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 | THOMAS LOVELOCK FOR OIS/IOC/AFP
| Foto: THOMAS LOVELOCK FOR OIS/IOC/AFP

A primeira vez que Matt Stutzman tentou comprar um arco, o vendedor achou que era uma pegadinha. Como poderia disparar uma flecha alguém que não tinha braços? A resposta é simples: com os pés.

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Hoje, o americano de 33 anos, nascido sem os membros superiores, é um dos melhores arqueiros do mundo e mira o pódio paralímpico no Rio de Janeiro.

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A ideia de comprar um arco não tinha fins esportivos. Foi em 2009 e Stutzman estava desesperado, não tinha emprego e precisava cuidar da esposa Amber e dos dois filhos pequenos. Pensou então na caça como uma maneira de colocar comida na mesa. Com isso em mente, foi à loja de materiais esportivos.

“Eu falei: ‘quero comprar um arco’. Ficaram me olhando admirados e um vendedor me perguntou: ‘você quer dizer uma besta [tipo de arco com gatilho]?’, e eu respondi: ‘não, um desses arcos com flechas’. ‘Como você vai disparar a flecha?’, me perguntaram. ‘Não sei, me dá um arco e saiam da sala’”, lembra, rindo.

Stutzman procurou na internet mas não achou nada de relevante. Hábil com os pés desde pequeno – se veste, dirige, escreve, come... tudo com os pés –, começou a praticar.

Lá se vão sete anos desde então. Hoje, exibe orgulhoso a medalha de prata que ganhou em Londres-2012, assim como o ouro por equipes no Mundial de 2015, na Alemanha. É também o recordista mundial de distância de um tiro certeiro (283 metros).

Na quarta-feira (14), o americano tentou garantir um lugar no pódio no Rio, mas foi eliminado nas oitavas de final pelo brasileiro Andrey de Castro.

THOMAS LOVELOCK FOR OIS/IOC/AFP

O processo

Stutzman tem um círculo de admiradores. Apesar do pequeno público no Sambódromo do Rio, onde são disputadas as provas do tiro com arco, recebe calorosos aplausos quando entra.

O americano ainda lembra de sua primeira competição. “Eu perguntei à menina onde estavam os outros arqueiros sem braços e ele me respondeu surpresa: ‘você está falando de quem?’. Eu não sabia que era o único”.

A primeira coisa que faz ao chegar ao local da prova é tirar os sapatos e sentar em um banco dobrável. Ele conta com um dispositivo colocado no ombro direito que permite disparar sem os braços chamado ‘fingerless’, ou ‘sem dedos’ em inglês.

Com o pé esquerdo posiciona a flecha, enquanto segura o arco com o outro. Em seguida, estica a corda com a flecha e a conecta ao dispositivo. Aponta e com a mandíbula dispara.

E assim acerta vários ‘10’ no alvo.

“Quero ser o melhor arqueiro do mundo”, afirma, com a esperança de que “algum dia” arqueiros olímpicos e paralímpicos compitam juntos, um tema que surgiu diversas vezes nos Jogos Rio-2016 pelos assombrosos resultados alcançados pelos atletas deficientes.

Adaptação ao mundo

Quando Stutzman afirma que pode fazer tudo com os pés, rapidamente se corrige: “Quase tudo, sempre digo a minha esposa que não posso trocar uma fralda suja”... e ri.

“Às vezes posso demorar mais, como por exemplo para amarrar os cadarços. Posso levar dois minutos e não 30 segundos, mas posso fazer”, explica.

O arqueiro americano deixou de usar próteses quando tinha oito anos e, “de repente”, percebeu que podia fazer tudo que uma pessoa com braços faz.

“Se você entrar na minha casa não encontrará nada que te dê uma pista que aqui vive um cara sem braços”, garante, grato aos pais, que o adotaram quando tinha 13 meses.

“Eles deixavam que eu tentasse fazer as coisas antes de oferecer ajuda, porque sabiam que em algum momento eu sairia de casa e teria que me virar sozinho. Tive que aprender a me adaptar ao mundo e não esperar que o mundo se adaptasse a mim”, completa.

Sempre sorridente e amável, Stutzman aproveita cada segundo de sua nova vida. Conta com o apoio de vários patrocinadores e Amber já não precisa trabalhar, podendo cuidar dos filhos Alex, Carter e Cameron em sua casa no interior do Iowa.

“Não sou rico como LeBron (James, jogador de basquete), mas tenho uma vida confortável, sem o estresse de antigamente”, afirma o arqueiro sem braços.

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