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Inteligência artificial

86% dos brasileiros preferem atendimento psicológico feito por robôs, aponta a Oracle

Maria Clara Dias, especial para o GazzConecta
19/10/2020 16:22
O acesso a novas ferramentas digitais e os impactos negativos da pandemia na saúde mental de trabalhadores de todo o mundo ampliou a familiaridade com um serviço em expansão: o atendimento psicológico online e guiado por inteligência artificial (IA). Isso é o que mostra o estudo global AI@ Work Study 2020, realizado pela empresa de tecnologia e software Oracle em parceria com a Workplace Intelligence, empresa de consultoria em RH, e divulgado em outubro.
A pesquisa falou com mais de 12 mil respondentes de 11 países, incluindo Japão, Reino Unido, França, Itália, China, Estados Unidos e Brasil. Quando perguntados sobre a preferência pelo suporte à saúde mental oferecido por robôs, 82% dos trabalhadores disseram acreditar que as máquinas podem melhorar auxiliá-los do que os seres humanos. No Brasil, essa estatística é ainda maior: 86% dos brasileiros preferem o atendimento psicológico feito por robôs.
A pesquisa também indicou que 68% das pessoas preferem conversar uma IA ao invés de seus gestores sobre saúde mental, estresse e ansiedade no ambiente de trabalho (no Brasil, esse número é de 64%).
Entre as principais motivações para isso, de acordo com o estudo, está a crença de que, com a tecnologia, o trabalhador pode encontrar uma zona neutra de julgamentos, respostas rápidas sobre as suas condições de saúde e uma saída imparcial para o compartilhamento de problemas pessoais.
Segundo Maicon Rocha, gerente de soluções de recursos humanos da Oracle, dados como esses mostram que a inteligência artificial deve ser vista como uma aliada no processo de mapeamento do bem-estar corporativo.
“Esse precisa ser um tema prioritário”, aponta. “Os funcionários estão mais preocupados, e por outro lado, empresas estão olhando cada vez mais para o tema de saúde — e isso tem ido bem além da oferta de benefícios. Elas querem que a tecnologia apoie sua saúde mental".
As mudanças do mercado de trabalho e a insegurança de funcionários
a respeito de sua estabilidade dentro das empresas, segundo Rocha, também justifica a preferência pela terapia digital. “A pandemia só amplificou um problema que já era existente. Podemos ver que a população brasileira, por exemplo, é a mais afetada com a ansiedade e insônia. Nos robôs, eles encontram uma condição de neutralidade e menor insegurança em serem considerados inaptos ou vulneráveis por seus gestores diante de alguma declaração”, relata.

O limite da tecnologia

Para Fabiana Tavolaro Maiorino, psicóloga e colaboradora do Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo, a preferência por automatizar o atendimento psicológico pode evidenciar um contexto de curiosidade e exploração de novos vieses.
“Estar aberto a uma experiência com um psico robô pode indicar, talvez, uma curiosidade social em explorar ainda mais as potencialidades das tecnologias que têm se mostrado imensas ao longo das décadas”, aponta Maiorino.
No entanto, ela afirma que é preciso ter uma visão mais crítica e aprofundada para um dado de tamanha relevância. Segundo a especialista, ao preferir relacionar-se um com um robô, o paciente está, antes de mais nada, negando a interação humana, o que pode ser um indicativo preocupante para diferentes quadros sociais e psicológicos. “Ao preferir uma tecnologia ao terapeuta falível, escolhe-se não lidar com outro humano. O que isso realmente pode estar indicando?”, indaga.
Para ela, as empresas devem tirar proveito das novas tecnologias, mas devem ser cautelosas ao utilizá-las como ferramentas de monitoramento de resultados e desempenho, por exemplo.
“As empresas podem usar as TICS (Tecnologias de Comunicação e Informação) para melhorar a rede de comunicação interna de uma organização, para avaliar conjuntamente com outras técnicas o desempenho dos seus sujeitos, mas usá-las como gestores do sofrimento humano é completamente equivocado”, pontua.

Oportunidades no atendimento psicológico

Mesmo com ressalvas, o cenário é favorável para o crescimento de empresas e plataformas que apostam no atendimento psicológico virtual. Esse é o caso da Vitalk, startup que oferece soluções para saúde mental de trabalhadores através de conversas com a assistente virtual, batizada de Viki. Fundada no início de 2019, a Vitalk viu o número de empresas que utilizam o serviço quadruplicar em quatro meses durante a pandemia, chegando a 200 mil usuários ativos da Viki.
Viki é a inteligência artificial desenvolvida pela Vitalk para atendimentos psicológicos online.
Viki é a inteligência artificial desenvolvida pela Vitalk para atendimentos psicológicos online.
“A Viki foi desenhada para ser um robô amigável, com o perfil de uma psicóloga, que tenta simplificar conceitos psicológicos de uma forma que as pessoas possam entender e se sintam engajadas a interagir”, explica Michael Kapps, co-fundador e CEO da TNH Health, startup responsável pelo desenvolvimento da Vitalk.
A Viki, segundo Kapps, é capaz de realizar um pré-diagnóstico para quadros de estresse, ansiedade, síndrome de burnout, insônia, entre outros. Além disso, ela explica riscos, encaminha o ‘paciente’ para para o atendimento correto e manda mensagens durante a semana, sugerindo exercícios como mindfulness e respiração, sempre de acordo com a recomendação do psicólogo licenciado.
Vitalk viu o número de empresas que utilizam o serviço quadruplicar em quatro meses durante a pandemia, chegando a 200 mil usuários ativos da Viki.
Vitalk viu o número de empresas que utilizam o serviço quadruplicar em quatro meses durante a pandemia, chegando a 200 mil usuários ativos da Viki.
“Quanto mais você fala com a Viki, mais personalizada fica a conversa”, explica o CEO. “Temos estudo que mostram que, ao usar a Viki por oito semanas, já há uma redução de até 30% nos impactos de alguns problemas mentais”, conta.
Para ele, a tecnologia ajuda na democratização do acesso ao atendimento psicológico no país. "Temos a vantagem de oferecer serviço de igual qualidade, com acesso a psicólogos reais, por um terço do valor de uma terapia convencional', conta.

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