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Inovação

Unicórnio, zebra, camelo: o que significam os apelidos das startups?

Maria Clara Dias, especial para o GazzConecta
20/01/2021 16:52
Em 2013, quando o termo “unicórnio” foi usado pela primeira vez, o Vale do Silício, berço global da tecnologia e empreendedorismo dos Estados Unidos, enraizava em cada empreendedor o desejo de criar essas startups com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão. Hoje, os unicórnios já não são tão raros quanto o termo em si sugere. Em todo o mundo, já são ao menos 450 empresas que atingiram o valor bilionário de mercado. Apenas no Brasil, existem 13 delas, e em 2020, quatro novas adições incorporaram a lista: VTEX, Loft, C6 Bank e Creditas.
Unicórnio: Empresa que atingiu US$ 1 bi em valor de mercado.
Unicórnio: Empresa que atingiu US$ 1 bi em valor de mercado.
O crescimento rápido e agressivo deixou então de ser um diferencial no vasto universo das startups. Como alternativa, o mercado se manifesta ao criar novos modelos de crescimento e nomenclaturas em larga escala — a maioria delas, curiosamente, fazendo referência a animais. Mais do que diferenciar as empresas de acordo com o seu valor de mercado, as diferentes nomeações dadas às startups facilitam a identificação do estágio e modus operandi de cada uma.
“Essa é uma forma de traduzir a maturidade delas e de o mercado entender melhor o que constitui cada uma, tornando um pouco mais didático o mercado de startups - que um dia já foi mais complexo”, pontua André Hotta, sócio da Darwin Startups e CEO da Origem by Darwin.
Dentro do restrito grupo das startups bilionárias, há ainda uma distinção mais particular: os decacórnios, empresas avaliadas em mais de US$ 10 bilhões. O Nubank figura como a única brasileira nessa seleta lista global.

Hipogrifos

Hipogrifo: Atingiu US$ 1 bi por meio da abertura de capital.
Hipogrifo: Atingiu US$ 1 bi por meio da abertura de capital.
Aos fãs da saga Harry Potter, os animais mitológicos com corpo de cavalo, asas e cabeça de águia podem ser familiares. No universo das startups, no entanto, o nome surge de uma brincadeira com o termo IPO (Initial Public Offering), que representa a entrada na bolsa de valores e o início da oferta pública de ações de uma empresa no mercado.
Semelhantemente às startups unicórnio, as empresas hIPOgrifos também atingiram o desejado bilhão. Contudo, diferente do primeiro ser mitológico, não o fizeram enquanto tinham o capital fechado, mas sim quando disponibilizaram suas ações no mercado. “Vimos a necessidade de esclarecer que eram empresas em situações e momentos diferentes”, explica Tiago Ávila, head de dataminer do Distrito, empresa responsável pela criação do termo.
“As hIPOgrifos surgiram não apenas da necessidade de classificar empresas de acordo com o valor de mercado, mas diferenciar as suas jornadas de crescimento rumo ao primeiro bilhão”, aponta Ávila.
A nova classificação, apesar de não consolidada, tem sido usada pelo mercado como uma nova referência. Segundo Ávila, a popularização da nova definição para startups bilionárias de capital aberto ajuda a mostrar que existe mais de um caminho para se chegar ao bilhão - e ele também é válido. Alguns exemplos de startups hIPOgrifo são PagSeguro, Arco e Stone.

Startups Camelo

Camelo: têm a adaptabilidade como principal característica. Podem viver um bom tempo sem caixa.
Camelo: têm a adaptabilidade como principal característica. Podem viver um bom tempo sem caixa.
Assim como o próprio animal, as startups camelos têm a adaptação como a sua característica principal. Os camelos se adaptam a diferentes climas, sobrevivem com pouca - ou nenhuma - comida por longos períodos e vivem em locais inóspitos.
Diferente dos unicórnios, crescer a todo custo não é a única prioridade para as startups camelo. Elas objetivam gerar resultados e impacto e avaliam com cautela todos os riscos envolvidos em suas decisões. “Essas startups, graças a um bom planejamento, podem viver um bom tempo sem caixa, assim como os animais podem ficar sem a água”, explica Caio Ramalho, coordenador do FGVnest, núcleo de Estudos em Startups, Inovação, Venture Capital e Private Equity da Fundação Getúlio Vargas. Como exemplos brasileiros de camelos, estão as empresas Locaweb, Hotmart e MaxMilhas, aponta relatório da Norte Ventures.
Sob a mesma lógica, surgem as startups barata, capazes de sobreviver em qualquer ambiente, e sob qualquer circunstância. Ainda não há exemplos brasileiros do inseto.

