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Na contramão das recentes medidas tomadas pela Fifa para combater o racismo no futebol a partir da Copa 2006, Pelé fez questão ontem de colocar panos quentes na polêmica. Em visita a Curitiba para inaugurar um instituto que leva seu nome e presta apoio ao Hospital Pequeno Príncipe, o Atleta do Século garantiu que ocorrem apenas "casos isolados" de preconceito no mundo da bola. O Rei do Futebol ainda comentou sobre as chances da seleção brasileira na Copa da Alemanha e não deixou em branco as crescentes comparações entre ele e Ronaldinho Gaúcho. Eis os principais trechos da entrevista coletiva.

Como você tem visto as crescentes manifestações racistas dentro do futebol?Engraçado... Estava na Alemanha, Inglaterra e Austrália numa promoção da Fifa e perguntaram a mesma coisa. E eu indaguei: ‘Vocês sabem quantos jogos de futebol tem no mundo por semana?’ Milhões, eu respondi. É bola na terça, quarta, quinta, sábado e domingo. Diante disso tudo, às vezes, acontece um caso. Quantas vezes me chamaram de macaco, negro do Brasil... Mas terminava o jogo e saíamos para jantar. Ocorrem episódios esporádicos. Temos então que parar com esse negócio de falar em racismo no futebol.

Em recente entrevista, Cafu disse que o Ronaldinho Gaúcho estaria no seu nível. Você concorda?O Cafu quis dizer outra coisa, mas foi mal interpretado. Ele entende que o Ronaldinho é o melhor do mundo neste momento e – desta forma – poderia ser um dia igual ao Pelé. Nunca teve a intenção de falar que o Ronaldinho é agora igual ou melhor do que eu fui.

Você chegou a dizer que teme o favoritismo do Brasil na Copa da Alemanha. Por quê?Não é que eu tenha medo. Sempre na minha experiência de Copa, o campeão não figurava entre os favoritos. Não vamos esquecer 50. Eu tinha 9, 10 anos e meu pai dizia que iríamos ganhar fácil. E perdemos a final. Teve a Hungria em 54. Isso sem contar a Holanda de 74, o Carrossel, e 78. E mesmo o Brasil, no Mundial de 82, perdeu para a Itália que era o pior time. Por fim, 2002, com a França e Argentina fracassando. Além disso, os árbitros têm medo de errar em favor do favorito.

Quem estaria ameaçando o título brasileiro na Alemanha?A Itália tem um timaço. Mas temos ainda a Argentina e a Alemanha, que joga em casa e merece ser respeitada.

É possível dizer que depois da geração de 70 essa é a melhor safra de jogadores do país?Individualmente sim, mesmo com o time de 82 estando no mesmo nível do apresentado hoje. A grande vantagem dessa seleção é que o Parreira e o Zagallo têm 22 jogadores no mesmo nível. Alguém sofre uma contusão, por exemplo, entra outro igual. Veja o caso do Juninho Pernambucano, um dos melhores da Europa, cinco vezes campeão francês, melhor jogador da França. Um atleta desse nível é nosso terceiro reserva.

Os jogadores da seleção estão todos fora do país. Depois da Copa vão defender clubes da Europa. O que pode ser feito para conter isso?Enquanto não nos organizarmos fora de campo vai ser assim. Teremos que conviver com essa situação. Para a minha geração – pessoas que tinham como referência ir ao estádio para acompanhar Pelé, Rivelino, Zico... – é muito triste ver isso.

Qual o sua impressão sobre a possibilidade do Brasil ser sede da Copa de 2014?Curitiba é uma das poucas cidades do Brasil que, talvez, tenha um estádio em condições (possivelmente se referindo à Arena). Nenhum outro estádio passaria, quem sabe o Mineirão com alguma reforma. O nosso problema é a economia. Não se deve sacrificar o povo mais uma vez. A Copa dura um mês e depois passa tudo e fica só problemas. A edição de 94, nos EUA, eu acompanhei de perto e serve de exemplo. Nessa ocasião, empresas privadas financiaram tudo.

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