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| Foto: Alaor Filho/MPIX/CPB

Maurício Tchope Dumbo, 26 anos, desacreditou quando foi acordado por uma ligação de Fábio Vasconcellos, técnico da seleção brasileira de Futebol de 5 (para cegos), há pouco mais de uma semana.

Radicado em Curitiba desde 2001, o angolano que perdeu a visão por complicações do sarampo aos quatro anos de idade ainda não havia superado a decepção por ficar fora da convocação para a Paralimpíada do Rio de Janeiro. Ouviu, então, o inesperado.

“Ele me perguntou se eu gostaria fazer parte do time na vaga de um atleta que foi cortado”, conta, por telefone, à Gazeta do Povo.

“Concordei na hora, mas depois que desliguei o telefone fiquei pensando que poderia ter sido um trote”, continua o ala, que se naturalizou com o objetivo de disputar a Rio-2016 pelo país que o acolheu.

MÚSICA

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Ouça o rap da seleção brasileira de Fut 5, feito pelo angolano Prudêncio Tumbika

Dumbo só entendeu quer seria um atleta paralímpico quando recebeu outra chamada, duas horas depois, com as instruções para pegar um voo no mesmo dia e se juntar à delegação. Só depois disso divulgou a novidade para os amigos e familiares.

“Não estava torcendo para alguém se machucar. Estava torcendo para que trouxessem o ouro. Foi até difícil voltar a acreditar que eu poderia estar lá [Paralimpíada]”, diz.

ENTENDA como funciona o Futebol de 5

A convocação de última hora é o mais recente capítulo da surpreendente trajetória do angolano. Pobre, cego e analfabeto, Dumbo desembarcou no Brasil aos 11 anos de idade graças a um programa de cooperação entre os dois países. Ao lado de outros 15 jovens deficientes visuais, teria os estudos custeados pelo governo de Angola, que vivia o final de quase três décadas de guerra civil.

Na capital paranaense, foi alfabetizado em braile no Instituto Paranaense de Cegos. Apesar de seu país natal também ser lusófono, teve de aprender a falar português. Em Benguela, sua cidade natal, só aprendeu o dialeto umbundu.

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As dificuldades, contudo, apenas impulsionaram o africano. Neste ano, ele se formou em Direito. “É o primeiro de sua família a ter um diploma”, ressalta a angolana Isabel Tchicoco Yambi, 27, que chegou a Curitiba no mesmo grupo de Maurício e também concluiu o curso superior.

O sonho da graduação e a permanência no Brasil, porém, ficaram seriamente ameaçados por diversas vezes. O maior percalço, em 2014, foi quando o governo angolano cancelou o programa que bancava os estudos do grupo. Eles recorreram ao programa Caldeirão do Huck e conseguiram R$ 30 mil ao participar do quadro ‘Agora ou Nunca’.

A aparição na televisão ainda rendeu a Dumbo um emprego no Tribunal de Justiça do Paraná . Trabalho que divide seu tempo com o futebol. Ele passa dois finais de semana por mês em Canoas-RS, onde defende a Agafuc. No ano passado, foi eleito melhor jogador e artilheiro do último Brasileiro, com sete gols.

A medalha na Rio-2016, se vier, será angolana e curitibana. “Sou curitibano também. Está até no meu certificado de naturalização. O carinho e a ajuda do povo de Curitiba foi determinante para sair de onde sai e chegar onde cheguei”.

Dumbo com a bola durante treino da seleção para a Paralimpíada.Alaor Filho/MPIX/CPN

Como funciona o Futebol de 5

Esporte paralímpico desde 2004, o Futebol de 5 é dominado pelo Brasil nos Jogos. A seleção, que tem Maurício Dumbo como reforço na Rio-2016, tem três ouros no currículo e agora tenta o tetracampeonato.

“Vai ser uma guerra esportiva. Ninguém vai se entregar fácil.Treinamos muito e estamos empenhados em levar essa medalha”, diz o africano.

Como o próprio nome sugere, a modalidade é disputada por equipes com cinco jogadores cada. Entre eles, somente o goleiro não é deficiente visual.

A bola é sonora – tem guizos internos – e atrás de cada gol chamadores orientam os atletas. Em cobranças de bolas paradas, o chamador bate nas traves com um objeto metálico para situar o cobrador.

As partidas, que acontecem no estádio do Centro Olímpico de Tênis, chamam a atenção também pelo dribles desconcertantes, característica na qual Dumbo garante não decepcionar.

“Às vezes eu deixo de fazer o gol porque dou um drible a mais. Mas acho que é a característica do futebol africano, driblador, mais futebol arte”, comenta o angolano curitibano.

Maurício Dumbo foi chamado de última hora para a Paralimpíada.Cezar Loureiro/CPB
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