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Pequeno e conectado à internet, o minilaboratório da Hilab permite que exames sejam realizados em qualquer lugar.

Ação Inovadora

Inteligência artificial e internet das coisas vão melhorar experiência dos pacientes na saúde

Vivian Faria, especial para GazzConecta
28/09/2020 11:00
Não é de hoje que o setor de saúde e as tecnologias andam juntos. Basta pensar nas pesquisas da indústria farmacêutica, nos equipamentos utilizados em exames e até nos aplicativos de planos de saúde. Porém, para representantes do setor, o uso de variados tipos de tecnologia na prestação de serviços de saúde deve ser intensificado nos próximos anos. Com isso, o modelo atual, considerado fragmentado, pouco preocupado com a experiência do paciente e voltado quase que exclusivamente para o tratamento de doenças - modelo chamado “sickcare” - possa ser mais humano, democrático e preventivo.
“Queremos parar de olhar para esse modelo fragmentado e hospitalista, para começar a olhar a experiência do paciente na questão da saúde. O paciente hoje passa por uma rotina gigantesca para poder ter um diagnóstico, porque o modelo não está centrado nele”, afirma o médico neurologista Victor Gadelha, que também é coordenador do programa de fomento para inovação e empreendedorismo em saúde da PUCPR, o HiPUC.
Uma das tecnologias consideradas essenciais para essa transformação de paradigma é a telemedicina, que consiste no uso de dispositivos e softwares para a prestação de serviços de saúde à distância. Devido à pandemia de Covid-19, uma série de atividades do âmbito da telemedicina que ainda não eram regulamentadas no Brasil passaram a ser permitidas, como as teleconsultas, o que ajudou a desmistificá-las. “Tinha-se muito medo que as teleconsultas pudessem dificultar diagnósticos, mas na verdade, o que se viu foi que elas têm que ter um método de atendimento. Não é teleconsulta versus atendimento presencial, eles se somam”, diz o presidente da Associação Médica de Umuarama, Fábio Augusto de Carvalho.
Para ele, as primeiras consultas são um tipo de atendimento que deve continuar acontecendo presencialmente, para que médico e paciente se conheçam e a avaliação física seja feita. Já o acompanhamento de pacientes antigos pode, por vezes, ser feito à distância. “E em algumas situações a teleconsulta vai ser uma triagem. O médico vai ver qual é o caso e pode dizer: ‘olha, você vai precisar de um atendimento presencial’”, diz.
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Roberto Issamu Yosida, é o reconhecimento desse limite que precisa ser pensado. “No fundo, os telefonemas de antes eram telemedicina. Hoje, a tecnologia evoluiu a ponto de termos imagem, mas temos limitações e muitas vezes você não consegue dar um diagnóstico sem palpar o paciente. Então, a grande discussão é até que ponto dá para usá-la”, afirma.
Mesmo com questões a serem discutidas, há no setor uma expectativa de que a telemedicina ajude a, entre outras coisas, otimizar o tempo do médico e proporcionar uma melhoria nas rotinas dos pacientes, evitando deslocamentos desnecessários, por exemplo. Além da teleconsulta, devem contribuir para isso o telemonitoramento, que é o controle de dados de saúde dos pacientes à distância; o telediagnóstico, que já é regulamentado desde 2014 e permite que radiologistas emitam laudos à distância; e a teleducação em saúde, que deve aumentar a divulgação de informações sobre saúde, empoderando e dando autonomia ao paciente - o que será essencial para que o setor possa focar na prevenção de doenças.

Internet das coisas e inteligência artificial

Outro conceito tecnológico importante para o futuro do setor é a internet das coisas, que vai viabilizar alguns aspectos da telemedicina, como o telemonitoramento, contribuindo para tornar a saúde mais preventiva. Os primeiros passos para isso já vêm sendo dados: nos últimos quatro meses, a Anvisa liberou as funções de medir pressão e verificar batimentos cardíacos nos relógios inteligentes - ou seja, que se conectam à internet - da Apple e da Samsung. Mesmo com a ressalva de que as informações detectadas pelos dispositivos não substituem exames médicos, o aval indica um reconhecimento de que esse monitoramento pode salvar vidas.
A internet das coisas também pode contribuir para a democratização do acesso a serviços de saúde - que é a proposta do laboratório Hilab, criado pela startup curitibana Hi Technologies. Usando pequenos equipamentos conectados à internet, o Hilab realiza exames de sangue remotamente: um profissional capacitado colhe o material e coloca-o no dispositivo, que digitaliza as informações encontradas no sangue e as transfere para o laboratório central, onde biomédicos as analisam e emitem o laudo.
“O Brasil ainda é um país em que os exames de sangue são muito desiguais: tem pessoas que têm acesso a laboratórios muito bons e tem aquelas que não têm acesso. Então, o primeiro ponto do Hilab é quebrar essa diferença. Temos um equipamento pequeno e extremamente escalável, que permite que eu faça um exame no meio da Amazônia com a mesma qualidade que eu faço em São Paulo”, afirma o CEO e co-fundador da Hi Technologies, Marcus Figueredo. Conforme ele, por trabalhar com informações digitais, os dados coletados também podem ser fácil e rapidamente usados para nortear a gestão da saúde. É o que vem ocorrendo no caso dos exames para Covid realizados pelo Hilab.
Aliás, a digitalização de informações de saúde também vai gerar bancos de dados que, ao serem associados com informações sobre doenças e protocolos, podem ser usados para o reconhecimento de padrões para fazer diagnósticos, recomendar tratamentos e até prever problemas de saúde - tudo isso graças à inteligência artificial. “A partir do momento em que tenho um banco de dados dos últimos cinco anos de pacientes que tiveram, por exemplo, diabetes, consigo colocar o computador para aprender isso e auxiliar no diagnóstico, aumentar a eficiência dos processos, reduzir custos. Então, a inteligência artificial é uma ferramenta muito importante, principalmente para a medicina preventiva e a de precisão”, afirma Gadelha.
Assim como no caso da telemedicina - e de toda tecnologia em saúde -, o uso da inteligência artificial gera discussões sobre como armazenar e utilizar os dados de maneira ética. “A tecnologia permite que tenhamos dados muito ‘de dentro da pessoa’, que monitoremos vários parâmetros de saúde. Então, como será o tratamento desses dados?”, questiona o presidente do CRM-PR. Ainda assim, ele reconhece que, se bem utilizadas, essa e outras tecnologias serão benéficas. “Se algo pode ser feito automaticamente, você não precisa gastar energia para aquela finalidade”, resume.

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