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Da esquerda para a direita, as moderadoras Carolina Dassiê (Hisnek) e Bianca Machado (Catho), Jean Soldatell, da Santo Caos, e Djalma Scartezini, da EY.

Inclusão

O que fazer para – de fato – incluir as pessoas com deficiência no mercado de trabalho

Patrícia Basilio, especial para a Gazeta do Povo
23/11/2019 18:39
A lei de cotas para pessoas com deficiência (PCDs) está em vigor há 28 anos, mas ainda há uma série de obstáculos para que haja uma verdadeira inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho. A maioria das empresas não cumpre as cotas mínimas, e os profissionais nessa condição ocupam quase sempre vagas operacionais.
Levantamento da consultoria Santo Caos, em parceria com a Catho, aponta que apenas 4% dos trabalhadores brasileiros nessa condição são gerentes, 0,4% são diretores e 0,2%, vice-presidentes ou presidentes de empresas. A ampla maioria está empregada como assistente (caso de 57%) ou analista (17%).
Na avaliação de Jean Soldatelli, sócio-fundador da Santo Caos, especializada em diversidade, as empresas precisam entender que contratar pessoas com deficiência não é trabalho social, mas oportunidade – inclusive de lucro. “Só aprendemos a lidar com PCDs lidando com eles no dia a dia. Há 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil e apenas 2% delas estão empregadas”, disse ele em debate organizado pela Dasa no Cubo Itaú, hub de empreendedorismo sediado em São Paulo.
Senior manager de diversidade e inclusão de uma maiores empresas de serviços profissionais do mundo, a Ernst & Young (EY), Djalma Scarternizi contou ter sido vítima de preconceito durante uma reunião de trabalho, quando uma executiva afirmou que PCDs não teriam a qualificação necessária para assumir cargos relevantes nas empresas.
Com uma deficiência na perna, Scarternizi disse ter orientado a colega sobre diversidade e inclusão, estratégia que, para ele, é a que realmente pode transformar a cultura da população. “Todos nós vamos ter uma deficiência no futuro, seja física,  intelectual ou de saúde. A pirâmide etária do Brasil está invertendo e vamos ficar mais velhos que nossos pais”, alertou o executivo.

Só 8% das empresas cumprem as cotas para PCDs

Segundo Soldatelli, da Santo Caos, apenas 8% das empresas cumprem a lei de cotas, percentual que se explica principalmente por mitos criados pela sociedade. “Muitos dizem que os PCDs não querem trabalhar, que eles não podem ocupar postos de alta periculosidade e que o ambiente de trabalho precisa estar adequado para recebê-los. Se há uma vaga para bater prego, o profissional que se candidatar vai bater, não importa como”, garantiu.
Para Scarternizi, da EY, as empresas que contratam PCDs apenas para vagas operacionais, para cumprir cotas, terão de mudar as práticas: "A tecnologia está substituindo postos repetitivos. É necessário contratar pessoas com deficiência para vagas tecnológicas também".
Para que as práticas ligadas à diversidade e inclusão sejam realmente levadas a sério dentro das corporações, é preciso manter diálogo aberto com os profissionais com deficiência, diz Soldatelli.
“Uma companhia criou um programa de home office apenas para os PCDs sem falar com eles. Quando o suposto benefício foi apresentado, eles se sentiram punidos porque a oferta não foi para toda a equipe. O ideal é nunca fazer algo para incluir alguém sem falar com esse alguém”, aconselhou.

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