição é assim".

E nem a imprensa escapa das críticas. "É um problema cultural e a mídia contribui, não só a brasileira. Aqui é apenas mais acentuado. Geralmente, quando volto de algum lugar, me perguntam se alguém morreu, querem saber de algum drama para então divulgar isso. É um pouco ingrato, e afeta a visão dos patrocinadores. Também existe o problema de alguns alpinistas passarem a imagem de ‘heróis’, mas eles não é verdadeiro", assegura.

Prestes a se formar em Turismo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e sem nenhuma bagagem expressiva como alpinista, o ano de 1987 para o paranaense Waldemar Niclevicz foi decisivo para o futuro que o aguardava. Logo em sua primeira aventura, em uma montanha do Rio de Janeiro, por pouco a carreira de 20 anos dedicados às expedições não foi abreviada.

"Cai de uma altura de 12 metros, e este foi o meu único acidente grave. Fiquei duas semanas imobilizado em um hospital. Isso fez com que eu entedesse as minhas limitações, porque na época eu me sentia destemido, por ter habilidade em subir pelas paredes. A partir dali passei a respeitar a montanha", revela Niclevicz, em entrevista à Gazeta do Povo Online.

Ele não sabia, mas oito anos depois, ao lado de Mozart Catão (morto em uma escalada no Aconcágua, em fevereiro de 1998), a conquista do Everest, a maior montanha do mundo com 8.848 metros, colocaria o nome Waldemar Niclevicz como referência no alpinismo brasileiro. "Eu e o Mozart escalamos juntos o Everest, mas não éramos amigos íntimos. Também já subi montanha com o Vítor Negreti, e a situação era a mesma", comenta, relembrando que a primeira tentativa de conquistar o Everest, em 1991, acabou frustrada. Entretanto, em 2005, comemorando os 10 anos da mais conhecida escalada da carreira, Niclevicz voltou a conquista o pico, ao lado de Irivan Gustavo Burda.

A primeira conquista do Everest rendeu um livro, "Everest, o diário de uma vitória" (222 páginas, Editora Record). Entre uma expedição e outra, escrever é um dos "passa-tempos" do alpinista, tanto que em agosto deste ano, Niclevicz lançou "Um Sonho Chamado K2", no qual conta com muitos detalhes a mais perigosa aventura da carreira, vivida em julho de 2000, ao lado do italiano Abele Blanc. O K2, com 8.611 metros, é a segunda maior montanha do mundo.

O reconhecimento de público e crítica logo esgotou os estoques das livrarias, e a publicação já está em sua segunda edição. O sucesso de vendas também atingiu o DVD no qual é possível acompanhar os principais passos da expedição. "No K2, o perigo está em três fatores: ar rarefeito, a inclinação das encostas e a instabilidade climática. Isso traz uma dificuldade técnica bem maior do que ao escalar o Everest, por exemplo. Ela é uma montanha fria, dura e ingrata, enquanto o Everest é mais agradável", afirma. O êxito na escalada só aconteceu em sua segunda tentativa.

Morte acompanha Niclevicz, porém não assusta

A lição aprendida logo no início da carreira fez com que o respeito e o bom senso pauta-se as subidas de Waldemar Niclevicz. Contudo, isso não significa que o paranaense já não tenha vivido outros apuros. "A única vez que tive medo de morrer foi em 1994, quando atravessava um rio na Patagônia, em uma geleira, com água até o joelho quando passamos na ida. No retorno, esse rio subiu muito, e a água batia no peito, com uma forte correnteza. Quando fui cruzar, por pouco a água não me carregou, não alcançava o fundo e estava perdendo o controle da situação. Se eu escorregasse, estaria perdido. Mas quando estava no meio da travessia, juntei forças e consegui atravessar".

O pensamento positivo é sempre uma rotina nas aventuras do alpinista. "Quando a situação está ruim, sempre penso que vou sair dela, nunca que vou cair. Também jamais coloco a minha vida em risco, às vezes é preciso saber desistir. Acho que é burrice se arriscar para chegar ao topo de uma montanha, ela não mata ninguém, é o próprio homem quem faz isso. É preciso ter bom senso, equilíbrio e lucidez para saber o que está fazendo e não se deixar levar pelos sentimentos", avalia Niclevicz.

Com a experiência, o alpinista enumera os fatores dos principais acidentes em montanhas ao redor do mundo. "A maioria dos acidentes acontece por imprudência, por uso incorreto dos equipamentos ou falta de conhecimento. Tem gente que pensa que está preparada para determinada montanha, mas não está".

Próximas aventuras por vir

Enquanto planeja várias expedições ao mesmo tempo – dependendo de patrocínio e logistica para colocá-las em prática – ,Waldemar Niclevicz também formula novas histórias que podem gerar livros e exposições. Até porque, como o próprio alpinista ressalta, as expedições não se resumem a subir e descer uma montanha. Elas vão muito além disso.

"Nunca vou para um país para ficar apenas um dia. Geralmente fico lá por pelo menos três meses, observando o contraste do ambiente e do físico, principalmente porque já tive oportunidade de conhecer os sete continentes. Sou muito curioso, gosto de aventuras, busco conhecimento não só da montanha, mas do lado humano dos povos com os quais convivo nessas expedições. Acabo tendo uma visão de mundo privilegiada, não conheço tudo a respeito daquele determinado povo, porém acabo tendo uma opinião formada sobre o lugar, de quem já esteve lá", explica Niclevicz.

Entre histórias, projetos e aventuras, o alpinista coleciona fotos e vídeos, material que poderá render exposições. "Tenho um livro que quero publicar apenas com fotografias, sou apaixonado por isso. Tenho uma quantidade imensa de fotos, desde o início da carreira, e espero que todo esse conteúdo, depois de selecionado, já que não dá para publicar tudo, seja lançado. Estou trabalhando neste e em outros projetos", diz.

Todavia, esse e outros projetos dependem de patrocínio, dificuldade comum no Brasil (leia o quadro ao lado). Para os iniciantes e amantes da natureza e das montanhas, Niclevicz dá conselhos. "Acho que quem quer iniciar no esporte não deve desanimar porque não terá dinheiro para uma grande viagem ou para comprar equipamentos. O que é preciso é disposição, até porque eu comecei escalando na Serra do Mar e sem nenhum equipamento. É necessário saber se a pessoa gosta, por isso tente conhecer a montanha, para então descobrir o seu potencial e o ambiente. Se realmente gostar, procure orientação, é um esporte perigoso sem o devido conhecimento. Acima de tudo, é preciso também acreditar em você", conclui.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]