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A advogada pernambucana Karla Capela Morais, CEO da startup Koy, foi a única latino-americana reconhecida na edição 2020 do prêmio Women Leaders in IA , da IBM.

Inteligência Artificial

Advogada brasileira é única latino-americana a receber prêmio de liderança em IA

Patrícia Basilio, especial para o GazzConecta
20/05/2020 17:25
O Brasil acaba de se juntar a países referência em tecnologia, como Japão, Alemanha e EUA, em uma premiação global sobre inteligência artificial. A advogada pernambucana Karla Capela Morais, CEO da startup Koy, foi a única latino-americana reconhecida na edição 2020 do prêmio Women Leaders in IA (Líderes Femininas em Inteligência Artificial). Organizada pela IBM, a iniciativa destaca 35 empreendedoras que fomentam a transformação, o crescimento e a inovação em diversas indústrias por meio da IA.
Advogada há aproximadamente duas décadas, Karla se encontrou na tecnologia quando um dos clientes de seu escritório, Raimundo & Capela,  comunicou que o sistema de remuneração seria alterado, o que impactaria diretamente no fluxo de caixa da empresa. Incomodada com a situação, ela decidiu criar uma tecnologia que pudesse reverter o quadro, por meio de metodologias ágeis de trabalho.
“Tivemos o desafio de unificar os sistemas da Justiça brasileira e entender os dados, já que temos 200 sistemas no país”,  lembrou ela. Para esta tarefa a advogada adotou o Watson, a plataforma de serviços cognitivos da IBM para negócios.
Com a eficiência do procedimento, Karla garante que conseguiu recuperar R$ 330 milhões em descontingenciamento para um único cliente, em dois meses, e aumentar em 30% de receita de parceiros no primeiro mês de implantação do sistema. “Reforçar exemplos de mulheres bem-sucedidas faz a diferença no mundo. Traz um gostinho especial. Falamos de uma empreendedora, não só de uma mulher que está à frente de um time. Quando uma mulher é reconhecida, todas são”, definiu Marcela Vairo, diretora de data e IA da IBM para a América Latina.
Confira bate-papo do GazzConecta com a empreendedora abaixo:

Qual projeto da Koy foi reconhecido pela IBM?

Por meio do Watson, usamos inteligência artificial e machine learning para otimizar processos em escritórios advocatícios e departamentos jurídicos. Quando iniciamos o projeto no escritório Raimundo & Capela [o qual é sócia], tivemos o desafio de unificar os sistemas da justiça brasileira e entender os dados, já que temos 200 sistemas diferentes no país. Os dados não são padronizados, mas o Watson consegue ler em linguagem natural e aprender a cada leitura realizada. Na época, em 2017, foi um desafio muito grande para nós [realizar o projeto] porque o Watson era mais conhecido na área médica. Ele era um bot pouco usado na área jurídica.
Hoje, chegamos a um desenho com quase 100% de acurácia que permite antecipar bloqueios judiciais [bloqueio de dinheiro]. Entregamos visão estratégica ao negócio. Não à toa, a tecnologia começou a ser utilizada para automatizar algumas tarefas, como o exame inicial de uma ação jurídica. Para se ter uma ideia, enquanto um advogado leva uma hora e meia para ler um processo, nossa tecnologia leva seis segundos. E essas leituras vão acontecendo de maneira imediata, just in time.

Que retorno a tecnologia trouxe para o escritório?

Com a plataforma conseguimos recuperar R$ 330 milhões em descontingenciamento para um cliente [não revelado] em dois meses e aumentar 30% de receita de parceiros no primeiro mês de implantação do sistema. Além disso, com a inteligência artificial, os advogados podem utilizar o tempo disponível para fazer um trabalho mais humano e criativo. Não faz sentido realizarmos tarefas burocráticas que prejudiquem nossa criatividade e inteligência.
A inteligência artificial faz essa humanização. Não vejo um futuro próximo sem isso. Numa era de dados compartilhados, precisamos de tecnologias processem as informações, senão teremos apenas bancos de dados [sem utilidade]. Precisamos utilizar as informações de forma estratégica, e é isso que fazemos na Koy.

Quanto tempo levou para o projeto ser desenvolvido?

Foi rápido, mas doloroso [menos de um ano]. Como a inteligência artificial “aprende” conforme desenvolvemos a tecnologia, nosso objetivo é que ela seja cada vez mais fácil para a ponta [usuário final]. Como sou advogada, tenho medo de apertar botão, então posso garantir que o sistema é fácil.  Não consigo enxergar uma outra tecnologia que faça frente ao Watson porque as pessoas que fazem treinamento para aprender a aplicação não são cientistas. Ou seja, não são programadores ou engenheiros da computação.
Obviamente, tive ajuda para treinar o time jurídico e tenho uma equipe de tecnologia porque o sistema é trabalhoso e envolve muitas pessoas, mas o desenho do racional não foi o maior desafio. Como a solução partiu de uma dor real que eu mesma senti, não foi difícil estruturá-la.

Como foi criada a sua startup?

Começamos a Koy dentro do escritório em 2016, com base na necessidade de um cliente, segunda maior seguradora do país. Não achei a solução que meu cliente precisava e decidi criá-la. Queria um sistema fácil de usar, que reunisse dados da Justiça e que fosse capaz de ler e decifrar uma série de dados. Escolhemos o Watson, da IBM.
No ano passado, fomos acelerados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para construir os cases, afinal não adianta construir uma tecnologia e ela não ser adotada. Hoje, a "Norma" [como o sistema completo foi batizado] funciona em 20 outras empresas e gerencia um total de 30 mil processos. Quando a gente estava explorando o mercado, fomos surpreendidos com a indicação da IBM.

O que o prêmio pode trazer para seu negócio?

As mulheres que foram premiadas comigo são de empresas enormes e saber que estamos alinhados a esses projetos é maravilhoso. Devolvemos o cérebro às pessoas e deixamos que elas utilizem a credibilidade delas. Quando você reconhece a pluralidade, você incentiva que ela aconteça. Ser um startup parceira e reconhecida pela IBM gera um impacto gigantesco para qualquer empreendedor. É notoriedade internacional. Para uma startup, o efeito é ainda maior porque tudo é mais difícil no começo. Como somos pequenos, há uma descrença inicial no negócio.

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