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Da ideia ao bilhão

Livro conta os bastidores do sucesso de dez unicórnios brasileiros

Aléxia Saraiva
07/10/2020 13:28
Três anos antes de captar seu primeiro investimento, em 2015, quando 95% do faturamento da empresa vinha da Alibaba, o Ebanx recebeu uma oferta de aquisição pela gigante chinesa. A proposta girava em torno de US$ 100 milhões — o que faria os olhos de muitos empreendedores brilhar. Mas os três fundadores da startup curitibana recusaram “para não dar passo em falso”. Quatro anos depois, o Ebanx se tornou o primeiro unicórnio brasileiro — empresas que atingiram o valor de mercado de US$ 1 bilhão — de fora de São Paulo.
Esse é um dos bastidores ainda pouco conhecido revelado no livro “Da ideia ao bilhão: estratégias, conflitos e aprendizados das primeiras startups unicórnios do Brasil”, lançado na última semana pela Portfolio Penguin e escrito pelo jornalista Daniel Bergamasco. Ao longo de 17 capítulos, Bergamasco traça não um perfil, mas as particularidades do sucesso de dez unicórnios brasileiros: 99, Arco Educação, Ebanx, Gympass, iFood, Loggi, Movile, Nubank, QuintoAndar e Stone.
“Toddynho na geladeira, parede grafitada e pufes coloridos podem ser interessantes, mas não é isso que faz empresa nenhuma ser inovadora”, aponta o jornalista. “O potencial de uma startup é proporcional ao tamanho do problema que ela se propõe a atacar — e problema não falta no Brasil, como burocracias e ineficiências. A identidade da inovação brasileira é mais focada no modelo de negócio do que necessariamente em tecnologia disruptiva, além de ser mais cautelosa com gastos”, relata.
A ideia do livro nasceu enquanto Bergamasco cursava um MBA de gestão, inovação e empreendedorismo e percebeu que havia empresas contribuindo para a inovação brasileira com foco não apenas na tecnologia, mas em gestão. “As práticas de gestão de empresas inovadoras são úteis não só para quem está em uma startup, mas para profissionais de qualquer área que querem se conectar com a nova economia”, explica.
A partir da ideia, ele construiu um roteiro do percurso, que foi adaptando ao longo do caminho. O processo de apuração do livro contou com 91 entrevistas, incluindo os fundadores de todas elas, além de ex-funcionários, parceiros e especialistas. Ao todo, o livro levou um ano entre a sua concepção e sua publicação.
Durante as entrevistas, Bergamasco notou uma particularidade entre os empreendedores da nova economia: eles não escondem os erros das empresas por compreenderem que eles integram a jornada. “Normalmente, quando você entrevista empresários, eles querem traçar um PowerPoint lindo em que tudo foi crescendo e evoluindo. Nesse meio, quando eu chegava em perguntas sobre problemas da empresa, a grande maioria não fazia mistério nenhum. O passado de todas têm vários equívocos, mas eles falam sobre isso”.

O dobro de unicórnios brasileiros até 2021

Para Bergamasco, o Ebanx é o unicórnio brasileiro mais representativo da identidade da inovação no país. Primeiro, por atacar uma grande deficiência brasileira, fazendo a ponte entre e-commerces internacionais e o consumidor brasileiro efetuando os pagamentos com métodos locais. Em segundo lugar, por terem demorado para captar o primeiro investimento, mantendo o caixa positivo e o quadro societário original durante os primeiros anos da empresa. Terceiro, por ser o mais sóbrio dos unicórnios brasileiros, no sentido de ter uma sede “menos Google”.
Livro conta que, na época em que o Alibaba negociava fechar parceria com o Ebanx, os chineses visitaram a sede da empresa, que tinha apenas dez funcionários. Para passar uma boa impressão, o CEO da startup arranjou amigos como figurantes, inflando seu número de colaboradores. Na foto, sede em Curitiba.
Livro conta que, na época em que o Alibaba negociava fechar parceria com o Ebanx, os chineses visitaram a sede da empresa, que tinha apenas dez funcionários. Para passar uma boa impressão, o CEO da startup arranjou amigos como figurantes, inflando seu número de colaboradores. Na foto, sede em Curitiba.
Mas, não por acaso, a empresa nasceu em um dos novos polos brasileiros da inovação: Curitiba. Para Bergamasco, a capital paranaense promete entregar novos unicórnios brasileiros em breve, com grande potencial em empresas como MadeiraMadeira e Olist.
Nesse contexto, a aposta do autor é que o Brasil vai dobrar seu número de unicórnios até 2021. A crise ocasionada pela pandemia em 2020 provou que a mentalidade inovadora faz com que as empresas sejam mais resilientes. “Nesse meio, a crise é muito relativa. As empresas passaram por um teste e tanto durante a pandemia, e nenhuma delas quebrou — nem as mais diretamente afetadas, como o Gympass. Esse teste é atrativo para quem quer investir”, aponta.

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