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"Ei, caiu gente lá embaixo!" O aviso veio a dois metros de distância, mas a voz parecia distante como nos filmes de guerra. O cenário era de guerra. Uma centena de pessoas correndo e cambaleando por uma construção que parecia cenário de treinamento militar. O som dos tiros de bala de borracha parecia cada vez mais próximo. Ou talvez fosse apenas impressão causada pela mistura entre gás lacrimogênio e spray de pimenta que tinha acabado de trancar minha respiração. Não desmaiei porque puxei a camiseta, encharcada de suor, para o nariz e aspirei com força.

Saí zonzo. Passei perto do buraco onde uma garota – depois eu saberia – tinha caído e quebrado o braço. Só queria sair dali. Comecei a andar na direção oposta à "faixa de Gaza" onde manifestantes e policiais entravam em constante conflito. Foram 7 quilômetros de caminhada debaixo do sol forte. No começo, ainda ouvia de tempos em tempos tiros de bala de borracha. Por um bom trecho ainda era possível ver a coluna de fumaça preta que subia do carro incendiado no protesto.

Eu só conseguia pensar em chegar ao Castelão e na garotada que, duas horas antes, se preparava para o protesto. Cada um com a esperança de construir a partir dali um país melhor. Gravei vários vídeos. Ainda não vi nenhum. Falta de tempo e um pouco de medo de me emocionar como quando eu circulava entre eles.

Em cada cartaz, cada grito entusiasmado por melhorias, a vontade de ir até em casa, abraçar a mulher, dar um beijo nas crianças e levar todo mundo para a rua, nem que fosse por seguros 30 minutos, para respirar o mesmo ar que aquele molecada querendo reiniciar o Brasil. O 19 de junho de 2013 nunca mais sairá da memória.

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