Startups Zebra

Zebra: Um contraponto ao unicórnio, tem como objetivo um crescimento sustentável. Equilíbrio entre lucro e retorno positivo à sociedade.
Zebra: Um contraponto ao unicórnio, tem como objetivo um crescimento sustentável. Equilíbrio entre lucro e retorno positivo à sociedade.
As startups zebra nasceram como um “contraponto” aos unicórnios. A associação com o animal busca trazer à tona a realidade, pois, diferente do unicórnio, as zebras são animais verdadeiros e práticos. “As zebras surgem como uma retórica ao modelo de negócio dos unicórnios. Elas entendem que não é preciso sacrificar o bem-estar social na corrida pelo crescimento, e tentam equilibrar o lucro e o retorno positivo à sociedade, sem sacrificar um pelo outro”, diz Hotta, da Darwin Startups.
O termo foi criado em 2017 por um grupo de empreendedores. Entre eles, Astrid Scholz, fundadora da Sphaera Solutions e co-fundadora da Zebras Unite. Assim como os camelos, as zebras objetivam um crescimento sustentável, mas não se esquecem do lucro. O foco delas é trazer uma melhoria na sociedade, seguindo um propósito firme e bem estruturado.
De acordo com o Zebra Company Growth Playbook, guia estruturado pela Founders First Capital Partners, empresa que oferece crédito a startups, as empresas Zebra geram receitas anuais entre US$ 5 milhões e US$ 50 milhões e também permitem melhores chances de acesso a capital a seus fundadores.

Startups Coelho

Coelho: Cria tecnologias que impactam o mundo.
Coelho: Cria tecnologias que impactam o mundo.
O termo foi criado há quatro anos pelo CEO do CB Insights, Anand Sawal. À época, Sawal afirmara que 2016 seria o ano dos coelhos. Coelhos, ou “rabbits” em inglês, é a sigla para Real Actual Business Building Interesting Techs (Negócios reais criando tecnologias interessantes). Ou seja, essas startups são conhecidas por criarem tecnologias que impactam o mundo.
A nomenclatura surgiu da crença de Sawal de que haveria um novo grupo de startups de tecnologia que, apesar de não alcançarem o patamar de unicórnios, também não seriam “unicórpios” – palavra que descreve os unicórnios “falecidos”. A tendência, segundo o executivo, era que um número relevante de startups falhassem em suas jornadas e se tornassem, ao invés disso, startups coelho.

Startups Dragão

Uma empresa dragão, seguindo a menção de 2014, é aquela que consegue retornar todo o investimento de um fundo de venture capital aos seus acionistas. Segundo Ramalho, as importância das startups dragão fica evidente na composição de uma carteira de investimento para os fundos de venture capital. “Para um fundo, é necessário ter startups que não irão virar apenas unicórnio e trazer essa popularidade, mas que consigam dar o retorno de todo o investimento e trazer o equilíbrio”, diz.
Há uma outra descrição que define as startups dragão como aquelas que obtiveram US$ 1 bilhão em uma única rodada de investimento. Dentro dessa característica, dois exemplos se destacam: a Uber e a plataforma de turismo Airbnb.
O aplicativo de transporte recebeu a quantia em uma rodada liderada pelo SoftBank, em 2017. Já o Airbnb arrecadou o valor em abril deste ano, o que deixou a empresa com um valuation de US$ 31 bilhões.

Novas espécies

Segundo Hotta, o animal da analogia não impacta os resultados de uma empresa. Contudo, a única recomendação é não ser uma startup “zumbi”. De acordo com o especialista, o que importa na jornada de um empreendimento é gerar lucro e crescer, e o nome “zumbi” exemplifica com clareza o que não se deve fazer.
“Aquele empreendedor que usa empreendedorismo como lifestyle para se promover, vive em palcos e capas de revista, mas tem empresa que não fatura, não está viva e nem morta. Apenas andando de um lado para o outro. Esse é o empreendedorismo zumbi’, esclarece.
Uma nova categoria de startups ainda surgiu recentemente no Brasil: as cabras da montanha. O executivo Fernando Silva, dono da Bozano Investimentos, decidiu chamar assim as empresas que, assim como o animal típico da Itália, sobem montanhas íngremes para se alimentar - mesmo que isso ainda pareça fisicamente impossível. “São empresas resilientes e que superam desafios dia após dia”, avalia Ramalho.

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