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Ricardo Cansian, fundador da RAC Engenharia, empresa que há oito anos investe em tecnologia e inovações no setor de construção civil. Foto: Sade Produções/Bruno Debiasi.

Ação Inovadora

Indústria da construção civil fortalece inovação com trabalho colaborativo e tecnologia BIM

Fernando Henrique de Oliveira, especial para GazzConecta
14/09/2020 12:10
O caminho parecia ser de retomada, mas os últimos dados da produção industrial do Paraná, divulgados na última quarta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontaram para uma leve retração do setor. Em relação a junho, o estado teve queda de 0,3% da produção em julho, revertendo o ritmo de recuperação verificado nos dois últimos meses do primeiro semestre de 2020.
Em comparação com julho do ano passado, o resultado segue sendo negativo (-9,1%). No acumulado do ano, a produção industrial fechou com saldo de -8,6%. De acordo com os dados da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), o setor automotivo continua sendo o mais impactado pela pandemia do coronavírus, apresentando -42,4% de queda em julho, seguido pelos segmentos de bens de capital (máquinas e equipamentos), com retração de -34,9%, e de produtos de madeira (-13,5%).
A inversão da curva de
crescimento da produção no estado evidencia o cenário de incertezas que o setor
vem enfrentando ao longo do ano. No entanto, se o volume produzido não atingiu
níveis esperados, a indústria do Paraná pode comemorar um índice importante. O
setor liderou o ranking de oferta de empregos em julho, com um total de 6.560
novos contratos de trabalho.
Segundo os dados do Novo Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), disponibilizados pela Fiep,
esta é a segunda alta consecutiva do ano – em junho, a indústria já havia
registrado saldo positivo de 1.500 novas vagas. O setor da construção civil foi
o segundo a apresentar alta no mês, com 2.003 novos empregos, liderando a
oferta de vagas no acumulado do ano (9.293 novos postos de trabalho no total).

Novas oportunidades

A oferta de empregos no setor de
construção civil indica um aquecimento da atividade no estado nos últimos meses.
No caso da RAC Engenharia, de Curitiba, a pandemia contribuiu para que novos
projetos fossem fechados, aumentando o número de contratações temporárias em
obras em diferentes locais do Brasil.
De acordo com o Ricardo Cansian, proprietário da RAC, novas demandas fizeram aumentar o número de contratações. “Toda a cadeia produtiva do segmento de engenharia percebeu essa demanda nos últimos meses”, comenta o engenheiro que entregou, durante a pandemia, dois grandes hospitais, o Erastinho, em Curitiba, e o Centro Hospitalar para a pandemia de Covid-19 do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, hospital de alta complexidade com 9,2 mil m² no Rio de Janeiro, com projeto e obra concluídos em tempo recorde de 50 dias.
A empresa ainda conquistou dois
projetos de caráter emergencial na área da saúde durante a pandemia, como uma
nova fábrica de vacinas para a gripe H1N1 para o Instituto Butantan, em São
Paulo, e um centro de testagem sorológica para Covid-19 também da Fiocruz, no
Rio de Janeiro, concluído no último mês.
Segundo Cansian, a RAC se
especializou em projetos para a área da saúde ao longo dos seus quase 20 anos
de atuação, com projetos em seis estados brasileiros. Mas o fator determinante
para a aquisição de contratos como os da Fiocruz, além de cumprir com todos os
aspectos técnicos exigidos nas licitações, é o tempo.  “E, para isso, é fundamental a inovação e
tecnologia para auxiliar no desenvolvimento dos projetos e execução das obras
com agilidade e eficiência”, revela.

