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Marca mais valiosa da América Latina

“Alibaba latino”: como o Mercado Livre pretende entregar em até 24h em todo o país

Patrícia Basilio, especial para o GazzConecta
13/08/2020 21:40
Há 21 anos no setor de comércio eletrônico, o Mercado Livre passou de intermediador de compra e venda de produtos para ser considerado o “Alibaba latino-americano” — marketplace com avançado sistema logístico, cuja meta é operar em todo o país no modelo last mile (que prevê uma entrega em tempo médio de 24 horas). Hoje, 70% dos pedidos entregues pelo sistema privado da companhia chegam em menos de dois dias.
Na semana passada, a marca se tornou a mais valiosa da América Latina com ações na Bolsa, na frente da mineradora Vale. E o resultado não se deu por especulação do mercado: com o isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus, as vendas da empresa saltaram 123,4% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2019 (chegando a US$ 878,4 milhões).
Para sustentar esse aumento de vendas, o Mercado Livre possui uma malha logística independente e conta com 70 parceiros, entre eles a Azul e a startup Kangu. Em junho, a empresa argentina anunciou a construção de um centro de distribuição em Lauro de Freitas (BA) para aumentar a capilaridade no Nordeste — o armazém será o terceiro da companhia, sendo que os outros dois ficam em São Paulo (Cajamar e Louveira).
No segundo trimestre, o Mercado Envios — ferramenta para cálculo de frete e envio de mercadorias — despachou 157,5 milhões de itens, uma alta de 124,2% em relação ao mesmo período de 2019. “Temos uma integração quase que umbilical para garantir maior rastreabilidade ao processo e assegurar ao comprador que o produto dele está chegando”, afirmou Luiz Vergueiro, diretor de operações do Mercado Envios no Brasil, em entrevista exclusiva ao GazzConecta.
Luiz Vergueiro, diretor de operações do Mercado Envios no Brasil.
Luiz Vergueiro, diretor de operações do Mercado Envios no Brasil.
Confira a entrevista completa abaixo:
O Mercado Livre teve alta de 123% nas vendas no segundo trimestre do ano. A que credita esse resultado?
A gente tem construído uma malha logística independente e conta com 70 parceiros para fazer integrações, como Azul Cargo Express, Kangu, D&C Cargas e Logística e os próprios Correios. Tentamos sempre nos conectar com a melhor velocidade possível, seja por transferência rodoviária ou aérea. E o que sustenta isso são os sistemas.
Temos uma integração quase que umbilical para garantir maior rastreabilidade ao processo e assegurar ao comprador que o produto dele está chegando. A nossa meta é entregar os pedidos no menor prazo possível, no modelo last mile. No segundo trimestre, o Mercado Envios conseguiu enviar 157,5 milhões de itens, representando um crescimento de 124,2% em relação ao ano anterior.
O lançamento de novos centros de distribuição está relacionado à proposta de expansão do Mercado Envios Full?
Também. O Full é um galpão onde armazenamos os produtos de nossos vendedores e aguardamos a venda para envio à nossa malha de distribuição. Os produtos vão até pequenos centros de entrega, que fazem a última ponta do processo logístico. Atualmente, mais de 70% das entregas realizadas pelo Full chegam aos clientes em menos de dois dias no país. Há um ano, esse percentual era de 55%.
Nosso novo centro de distribuição em Salvador (BA), lançado em junho, vai atender a região Nordeste com prazos menores que os atuais. Em Louveira, interior de São Paulo, por exemplo, temos produtos de milhares de vendedores diferentes, desde um pendrive até micro-ondas e frigobares.
Uma parcela do mercado considera vocês o futuro Alibaba do Brasil. Vocês concordam com essa comparação? 
Nosso objetivo é liderar o e-commerce na América Latina, mas ainda temos muito caminho a percorrer. Não dá pra comparar a penetração do comércio virtual na China com a do no Brasil. Vamos continuar avançando de acordo com o que a tecnologia e a infraestrutura do país puderem oferecer.
No Brasil, por exemplo, existe dificuldade de acesso a crédito e alto número de desbancarizados —  problemas que tentamos mitigar com nossa unidade do Mercado Pago. Quando falamos de comércio, há também um desafio de infraestrutura logística porque o país tem uma grande extensão territorial. Por isso, buscamos soluções tecnológicas e oportunidades para chegar a esses locais com o menor custo possível e poder atender consumidores que estão esperando o produto chegar.
Como vocês pretendem aumentar a capilaridade no país, principalmente em regiões de difícil alcance?
Esse movimento no Nordeste, com o novo centro de distribuição, faz parte do avanço em nossa distribuição. A ideia é levar os produtos para mais próximo dos consumidores e construir uma malha logística. Isso é aumentar a capilaridade. Mas é um processo gradativo.
Estamos conscientes de nossos investimentos e não queremos chegar a qualquer lugar a qualquer custo. As estruturas logísticas que desenvolvemos tentam baratear ao máximo o transporte para que a gente leve a maior quantidade de produtos a essas regiões, ocupando os nossos veículos o máximo possível. Também contamos com parceiros que têm mais acesso a essas regiões, como transportadoras locais e os próprios Correios.
Quais aprendizados o Mercado Livre está tirando neste período de pandemia?
Aprendemos que precisamos cuidar das pessoas. Quantos profissionais ficavam doentes por gripe ou outras doenças menos graves e a gente não se importava tanto. Esses cuidados com o próximo devem seguir com a gente daqui para frente. Em termos de produção, a gente se estruturou para atender essa demanda: agregamos 6.270 colaboradores terceirizados e contratamos 430 profissionais de março até agora no Brasil, adotamos métodos produtivos de trabalho, como modelos de gestão e kanban, e investimos em tecnologia.
Quais tecnologias o Mercado Livre utiliza em seus processos de logística?
Quando falamos de tecnologia, todos nossos sistemas são desenvolvidos internamente na Argentina e no Brasil, inclusive nosso aplicativo. Por isso, nossa expectativa é contratar 400 especialistas apenas para o setor de tecnologia da informação na América Latina até o final do ano.
Dentro dos nossos armazéns, temos sistemas que nos ajudam a suportar processos que não agregam valor à empresa, como levar os produtos de um lugar a outro — tarefa realizada atualmente por esteiras mecânicas. Além disso, usamos inteligência artificial para encontrar os produtos no lugar onde eles estão guardados e colocá-los nos pacotes. Como o dólar e o custo de importação estão altos, robôs ainda não se pagam dentro de nosso prazos.
E como fazem o rastreio dos produtos no Mercado Envios?
Temos um sistema desenvolvido internamente para rastrear os pacotes desde que eles saem de nossos centros de distribuição até quando eles chegam na casa das pessoas. Quando o transportador chega de manhã ao nosso CD, ele registra o carro com a leitura de um código QR e faz o login com o usuário em nosso aplicativo e registra cada um dos pacotes que coloca no carro. Assim, nosso sistema sabe qual pacote está com qual motorista e em qual carro.
Além disso, consegue calcular qual é a melhor rota e a ordem de entrega das encomendas. A cada momento que o motorista marca um pacote como entregue, o sistema fica sabendo. Outra informação interessante é que o sistema captura a latitude e a longitude do motorista durante o trajeto. Desta forma, a gente confere se o pacote foi entregue no local correto e pode ajustar possíveis discrepâncias.

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