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Clima olímpico já está por toda a cidade
Clima olímpico já está por toda a cidade| Foto: Célio Yano/Gazeta do Povo

No ano dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, o clima da competição já domina a capital japonesa. Com recorde de patrocinadores, a próxima edição do maior evento multidesportivo do mundo não peca em divulgação. Ruas, carros, comércios, prédios públicos, empresas, pontos turísticos: a marca, as cores e os mascotes das próximas Olimpíada e Paralimpíada estão por todos os lados.

A ideia de que japoneses são organizados não é lenda. A sete meses da abertura dos Jogos, 43 dos 45 equipamentos que serão utilizados já estão prontos — o mais recente a ser inaugurado, no domingo (15), foi o Estádio Olímpico, construído no local onde ficava a arena utilizada na Olimpíada de 1964. Todas as obras devem estar entregues em fevereiro.

A determinação do Comitê Organizador, que planeja fazer desta a mais inovadora das Olimpíadas, se reflete em um dos lemas da edição: ‘alcançar o seu melhor’.

Patrocinadores dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020: recorde de empresas e US 3 bilhões de receita
Patrocinadores dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020: recorde de empresas e US 3 bilhões de receita| Célio Yano/Gazeta do Povo

“Isso não diz respeito apenas aos atletas envolvidos”, explica Kentaro Kato, diretor de relações com a imprensa do Comitê Organizador, que é diplomata e já trabalhou como representante do Japão no Brasil. “Em 2016 eu era cônsul no Rio de Janeiro e, um dia, após meu trabalho, fui a um bar tomar uma cerveja. Um cara próximo de mim perguntou: você é japonês? Eu disse que sim e ele propôs um brinde aos Jogos de Tóquio. Ele contou que tinha uma pequena empresa fornecedora de dispositivos elétricos e que ele fez um serviço no Parque Olímpico. ‘As Olimpíadas estão acontecendo em parte graças a mim’. Então percebi que dar o melhor nos Jogos não dizia respeito só aos atletas.”

Kentaro Kato, diretor de relações com a imprensa do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Tóquio 2020
Kentaro Kato, diretor de relações com a imprensa do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Tóquio 2020| Célio Yano/Gazeta do Povo

A mobilização da população japonesa em torno do coletivo também marcou a organização dos eventos. Embora haja uma cultura de voluntariado em situações de desastres naturais, até agora não havia histórico de grande participação pública na organização de eventos sem contrapartida financeira. Mas a convocação saiu muito melhor do que se esperava: para as 80 mil vagas, inscreveram-se 204.680 pessoas.

A mesma mobilização ocorreu em torno do projeto das medalhas olímpicas. O Comitê Organizador decidiu que produziria os cerca de 5 mil distintivos apenas com metais retirados de circuitos eletrônicos de dispositivos como celulares, notebooks e câmeras digitais descartados.

“Muitos disseram que seria impossível conseguir o material necessário”, conta Kentaro. Mas com a participação de 1.594 prefeituras municipais (quase 90% do país) e de 2,4 mil lojas da operadora de telefonia Docomo, que disponibilizaram caixas para coleta dos aparelhos, todo o metal necessário foi obtido mais de um ano antes do início dos jogos.

Uma das lojas oficiais dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020
Uma das lojas oficiais dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020| Célio Yano/Gazeta do Povo

Sedes espalhadas

Diferentemente das edições anteriores, não haverá um parque olímpico que concentre estádios, quadras, ginásios e outras estruturas esportivas em um mesmo complexo. A decisão por utilizar equipamentos espalhados por toda a metrópole foi para não deixar “elefantes brancos” como legado, segundo Kentaro.

Dos 45 polos esportivos que serão utilizados, 27 já existiam — grande parte construídos para os Jogos de 1964 —, 10 serão estruturas temporárias e oito foram pensados para utilização posterior. A própria Vila Olímpica, um conjunto de edifícios com vista para a Baía de Tóquio, depois dos Jogos será transformada em um condomínio residencial de luxo.

Vila Olímpica de Tóquio 2020
Vista dos prédios da Vila Olímpica, às margens da Baía de Tóquio| Célio Yano/Gazeta do Povo

A distância entre os equipamentos poderia, em tese, complicar a vida dos participantes. Mas se é capaz de organizar uma população de 13,4 milhões de habitantes sem sinal de congestionamento ou um único papel de bala nas calçadas, Tóquio não deve ter problemas para receber as 320 mil pessoas, entre atletas, equipes técnicas, espectadores, profissionais de imprensa e demais envolvidos nos eventos, que desembarcar na cidade entre 24 de julho, quando começam as Olimpíadas, e 6 de setembro, quando se encerram as Paralimpíadas.

