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Retrospectiva 2020

Mesmo com crise, 2020 se consolida como o ano das startups

GazzConecta, com colaboração de Milena Prado
14/12/2020 18:10
Os investimentos em startups brasileiras acumularam, até novembro, o valor de US$ 2,87 bilhões segundo o levantamento “Inside Venture Capital Brasil”, realizado pela empresa de inovação aberta Distrito. Os investimentos de venture capital – modalidade focada em negócios com alto potencial de crescimento – foram distribuídos em 426 aportes em empresas brasileiras. Mesmo em um cenário de pessimismo imposto pela pandemia da Covid-19, este ano foi tão vantajoso para startups quanto 2019, quando o acumulado de investimentos chegou a US$ 2,94 bilhões.
Na visão de Tiago Ávila, líder da central de inteligência de mercado do Distrito, o ecossistema de inovação brasileiro está em amadurecimento, o que explica o aumento dos investimentos em empresas locais. “As startups estão provando que o setor como um todo é resistente em momentos de crise. Essas empresas mostram uma solução eficaz e isso é muito atrativo como novos modelos de investimento”, diz Ávila, que projeta um fechamento de ano com cerca de US$ 3 bilhões em investimentos em startups nacionais.
 Para Tiago Ávila, líder da central de inteligência de mercado do Distrito, o ecossistema de inovação brasileiro está em amadurecimento.
Para Tiago Ávila, líder da central de inteligência de mercado do Distrito, o ecossistema de inovação brasileiro está em amadurecimento.
Em janeiro, no início das projeções e planejamentos, o ano já dava sinais de que o volume de movimentações seria maior em relação a 2019. A crise, no entanto, assustou empresas e investidores, fazendo-os acreditar, segundo os especialistas do Distrito, que haveria uma desaceleração do mercado como um todo. A previsão não se confirmou. Mesmo um mês antes do fim do ano, 426 startups já foram investidas, contra 397 empresas aportadas no ano passado.
 2020 também foi marcado pela liquidez dos gestores de venture capital, com mais que o dobro de fusões e aquisições em relação ao ano passado.
2020 também foi marcado pela liquidez dos gestores de venture capital, com mais que o dobro de fusões e aquisições em relação ao ano passado.
Ainda segundo Ávila, 2020 também foi marcado pela liquidez dos gestores de venture capital, com mais que o dobro de fusões e aquisições em relação ao ano passado. Foi um total de 142 em comparação com 63 em 2019. “Isso é muito importante tanto para startups como para os investidores. Para eles, além do investimento, é importante ter um retorno depois de um certo tempo e este ano parece que marcou essa modalidade. As corporações entenderam que para entrar neste jogo de inovação é preciso investir e adquirir novas empresas de tecnologia. Este foi um ótimo ano para o ecossistema, talvez o melhor deles”, explica.
 Eduardo Fuentes, do Distrito, destaca que o amadurecimento gera crescimento em um movimento cíclico entre startups, investidores e mais capital.
Eduardo Fuentes, do Distrito, destaca que o amadurecimento gera crescimento em um movimento cíclico entre startups, investidores e mais capital.

