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Daniel Ferraz, da Cargo X, que recebeu investimento em abril: “Ninguém teve um sobreaviso sobre a crise. A gente se preparou para o pior. Assim, se vier o melhor, a gente estará pronto”.

Unicórnios

Brasil deve ter menos unicórnios em 2020 por conta da crise do coronavírus

Patrícia Basilio, especial para GazzConecta
17/04/2020 21:33
Em 2019, cinco startups brasileiras atingiram valor de mercado acima de US$ 1 bilhão e entraram no cobiçado clube dos unicórnios. Com o resultado, o Brasil conquistou o terceiro lugar no ranking dos países com maior número de novos negócios bilionários. Para 2020, a expectativa era ainda melhor: a economia do país indicava recuperação e a Loft havia se tornado unicórnio no início de janeiro para aguçar os ânimos do mercado.
Em março, contudo, a crise do coronavírus derrubou a economia global e obrigou as startups a revisarem planos e enxugarem gastos — a palavra da vez se tornou sobreviver.
“O ano passado foi muito bom, com crescimento e aquisição de startups. A gente esperava que 2020 fosse continuar assim. Agora a expectativa é que elas sobrevivam. Obviamente, algumas vão sair bem disso, como as de telemedicina e de trabalho remoto, mas acredito que elas não estejam mais pensando em se tornar unicórnio agora”, analisou Renata Favale Zanuto, co-head do Cubo Itaú, maior hub de inovação da América Latina.
Na avaliação da especialista, tanto as grandes empresas quando as startups deram um passo para trás em seus planos para pensar no que fazer diante da crise, como cortar custos e investir em inovação para adaptar produtos ou serviços. “Algumas startups estão perdendo valor, o que pode acelerar a aquisição por grandes empresas. Talvez esse seja o momento para nos unirmos e fortalecermos o ecossistema”, sugere Renata.
Entre as empresas cotadas para se tornar unicórnio este ano está a Cargo X, que captou US$ 80 milhões este mês em sua quinta rodada de investimentos.
“Ninguém teve um sobreaviso sobre a crise. A gente se preparou para o pior. Assim, se vier o melhor, a gente estará pronto”, afirma Daniel Ferraz, diretor financeiro da startup de logística, que promete conectar empresas a transportadores. 
De acordo com o executivo, 40% das despesas consideradas desnecessárias pela empresa foram cortadas, como custos com marketing e treinamentos. “Estamos muito focados em ter uma operação saudável em termos de caixa. Tem startup que vai sofrer e tem outras que vão sofrer menos, porque o negócio é fundamental para a economia. Operamos um milagre com a rodada de investimento que recebemos”, admite Ferraz.
A Creditas também era cogitada para entrar no clube do US$ 1 bilhão pelas principais empresas de pesquisa do país e do exterior. Recentemente, a fintech de crédito realizou um corte de pessoas, mas garantiu que as demissões foram realizadas por mau desempenho, e não pela crise.

Queda nas contratações

Em live nesta quinta-feira (17/4), a diretora de operações da Creditas, Ann Williams, afirmou que reduziu a contratação para “quase zero” e colocou 400 funcionários de férias este mês. Além disso, destacou que a liderança abriu mão do próprio salário por alguns meses — o período, contudo, não foi relevado pela fintech.  “Parece que a gente piscou e o mundo mudou. Agimos rápido para colocar todo mundo remoto”, afirmou a executiva na conferência online promovida pela empresa.
No mesmo debate virtual, Nicolas Szekasy, cofundador do fundo Kaszek Ventures, afirmou o setor  de negócios e inovação vai passar por tempos difíceis, uma vez que a crise é global. No entanto, sairá na frente quem tem um negócio resiliente. “Sairemos fortalecidos”, garante ele, que ainda vê espaço para investimento em venture capital no Brasil.
Considerado o “Uber dos ônibus”, a Buser deixou de operar em março por conta da quarentena após registrar de 20% a 30% ao mês. Para não entrar no vermelho, Marcelo Abritta, cofundador da startup, disse que rescindiu alguns contratos mensais, como serviços de segurança para os ônibus — já que não está operando. “As empresas não vão quebrar. Elas vão postergar todas as contas e, quando a roda voltar a girar, elas vão voltar e renegociar. Estamos utilizando o tempo livre para trabalhar com controladoria financeira e automatizar processos internos”, afirma Abritta.
Apesar do crescimento da empresa, o empreendedor garante que não pensa em ver o negócio se tornar unicórnio este ano, nem quando a crise passar. “Não pensamos nisso esse ano. Se não, nossos 57 funcionários vão achar que vamos virar a Amazon em três anos, e não é bem assim”, brinca o empresário.

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