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"Se isso continuar, Real Madrid e Barcelona vencerão cada ponto e o campeonato será decidido quando os dois se encontrarem".

É com tom de indignação que o presidente do Sevilla, José Maria del Nido, criticou a divisão de cotas de TV para o Campeonato Espanhol antes de Barcelona e Real Madrid aceitarem diminuir o domínio de 22,5% para 17% da receita total. Mas o "estrago" já foi feito há algum tempo: ambos são donos de modelos invejáveis de administrações que o colocam como potências praticamente insuperáveis fora de campo. Dentro dele, a dupla duela nesta segunda-feira, às 18h (de Brasília), no Camp Nou, em jogão que certamente irá parar boa parte da Europa.

Atualmente, os clubes representam 52% da receita gerada pela Liga Espanhola em um dos maiores índices do futebol mundial. E, de acordo com a projeção da Crowe Horwath RCS, empresa de auditoria e consultoria esportiva no Brasil, a expectativa é que ambos atinjam 0,1% do PIB espanhol na temporada 2012/2013, o que significa um euro (R$ 2,28) gerado a cada mil (R$ 2,28 mil) – em 2001 o valor era de 0,038%.

Por trás de Lioneis Messis, Cristianos Ronaldos, receitas ilimitadas e dos 51 títulos conquistados por merengues e catalães em 79 temporadas na Espanha (30 do Real e 21 do Barça, o equivalente a 65%), está um grande trabalho de administração especialmente na última década, que devolveu os clubes ao topo do continente. Ele tem dois nomes: Florentino Pérez e Joan Laporta.

"A tendência é permanecer esse domínio por mais que as cotas de TV fiquem mais equiparada. Os contratos de patrocínios seguem maiores, venda globais de camisas, produtos, há as receitas com os estádios... O Atlético de Madri, por exemplo, arrecada cinco vezes menos que o Real Madrid com o Vicente Calderón. E olha que é grande, tem capacidade para 55 mil pessoas. Alguns menores podem se fortalecer, mas indiscutivelmente a tendência é o fortalecimento da dupla", disse Amir Somoggi, diretor de esportes da Crowe Horwath RCS.

Ambição, a chave do sucesso

Criticado por usar o Barcelona em sua campanha para o Parlamento da Catalunha, Laporta sofreu com acusações de corrupção e gastos excessivos desde que deixou a presidência do clube para Sandro Rosell. Mas, em títulos, não há o que contestar. Foram 12 taças em sete anos de mandato, entre elas duas Liga dos Campeões e contratações de sucesso como Ronaldinho Gaúcho e Samuel Eto’o.

Com um time vencedor, os catalães passaram por uma reestruturação de seus projetos, especialmente de marketing, cruciais para alcançarem o atual status. A ambição foi um adjetivo constante a partir de 2003, quando o clube valorizou sua marca e maximizou as receitas. Somente em 2010, em estudo apontado pela Crowe Horwath, o Barcelona gerou € 387,4 milhões (R$ 883 milhões), apresentando uma evolução de 252% em 10 anos.

Somente com o marketing, as receitas foram de € 25,3 milhões (R$ 57,6 milhões) para € 120,9 milhões (R$ 275,6 milhões) – aumento de incríveis 378% em oito anos e 31% na divisão. As rendas com sócios e estádio representaram 30% do total, também em profunda evolução de 140% - € 48,2 milhões (R$ 110 milhões) em 2003 para € 115,5 milhões (R$ 263,3 milhões) em oito anos. Para montar um grande elenco, no entanto, teve um gasto salarial correspondente a € 235,2 milhões (R$ 536,2 milhões) em 2010.

"Para nós, brasileiros, esse modelo serve de referência porque os clubes não são empresas e sequer são investidos por russos ou árabes. São de seus sócios que elegem o presidente, têm cadeiras no Camp Nou, Santiago Bernabéu... O foco é no sócio, e isso é muito legal", afirmou Amir Somoggi.

No Real Madrid, Florentino Perez instituiu a Era Galáctica. Soube explorar sua marca mundo afora e se consolidou como o clube com maiores receitas do futebol global, inclusive comparado aos maiores times americanos. Vieram em um intervalo de três anos craques como Zinedine Zidane, Luis Figo, Ronaldo e David Beckham. Depois, em seu segundo mandato, foi a vez de Kaká e Cristiano Ronaldo vestirem a camisa branca em transações que assustaram o planeta.

Em números, os merengues geraram € 442,3 milhões (R$ 1,008 bilhão) em receitas, apresentando evolução de 197% em 10 anos. Progresso muito por conta do marketing, que quase quadruplicou desde 2001: € 38,6 milhões (R$ 88 milhões) para € 140 milhões (R$ 319,2 milhões) – o equivalente a 270% de aumento. Para formar um timaço, porém, teve um gasto salarial representativo: € 192,3 milhões (R$ 438,4 milhões, quase uma centena mais barato do que o maior rival).

"O Florentino é diretamente o responsável pelo crescimento. Ele mesmo diz que o Real Madrid já não se considera um clube de futebol e sim uma entidade geradora de conteúdo, que vende entretenimento. Assim, conseguiu transformar o clube numa entidade única no mundo. Todas as TVs querem passar um jogo do Real Madrid. Ele simplesmente criou uma nova era no futebol mundial", contou Amir.

Com menos jogadores, elenco catalãoé mais caro do que os galácticos

O Barcelona tem em seu elenco apenas 19 jogadores, mas pode se gabar de, ainda assim, ser mais valorizado do que os galácticos. Ao menos de acordo com o site "Transfermarkt", que avaliou os catalães em € 527 milhões (R$ 1,2 bilhão) – o argentino Lionel Messi, é claro, é o mais caro: precisa-se de € 100 milhões (R$ 228 milhões) para adquirir seus direitos. No Real, avaliado em € 517,5 milhões (R$ 1,18 bilhão), Cristiano Ronaldo é o astro: custa € 90 milhões (R$ 205 milhões).

Apesar de contarem com fãs espalhados pelo mundo inteiro – estima-se que na Europa ambos somem 90 milhões de torcedores –, não é no Brasil que Real Madrid e Barcelona lideram as vendas de camisas. Um estudo da Netshoes mostra que, nas últimas três semanas, ambos ficaram atrás de Inter de Milão e Milan na preferência dos clientes. O time do atual melhor do mundo vende um pouco mais – 51% a 49%. Messi também é quem tem mais seu nome grafado nas camisas do clube – 57%. O português aparece em 43% das camisas merengues

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