Crise antecipa inovação nas startups

Todos os percalços da pandemia também foram uma mola propulsora que obrigou a digitalização das empresas. Para Ávila, este é um dos fatores principais que levaram ao amadurecimento do mercado, já que os negócios digitais puderam mostrar sua capacidade e valor.
“Um momento como este mostrou que todas as empresas, mesmo as grandes corporações, têm fragilidades, e startups mostraram que podem ser uma solução. O cenário de 2020 possibilitou uma confiança maior no ecossistema, para que nos próximos anos estas startups possam atingir um patamar mais interessante”, prevê o líder do Distrito.
Para Eduardo Fuentes, um dos responsáveis do Distrito pela análise e coleta de dados deste mercado, o amadurecimento gera crescimento em um movimento cíclico. “À medida em que as startups surgem, aparecem mais investidores e mais capital. Estas startups precisam de novos investimentos para financiar suas soluções e testar suas hipóteses. É normal que nos próximos anos existam mais rodadas que movimentem recursos maiores”, detalha Fuentes.
Outra instituição que acompanha o crescimento das empresas de base tecnológica é a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), que divulgou o relatório “O Mapeamento de Startups 2020”, em novembro. Segundo o diretor executivo da Abstartups, José Muritiba, estas empresas continuaram crescendo e contratando. “Os números indicam que 38% das startups brasileiras abriram processos seletivos este ano e apenas 15% realizaram desligamentos. Outro dado interessante é que mais da metade das startups residentes do Cubo Itaú, maior hub de inovação da América Latina, cresceram em 2020”, diz.
Muritiba aponta ainda para o crescimento do valor de rodadas seed – aporte no trabalho inicial da empresa, em pesquisas e validação – que foi de R$ 1,6 milhão em 2019, contra R$ 2,4 milhões, na média, em 2020.

Três novos unicórnios no "Clube do Bilhão"

Apesar da movimentação positiva do mercado das startups no cenário da pandemia, a previsão do surgimento de dez novos unicórnios brasileiros em 2020 - empresas avaliadas em mais de um bilhão de dólares - acabou não se confirmando. A antecipação foi realizada no levantamento do Distrito batizado de “Corrida dos Unicórnios”, divulgado em fevereiro deste ano. Uma aposta foi certeira: a Vtex. Outros dois unicórnios do ano, Loft e C6 Bank foram uma surpresa para o mercado.
 Terceiro unicórnio do ano, a fintech C6 Bank oferece uma série de serviços financeiros digitais.
Terceiro unicórnio do ano, a fintech C6 Bank oferece uma série de serviços financeiros digitais.
O primeiro anúncio do unicórnio de 2020 foi já nos primeiros dias de janeiro. A Loft, startup paulista de compra e venda de imóveis fundada em 2018, recebeu um investimento de US$ 175 milhões dos fundos Andreesen Horowitz, Fifth Wall Ventures e Vulcan Capital, que levaram a empresa a participar do seleto clube do bilhão.
Em nota ao GazzConecta, a Loft afirma que atingir o marco, principalmente em apenas 16 meses de atuação, foi motivo de orgulho para a companhia.
“Entendemos que este resultado é reflexo das oportunidades que o mercado imobiliário oferece do ponto de vista do aumento da transparência de preços e facilitação do atendimento de quem quer se mudar. É nisso que estamos trabalhando”.
Outro unicórnio de 2020 foi a Vtex, especializada em soluções para o e-commerce A startup recebeu um investimento de US$ 1,7 bilhão em setembro. A rodada que rendeu o título para a empresa foi liderada pelos fundos Tiger Global e Lone Pine. A startup tem mais de três mil lojas ativas em sua plataforma, em 42 países e conta com clientes como Sony, Walmart, Whirlpool, Coca-Cola, Pizza Hut e Nestlé.
  Unicórnio Vtex, especializado em soluções para o e-commerce. A startup recebeu um investimento de US$ 1,7 bilhão.
Unicórnio Vtex, especializado em soluções para o e-commerce. A startup recebeu um investimento de US$ 1,7 bilhão.
De acordo com o vice-presidente institucional da Vtex, Alfredo Soares, o título foi fruto de um trabalho em equipe e de uma visão empreendedora. “Tivemos comprometimento dos fundadores e sócios, somados às aquisições bem sucedidas que conseguimos fazer ao longo da jornada, mantendo o empreendedorismo vivo. Ainda assim, eu acredito que nós estamos só no começo”, conta Soares.
Para 2021, ele prevê os próximos passos em direção ao desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial para o varejo, com foco na entrega dos produtos e experiência do cliente. “A nossa meta é continuar com crescimento de 50% ao ano, seguindo o mesmo ritmo”, completa. A Vtex foi posicionada pelo levantamento “Distrito Retailtech Report Brasil 2020”, como uma das dez principais startups de varejo neste ano.
O terceiro unicórnio do ano foi a fintech C6 Bank, que oferece uma série de serviços financeiros digitais como contas, cartões e transações gratuitas. O aporte, no valor de R$ 1,3 bilhão, foi anunciado no dia 2 de dezembro e conferiu ao banco o título, alcançado por empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. O investimento foi liderado pelo fundo Credit Suisse, com mais de 40 investidores privados.
O CEO do C6 Bank, Marcelo Kalim, explica que um dos objetivos da instituição é ampliar os planos de expansão. “Este aumento de capital nos permite acelerar o crescimento do banco. Continuaremos investindo para aumentar a base de clientes, completar o desenvolvimento da plataforma de investimentos e avançar em novas linhas de negócio”, diz.
Em 2020, o setor que mais recebeu investimentos foi o de fintechs, empresas voltadas para soluções financeiras digitais.