Para isso, o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020 contará com uma série de tecnologias inéditas. A liberação para o acesso a cada equipamento será feita por um sistema de reconhecimento facial capaz de identificar em 0,3 segundos um rosto em uma base de 1 milhão de imagens. “Nos Jogos do Rio, a verificação era feita por um funcionário, que conferia a foto no crachá”, lembra Kentaro. “O que não chegava a ser um problema porque a conferência era feita apenas uma vez, na entrada do Parque Olímpico.”

A frota de táxis já foi reforçada. A todo momento se vê pelas ruas de Tóquio o Toyota JPN Taxi, modelo híbrido da montadora japonesa que foi escolhido para atender à demanda dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos por seu caráter universal: acomoda pessoas de qualquer tamanho, cadeira de rodas e grande quantidade de bagagem.

Toyota JPN Taxi: modelo híbrido reforça a frota de táxis do país
Toyota JPN Taxi: modelo híbrido reforça a frota de táxis do país| Célio Yano/Gazeta do Povo

A Toyota ainda colocará à disposição dos atletas os chamados e-Palette, veículos elétricos autônomos, que farão o deslocamento entre a Vila Olímpica e os diversos equipamentos. Outras soluções de mobilidade, como os BEVs, espécie de patinete elétrico, o Accessible People Mover, micro-ônibus elétrico para até cinco pessoas ou uma cadeira de rodas, e algumas centenas de Mirai ficarão a disposição de seguranças, médicos, funcionários e atletas.

BEVs, patinetes elétricos da Toyota que estarão à disposição dos Jogos
BEVs, patinetes elétricos da Toyota que estarão à disposição dos Jogos| Célio Yano/Gazeta do Povo

Mais do que isso, as empresas de transporte, como a responsável pelo metrô, vão estender o horário de funcionamento, e um acordo com a iniciativa privada vai alterar a jornada de trabalho dos funcionários e ampliar o home office para minimizar os problemas de mobilidade. Além disso, o governo vai alterar a data de três feriados nacionais em 2020 para coincidir com a véspera e o dia da abertura das Olimpíadas e o dia seguinte ao encerramento do evento, momentos em que o fluxo de pessoas deve ser maior.

Clima e desastres naturais

O verão em Tóquio é marcado por altas temperaturas, que chegaram a superar os 41°C em 2018. Este ano, 57 pessoas morreram e mais de 1,8 mil foram hospitalizadas entre 29 de julho e 4 de agosto por causa do calor, segundo a Agência de Administração de Desastres. Ao longo do último verão, o Comitê Organizador esteve atento a isso e realizou testes em vários dos locais dos eventos. Jatos de névoa d’água, ventiladores, toalhas umedecidas, áreas de repouso sombreadas e barracas serão utilizadas.

Em um país com ocorrências frequentes de terremotos e tufões, a possibilidade de desastres naturais também é levada em conta. Em geral, toda edificação japonesa é projetada para resistir a tremores e quem já passou por Tóquio deve ter notado que há planos de evacuação ilustrados disponíveis em qualquer local em que se vá.

Além disso, os cidadãos japoneses recebem treinamentos para situações de emergência em escolas, empresas e repartições públicas, o que reduz muito o risco de consequências graves. O desafio são os estrangeiros, de países onde não há ocorrência de terremotos ou tufões. Para isso, haverá voluntários dedicados a orientar as pessoas em casos extremos.

Por falar em desastre, a cidade de Fukushima, palco de um acidente nuclear, provocado por um tsunami em 2011, sediará jogos de baseball e softball — os esportes mais populares do Japão e que estrearão em Tóquio junto com o karatê, o surfe, o skate e a escalada.

É de Fukushima também que partirá a tocha olímpica, no dia 12 de março, rumo à capital do país. A intenção é estimular a recuperação econômica da área e o ânimo da população local. O Japão quer mostrar ao mundo que grande parte da região já está plenamente recuperada.

Miraitowa e Someity, mascotes das Olimpíadas e Paralimpíadas Tóquio 2020
Miraitowa e Someity, mascotes das Olimpíadas e Paralimpíadas Tóquio 2020| Célio Yano/Gazeta do Povo

* O jornalista viajou a Tóquio a convite do Ministério de Relações Exteriores do Japão

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