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Rotas Diversidade e Longevidade 2035

Diversidade de gerações torna equipes mais produtivas e criativas, aponta estudo

Gustavo Ribeiro, especial para o GazzConecta
11/08/2020 21:00
A Organização Mundial da Saúde (OMS)
estima que a quantidade de pessoas com idade acima de 60 anos chegue a 2
bilhões em 2050, representando um quinto da população mundial. No Brasil, a
previsão é de que essa faixa etária some 31 milhões de pessoas no mesmo ano. E
diante desse envelhecimento da população, o mercado de trabalho vai precisar,
mesmo que à revelia, se adequar e proporcionar um ambiente mais diverso, com
várias gerações atuando em conjunto. E isso pode ser positivo, inclusive para
os resultados das empresas.
Entre as conclusões do estudo Rotas Diversidade e Longevidade 2035, liderado pelo Centro de Inovação Sesi (CIS) em Longevidade e Produtividade, com cooperação técnica do Observatório Sistema Fiep, está a que mostra que os ambientes laborais com pessoas de várias faixas etárias, inclusive acima dos 60 anos, são mais criativos e inovadores. E isso reflete não apenas na criação de um espaço harmônico entre os colaboradores, mas também no aspecto financeiro, com mais produtividade.
“As empresas devem entender que precisam de um ambiente com mais diversidade. Isso faz toda a diferença em um momento de crise. Quando se promove diversidade, promove-se a inovação”, afirma a coordenadora do CIS Longevidade e Produtividade, Noélly Mercer.
A gerente de Recursos Humanos da Bosch
Curitiba, Paula Pessoa, não tem dúvidas sobre a importância da diversidade.
Para ela, a tomada de decisões e a capacidade de resolver problemas são mais
assertivas em um ambiente intergeracional. “O nível de criatividade e de
inovação aumenta exponencialmente quando ocorrem dentro de times diversos”,
diz.
Apesar disso, ainda existem diversas
barreiras para que as empresas de fato sejam mais diversas e que valorizem o
profissional idoso. A principal delas é o preconceito contra as pessoas mais
velhas, que não é uma exclusividade apenas dos ambientes corporativos, mas da
sociedade como um todo. Enxergar e reconhecer as capacidades dos idosos é,
segundo especialistas, imperativo para um mundo no qual a expectativa de vida
aumenta e a taxa de natalidade reduz.
“O idadismo é um aspecto muito
arraigado na sociedade. É uma questão universal e que vai voltar à pauta de uma
forma muito importante, afinal os idosos são o único grupo da população que
cresce, e se desperdiçarmos esse material humano, teremos problemas”, opina o
médico e especialista em gerontologia e presidente do Centro Internacional de
Longevidade Brasil, Alexandre Kalache.
Quebrar esse preconceito não é simples e exige muito esforço das empresas em planejar e colocar em prática programas de incentivo que sigam no sentido da diversidade etária. Entre as várias ações sugeridas pelo estudo Rotas 2035, estão o investimento em educação, a implementação do uso do conceito de ambiente laboral de todas as idades, a construção de conteúdos informativos sobre sistemas previdenciários e planos de aposentadoria, e mapeamento de modelos de negócio e empreendimentos focados no envelhecimento.
Esse processo, porém, pode ser lento. Mesmo assim, vale a pena, garante Paula Pessoa. “Quando temos várias gerações, temos diversidade e isso geralmente é mais rico e traz decisões melhores. Mas até dar espaço para esses valores, experiências e backgrounds, as discussões levam mais tempo para acontecer. E isso, na velocidade com que as coisas acontecem hoje, é um grande desafio. A diversidade no trabalho é rica, mas dá trabalho e muitas vezes demora.”
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Choque de gerações

