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Três anos em três meses

E-commerce nos EUA fatura US$ 77 bilhões a mais em 2020; Brasil segue tendência

Mariana Ceccon, especial para o GazzConecta
28/07/2020 21:05
A multinacional Adobe divulgou, na última sexta-feira (24), os resultados do Digital Economy Index (DEI), ferramenta oficial da empresa para analisar o poder de compra digital dos consumidores em tempo real. O relatório trouxe o dado de que, entre abril e junho deste ano, o e-commerce nos Estados Unidos faturou US$ 77 bilhões a mais do que o previsto inicialmente pela companhia para este período.
O DEI leva em conta a análise de mais de 1 trilhão de visitas a sites e mais de 100 milhões de produtos, disponíveis em 80% dos principais varejistas online dos EUA. Por este motivo, esta análise é considerada uma das métricas mais fiéis do mercado online disponíveis atualmente.
O relatório também mostrou que, só em junho, o gasto online dos norte-americanos foi de US$ 73,2 bilhões, um aumento de 76% na comparação com números do mesmo mês de 2019, tornando a atividade de compras virtuais mais intensa do que nos períodos de festas de final de ano.
Para os especialistas da Adobe na América Latina, o desempenho do e-commerce estadunidense é um espelho do fenômeno que está acontecendo em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde o modelo econômico tem se inspirado nos vizinhos do Norte.
“Em termos de maturidade digital, o Brasil caminha muito seguindo as tendências dos Estados Unidos. Então temos um cenário no qual as maiores empresas já estavam se preparando para a transformação digital e desfrutaram de um crescimento maior. Mas também há um grande parcela de pequenas e médias empresas que passaram a olhar o comércio eletrônico como uma oportunidade de não só segurar seu faturamento como até expandir os negócios”, explica Stella Guillaumon, general manager na Magento, um companhia Adobe.
Um indicativo de que o e-commerce brasileiro vive momento semelhante são os números divulgados pelas grandes companhias que atuam nacionalmente. O Grupo Carrefour no Brasil, por exemplo, anunciou nesta terça-feira (28) que as suas vendas online (comparáveis) cresceram 75,8% no último trimestre em relação ao mesmo período em 2019.
Mais do que disso, 6 em cada 10 compradores são clientes totalmente novos nesta modalidade, o que sugere uma mudança de hábitos. Para os gestores do grupo, esses resultados representam que o marketplace do supermercado avançou três anos em três meses. E em algumas cidades, como São Paulo e Curitiba, as compras feitas virtualmente já representam respectivamente 14% e 19% do total de vendas da rede inteira, aproximando este modelo de negócio do ponto de equilíbrio.
“O Digital Economy Index nos mostrou que a pandemia revelou dois tipos de compradores: aqueles que intensificaram o hábito de comprar online e uma grande leva de novos clientes virtuais. Para a maioria dos setores, o fim da pandemia não significará que este hábito de consumo irá se perder. Pelo contrário: existe agora este entendimento por parte do consumidor que é possível comprar digitalmente, de forma segura, prática e rápida”, avalia. “Mas também é preciso entender que o e-commerce não supre totalmente as vendas e não é capaz de segurar todo o faturamento. Mas, sem dúvida, as vendas virtuais são o que tem mantido a sobrevivência de muitas empresas durante essa crise”, finaliza.

Mais da metade dos brasileiros compra alimentos pela internet

Outra pesquisa global que demonstrou na prática que as vendas online vieram para ficar foi a Global Consumer Insights Survey 2020, da consultoria multinacional PwC. A multinacional ouviu mais de 23,5 mil pessoas em 36 países em dois períodos diferentes (pré e pós-Covid-19) para rastrear hábitos de compra.
No Brasil, mais de mil entrevistados foram consultados antes da pandemia sobre suas formas preferidas de adquirir produtos. Na ocasião, 53% dos brasileiros afirmaram ter realizado compras de alimentos pela internet no último ano; enquanto 50,3% afirmaram terem optado por serviços online de entrega de alimentos. O mesmo levantamento apontou que cerca de 1/3 dos entrevistados diz fazer compras online, de qualquer tipo de produto, mensalmente. Outro terço informou que faz compras periódicas, ao longo do ano, nesta modalidade.
Gerson Charchat, sócio da PwC Brasil, explica que essa tendência pré-pandemia agora está escancarada, com muitos empresários entendendo que é preciso atender o mesmo consumidor em diferentes plataformas com a mesma eficiência e oferecendo uma conexão entre esses canais, como os programas de fidelidade.
"O e-commerce vai ser uma grande ponte de redução de crise no Brasil. As pequenas e médias empresas tiveram uma surpresa positiva ao perceberem que digitalmente conseguem atingir um número maior de consumidores e com um custo de operação reduzido. Para os grandes varejistas, vem a noção de que não é necessário mais expandir através de uma grande rede de lojas físicas", pontua.
O sócio da PwC no Brasil, Gerson Charchat.
O sócio da PwC no Brasil, Gerson Charchat.
No entanto, o especialista não acredita que este é o fim do comércio físico. Para Charchat, os hábitos culturais dos brasileiros ainda estão ligados à visitação das lojas físicas e também a compra por impulso.
Outro fator levado em consideração pelo profissional são as diferenças regionais e sócio-econômicas que impedem o avanço do e-commerce em países de tamanho continental, como o Brasil. "Quando falamos de grandes capitais, os consumidores brasileiros estão tão abertos ou até mais para as compras online do que os europeus ou norte-americanos. Mas existe uma diferença quando vamos para áreas rurais, onde o acesso é mais limitado e a compra é feita localmente. Esta diferença também ocorre entre pessoas de baixa renda, que muitas vezes são desbancarizadas e têm dificuldade de comprar online sem um cartão de crédito", explica Charchat. "Outra diferença é em relação a idade. Os millenials estão bem mais adeptos à compra online, enquanto pessoas com mais de 40 anos são um pouco mais conservadoras. Este cenário desigual é o de muitos países emergentes, inclusive o mesmo na China, Rússia ou África do Sul", finaliza.

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