Terra fértil para estrangeiros

Os aportes milionários que levaram VTEX, Loft e C6 Bank para a lista das maiores startups do Brasil vieram de fundos estrangeiros, como Tiger Global, Lone Pine Capital, Andreessen Horowitz, Fifth Wall Ventures, Credit Suisse e Vulcan Capital. Outro investidor que tem demonstrado interesse recorrente nas startups brasileiras é o SoftBank, um fundo de investimento japonês que destina partes de seus recursos também para empresas expoentes da América Latina. Um dos mais recentes aportes realizados por eles, no valor de R$ 310 milhões, foi na startup curitibana Olist, que oferece soluções em vendas online para lojistas.
Eduardo Fuentes, do Distrito, aponta que o mercado brasileiro é uma terra fértil para novos investimentos.
“Nós temos um mercado gigantesco e cheio de problemas. Não somos um país desenvolvido, temos uma população gigantesca e um PIB (Produto Interno Bruto) que não é muito representativo. Mesmo assim nós temos muitos obstáculos a serem superados em setores diferentes, isso por si só é um mar de oportunidades que surgem e precisam ser aportadas pelos investidores”, avalia.
Para os especialistas, o ecossistema de inovação brasileiro está vivendo a fase de amadurecendo, ao contrário dos Estados Unidos, que já tem um ambiente de startups desenvolvidas e investimentos elevados. Esta fase vivida pelas empresas brasileiras tende a atrair mais investidores, uma vez que o retorno dos valores investidos seria mais rápido neste cenário.

O que esperar das startups para 2021?

Segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, os setores que devem ser destaque em 2021 são comércio, mobilidade, supply chain (soluções voltadas para a gestão da cadeia logística), e foodtech (startups com soluções para o setor de alimentação). Empresas voltadas para o mercado imobiliário também devem despontar em 2021.
O topo do ranking de investimentos, no entanto, não deve mudar. Em 2020, o setor que mais recebeu investimento, segundo o levantamento do Distrito com dados até novembro, assim como os mapeamentos mensais divulgados pelo portal Sling Hub, fori o de fintechs, voltadas para soluções financeiras digitais. Segundo o levantamento Distrito Fintech Report 2020, divulgado em setembro, neste ano foram investidos US$ 939 milhões neste segmento.
Na visão de Fuentes, dentro do ecossistema de inovação, o setor financeiro é o mais investido e isso não é uma peculiaridade apenas de 2020, mas sim uma ação natural do mercado. “As fintechs devem continuar como uma das mais bem cotadas para receber investimento de venture capital”, acredita.
Outro destaque para 2021 é o setor de saúde, que se mostrou imprescindível neste ano, a exemplo as consultas e atendimentos via telemedicina.
“O setor de saúde já recebeu vários investimentos e aportes em estágios iniciais, que consequentemente se tornarão aportes de níveis e valores mais elevados no próximo ano. Estes dois, fintechs e saúde, tendem a encabeçar os investimentos ano que vem”, aposta Fuentes.

Novos Unicórnios de 2021

Conheça as empresas que podem se tornar unicórnios em 2021, segundo os especialistas do Distrito:

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