BIM: ferramenta de inovação

Dentre as soluções inovadoras no setor de engenharia desenvolvidas pela empresa nos últimos anos, está a implementação da tecnologia BIM nos processos de modelagem, planejamento, orçamento e execução dos projetos. Apesar de o Building Information Modeling (BIM) ou Modelagem da Informação da Construção ser um assunto já debatido no meio acadêmico desde a década de 1970, foi nos últimos dez anos que o Brasil acompanhou mais de perto o avanço deste conceito ou metodologia aplicado na gestão de projetos, de acordo com a coordenadora de negócios do Instituto Senai de Tecnologia em Construção Civil, Letícia Gonçalves.
“O BIM ainda representa uma enorme inovação para a indústria da construção no Brasil. Ele é uma tecnologia que permeia todo o ciclo de vida de uma edificação, integrando diferentes aspectos de uma obra em uma modelagem tridimensional, concentrando as inúmeras informações necessárias para gestão do projeto. Em outras palavras, o BIM é capaz de integrar todas as disciplinas envolvidas em uma construção, como projeto arquitetônico, hidráulico, elétrico etc. Além disso, ele é capaz de assimilar os diversos tipos de informação de cada uma delas, como custo, especificação de material, tempo de execução, entre outras. Dessa forma, é possível criar uma simulação virtual da construção, com detalhes da execução antes de iniciar a obra”, explica Letícia.
Letícia Gonçalves, coordenadora  de negócios do Instituto Senai de Tecnologia em Construção Civil. Foto: Divulgação.
Letícia Gonçalves, coordenadora de negócios do Instituto Senai de Tecnologia em Construção Civil. Foto: Divulgação.
A utilização desta metodologia, segundo a coordenadora no Senai, ganhou maior força nos últimos dois anos, depois que um decreto do então presidente Michel Temer instituiu a Estratégia BIM BR, que exige a utilização do BIM nas compras do poder público de forma escalonada a partir de 2021. “Há uma razão para esta exigência. Com o uso do BIM, é possível maior definição do projeto e precisão do planejamento, reduzindo assim incertezas, interferências e retrabalhos, antecipando riscos que poderiam surgir na etapa de execução obras, o que reflete diretamente na redução da celebração de termos aditivos e desperdícios", comenta.
"Além disso, a tecnologia é capaz de prever com maior precisão os custos e o tempo de execução de uma construção,garantindo mais eficiência, transparência e sustentabilidade”, completa Letícia, que também é responsável pelo Programa de Residência BIM do Senai, que busca implementar a tecnologia em construtoras, incorporadoras e escritórios de projeto, além de auxiliar na formação de profissionais especializados no tema.

Força da tecnologia

Uma das primeiras empresas
paranaenses a incluir a metodologia em seus projetos, desde 2012 a RAC se
dedica a desenvolver soluções mais eficientes de engenharia com a utilização do
BIM. A empresa, inclusive, criou a BPRO Smart BIM, uma spin-off de desenvolvimento de estratégias e inovações em
construção com a aplicação da tecnologia.
“O BIM traz uma mudança radical
na forma como entendemos e executamos um projeto, abrindo espaço para o
desenvolvimento de novos softwares, novas startups e novas soluções em
edificações. Este caminho de inovação nos levou a não só explorar a metodologia
em projetos para sermos mais assertivos, mas também a abrir um campo de
parcerias com startups que possibilitassem uma maior integração de tecnologias
aplicadas à construção civil, um setor em que a inovação sempre foi um desafio”,
avalia Cansian.
O trabalho colaborativo permitiu que a RAC também desenvolvesse um método de monitoramento da qualidade dos ambientes construídos a partir de simulações nas quais o BIM é aplicado. “Por meio de sensores, conseguimos ter acesso a informações relativas à qualidade do ar, ao consumo de energia, à iluminação e outros aspectos relativos ao conforto e à sustentabilidade dentro do ambiente construído com a finalidade de atingir mais sustentabilidade e garantir melhor qualidade de vida para o ocupante daquele espaço”, conta. A ferramenta desenvolvida pela empresa já está sendo testada no Erastinho, primeiro hospital oncopediátrico do Paraná, inaugurado no dia 1º de setembro em Curitiba.

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