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Investimentos em 2020

Investimentos em fase inicial crescem 23% mas reduzem chances de novos unicórnios no Brasil

Patrícia Basilio, especial para o GazzConecta
15/07/2020 22:01
Há quatro meses do início da crise do coronavírus, o Brasil deve iniciar no segundo semestre a retomada das atividades e da economia. No ecossistema de inovação, o processo de recuperação teve início em maio, mas com uma nova identidade: grandes investimentos — na ordem de oito dígitos — deram lugar a aportes mais enxutos, com menor capacidade para transformar uma startup em unicórnio (com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão).
Levantamento realizado pelo Distrito, comunidade independente de inovação, a pedido do GazzConecta, aponta que rodadas de investimentos de fases iniciais (investimento anjo, pré-seed, seed e série-A) cresceram 23% em valor financeiro no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2019 — passando de US$ 107,9 para US$$ 133 milhões. Em números absolutos, foram 124 negociações em 2019, contra 150 em 2020.
Em contraposição, investimentos robustos de série E tiveram uma queda anual de 44,8% no volume financeiro — de US$ 150 milhões para US$ 82,8 milhões. “O mercado de venture capital reagiu bem à crise depois do primeiro impacto em março. A gente tem uma perspectiva boa para o restante do ano porque as rodadas de fase inicial continuam acontecendo. Os grandes rounds estão menos frequentes porque há um desaquecimento natural do setor”, explica Gustavo Gierun, cofundador do Distrito.
Gustavo Gierun, cofundador do Distrito: “O mercado de venture capital reagiu bem à crise depois do primeiro impacto em março. A gente tem uma perspectiva boa para o restante do ano porque as rodadas de fase inicial continuam acontecendo."
Gustavo Gierun, cofundador do Distrito: “O mercado de venture capital reagiu bem à crise depois do primeiro impacto em março. A gente tem uma perspectiva boa para o restante do ano porque as rodadas de fase inicial continuam acontecendo."
Segundo a empresa de inovação, no primeiro semestre deste ano foram realizadas 167 rodadas de investimento, que acumularam US$ 669 milhões. Na comparação com o mesmo período do ano passado, houve uma queda de 51% (US$ 1,3 bilhão). A redução, contudo, se deve aos grandes aportes realizados em Gympass, Loggi e Creditas em 2019 — que juntas somaram US$ 681 milhões.
Vale destacar que as startups de academias e logística se tornaram unicórnios após aportes do Softbank. "São investimentos enormes, considerados pontos fora da curva. Se os considerarmos à parte, temos hoje um volume bastante próximo do que havíamos tido até junho do ano passado", argumenta Gierun.
Com um investimento de fase inicial efetivado por mês, a Iporanga Ventures afirma não ter desacelerado suas operações por conta da pandemia. A busca por startups, contudo, se tornou mais criteriosa. “O ritmo não muda, o que muda é o tipo de empresa que a gente busca. Deixamos de olhar para startups que têm um pé no mundo físico, como entretenimento e turismo”, exemplifica Renato Valente, sócio do fundo de venture capital que já investiu em startups, como VOLL e Stark Bank.
No mercado desde 2011, o fundo deve fechar 2020 com 12 aportes, todos focados em novos negócios. "Investimos menos dinheiro (em torno de US$ 500 mil), mas apostamos em empresas menos estruturadas. Os fundos que investem mais dinheiro têm mais chances de retorno porque a empresa já deu certo. No entanto, o risco existe de qualquer forma", reforça o investidor.

Mudança no valuation das startups

Na avaliação de Renata Zanuto, co-head do Cubo Itaú, maior hub de empreendedorismo da América Latina, com a crise do novo coronavírus, o valuation (valor de mercado) das startups diminuiu, impactando principalmente negócios mais maduros, que captam investimentos mais robustos. “Você consegue fazer uma previsão de valor mais assertiva de startups que estão no começo, umas vez que as grandes lidam um tamanho de mercado maior e outras variáveis que dificultam a análise”, afirma ela.
Com menos investimentos de alto valor, Renata prevê que 2020 não será “bom para criação de unicórnios” no Brasil. “[O ano] será de sobrevivência e superação das startups. Em 2019, tivemos cinco unicórnios principalmente por conta dos aportes realizados pelo Softbank, mas com a queda do valuation dos negócios, esse resultado não deve ser repetido”, analisa.
Até o momento, o Brasil registrou um único unicórnio: a Loft, de compra e vendas de imóveis, após aporte de US$ 175 milhões dos fundos Andreessen Horowitz, Fifth Wall Ventures e Vulcan Capital na primeira semana do ano.
Ex-residente do Cubo Itaú, a CargoX é cotada com um dos próximos unicórnios do país dada a dimensão de seu crescimento ao longo dos anos. Em meio à crise, a startup de logística recebeu dois aportes, que totalizam quase US$ 96 milhões. “Quando vimos que a pandemia ia chegar, capitalizamos a empresa e depois cortamos custos e trabalhamos para manter a equipe online”, explica Federico Vega, CEO da startup.
Com uma solução que promete conectar cargas a transportadores, a logtech viabilizou a movimentação de cerca de R$ 80 bilhões em valor de fretes. Para 2020, mesmo com a crise, a empresa pretende dobrar o número de parceiros transportadores em sua rede. “A quarentena foi como se alguém tivesse colocado um arma na cabeça das pessoas e falado: agora você vai ter que usar a internet. Avançamos cinco anos em dois meses”, prevê Vega.

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