Acabar com o preconceito exige um esforço de todas as partes, dos jovens e dos mais velhos. O desafio das empresas é fomentar isso sem que seja algo forçado. E um resultado positivo das ações também depende das próprias pessoas, de quão dispostas estão a ouvir e aprender umas com as outras. O analista de Recursos Humanos, Edilson Santos, trabalha na Bosch há 33 anos. Ele entrou na empresa ainda jovem, em 1987, no setor da portaria. Hoje, com seus 56 anos, sabe que é preciso ouvir para ser ouvido. “Se tiver a cabeça aberta, os choques de geração diminuem”, sugere.
“Eu tenho cabelos brancos e tenho que fazer um esforço um pouco maior porque para os jovens sou velho e ultrapassado. E buscar a interação com os mais jovens acaba minimizando os impactos. A proximidade proporciona trocas e construímos algo bem melhor”, garante Santos.
Para Kalache, o idoso valoriza mais o
trabalho, ele se esforça mais. É difícil, por exemplo, que ele falte ao
trabalho. Com isso, ele acaba se tornando um exemplo, um modelo a ser seguido
dentro das empresas. Como consequência, o ambiente laboral se torna mais
harmônico e as relações intergeracionais melhoram. Há, inclusive, a
possibilidade de transformar os profissionais mais velhos em mentores dos jovens,
passando não apenas o conhecimento, mas principalmente as experiências e as
atitudes. “Muitos chegam a um determinado grau na carreira que aspirava quando
era mais jovem e agora passa a inspirar e instruir os mais jovens, exercendo um
papel de mentor. E isso tem um papel muito importante”, completa o médico e
especialista em gerontologia.
É exatamente esse ponto que Paula
Pessoa reforça, que são as atitudes como exemplos. “Acho que [os jovens] podem
aprender com a maturidade, não necessariamente o conteúdo, mas a forma como
resolver, como lidar com pessoas, como encarar os desafios. Essas são as
grandes oportunidades para os jovens que trabalham com pessoas de outras
gerações”, diz.

Aprendizado ao longo da vida

Há algum tempo, a assistente jurídica Jedalva
Oliveira não imaginava que aos 62 anos prestaria vestibular. Ainda mais quando
há nove anos, aos 55, se viu fora do mercado de trabalho. Mas hoje, aos 64
anos, está no segundo ano do curso de Direito. Uma história que só foi possível
por um desejo próprio de estar sempre atualizada e também por um ambiente de
trabalho que incentiva a busca por qualificação. “Depois de uma certa idade, é
normal se perguntar ‘para que trabalhar?’, ‘para que voltar para a faculdade?’.
Isso é, de certa forma, uma ousadia. Mas é um desafio muito importante”,
comenta.
O fato de trabalhar em uma empresa de
tecnologia ajudou, especialmente depois de ter passado 21 anos em uma
organização que não se atualizava. Em um ambiente com novidades e com
treinamentos constantes, ganhou motivação. E foi assim que acabou mudando de
cargo dentro da Radiante: depois de quase nove anos trabalhando como
coordenadora de Recursos Humanos, aceitou o desafio de partir para a área
jurídica da organização. “Cada dia é uma nova descoberta”, celebra.
Foi assim que Edilson Santos também
conseguiu fazer carreira. Com uma graduação e três especializações, tem certeza
de que essa sede por conhecimento foi responsável pelo crescimento dentro da
mesma empresa, apesar dos vários obstáculos que precisou ultrapassar,
especialmente lá atrás. “Quando comecei na segurança eu sempre procurava fazer
alguma coisa para me atualizar, seja dentro da minha área ou fora. Como eu
trabalhava em revezamento de turno semanal, tinha dificuldade de fazer cursos maiores,
mas sempre buscava cursos no Senac de uma semana. E ao longo do tempo percebi
que era importante para mim, que assim iria crescer como profissional e como
pessoa”, conta.
Os casos de Jedalva e Edilson,
entretanto, não são unanimidade. Mais do que a própria vontade, especialistas
afirmam que as empresas devem ter uma participação importante no aprendizado ao
longo da vida. As organizações que incentivam os colaboradores a se
atualizarem, inclusive com apoio financeiro, acabam ganhando não apenas um profissional
mais qualificado, mas também mais motivado, independentemente da idade.
“Dentro das empresas é preciso trabalhar a manutenção da capacidade, de aprendizagem ao longo da vida. O indivíduo precisa buscar cursos e se atualizar constantemente, porque tudo muda de uma forma acelerada. É importante estudar e trabalhar ao longo da vida”, sugere a coordenadora do CIS Longevidade e Produtividade, Noélly Mercer.
“No Brasil não se investe em aprendizado ao longo da vida. Adquire-se o conhecimento na juventude e para por aí. São raras as empresas que investem em material humano, que é o recurso mais importante que ela tem, seja pública ou privada. Se parar de aprender, acabou. Vai chegar a uma altura da vida, com alto grau de desemprego, que não vai conseguir mais competir”, complementa Kalache.

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