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Entrevista

Mulheres buscam por mais espaço na nova economia

GazzConecta, com colaboração de Millena Prado
20/03/2021 13:35
Não é novidade que, mesmo sendo maioria na sociedade, mulheres são menos remuneradas ou têm pouca representatividade em cargos de liderança. Seja em empresas de base tecnológica ou em corporações tradicionais, os números se repetem. Segundo o estudo “Corrida dos Unicórnios”, publicado em fevereiro pela empresa de inovação aberta Distrito, dos 36 fundadores de startups que valem mais de US$ 1 bilhão no Brasil, apenas duas são mulheres. Pesquisas da Associação Brasileira de Startups (ABStartups) mostram também que 26,6% das startups do país não têm nenhuma mulher no time. Especificamente no Paraná, os dados do Sebrae/PR comprovam que a lógica se repete: apenas 22,7% dos fundadores de startups são mulheres.
Em um cenário de pandemia e mudanças do trabalho presencial para remoto, mulheres brasileiras sentiram que sua carreira, sobretudo para profissionais do setor de tecnologia da informação, pode ter sido impactada negativamente. Dados de uma pesquisa realizada pela empresa de cibersegurança Kaspersky apontam que, para 40% das mulheres brasileiras que trabalham com TI, estar em home office atrasou seu desenvolvimento profissional por conta da necessidade de desdobramento e sobrecarga com os cuidados do lar.
Nesse contexto, foi com a ideia de empoderar mulheres que Isa Quartarolli fundou em 2019 a startup de educação Women Leadership. Desde então, a empresa realizou bootcamps presenciais e eventos em capitais como São Paulo, Curitiba e Florianópolis, impactando mais de mil mulheres. Hoje, ela é responsável por eventos gratuitos e capacitações em parceria com empresas como o unicórnio curitibano Ebanx para fomentar a liderança feminina.
Isa Quartarolli, CEO da Women Leadership
Isa Quartarolli, CEO da Women Leadership
Em entrevista exclusiva para o GazzConecta, Isa Quartarolli pontua qual o caminho para promover a equidade de gênero em cargos de liderança e como mulheres podem empoderar suas carreiras. Confira na íntegra.
“Ter mais mulheres em cargos de liderança também dentro das startups é o caminho para conseguir a equidade de gênero. Para mim, é muito forte o poder que as empresas têm sobre isso.”
Os números mostram que, no geral, há poucas mulheres líderes — e ainda menos no mercado de tecnologia. O último mapeamento de startups do Sebrae/PR apontou apenas 22,7% de mulheres na chefia de startups do estado. Qual a justificativa para esta disparidade?
Isso vem de uma consequência histórica e educacional do universo feminino. Tenho a percepção que isso é muito mais evidente no universo das startups, que ainda é majoritariamente masculino. Mulheres não são encorajadas a correr riscos, e para criar uma startup é preciso necessariamente se desafiar.
Quando uma mulher pensa em empreender, automaticamente decide ser microempreendedora — o que não é errado, mas mostra que faltam estímulos para trazer mais fundadoras de startups. É preciso mostrar para as mulheres que é possível arriscar.
Ter mais mulheres em cargos de liderança também dentro das startups é o caminho para conseguir a equidade de gênero. Para mim, é muito forte o poder que as empresas têm sobre isso. As corporações são grandes influenciadoras do nosso comportamento e mostram a importância que é ter mais mulheres líderes, além de como algumas estruturas sociais podem mudar como consequência disso. É comprovado que mulheres contribuem muito para a gestão da empresa, provocando inovação, engajamento e, principalmente, representatividade.
Segundo a plataforma de inclusão We Connect, enquanto 40% das mulheres se dizem capazes de gerir um negócio, 60% dos homens afirmam o mesmo. O que é síndrome da impostora e quais são os outros desafios que permeiam a jornada feminina?
É a sensação de que você não é merecedora da sua jornada ou que lhe falta capacidade para cumprir alguma tarefa. Isso só muda com muito autoconhecimento, para conseguirmos dominar a emoção da insegurança. Nós somos capazes e devemos sonhar grande. Quanto mais entendemos quem somos, mais conhecemos nossos pontos fortes e habilidades. Quando a síndrome da impostora aparecer, precisamos estar preparadas para ela.
Entre os desafios estão conciliar a maternidade, o que chamamos de mansplaining, ou quando há interrupções durante a fala de uma mulher. E não é atingindo a liderança que isso vai acabar, alguns comportamentos estão intrínsecos na cultura machista. Por isso, é importante trazer o homem para essa conversa e começar a fazer diferente.
Por que continuamos falando sobre empoderamento feminino mesmo com tantos movimentos que enfatizam essa premissa?
O principal é educar empresas de que mulheres fazem a diferença na gestão e trazem inovação e engajamento. É necessário mudar esse olhar não só para mudar as estatísticas, mas porque é uma questão de sobrevivência no mercado. Faltam às organizações enxergarem a pauta como uma causa política; o quanto isso não é apenas importante para o negócio, mas para a sociedade; o quanto isso traz impacto.
Quando as empresas abraçam essa causa e querem fazer diferença há impacto na cultura da organização, e nós passamos a maior parte do nosso tempo no trabalho vivenciando a cultura e trazemos isso para nossa vida pessoal. A inclusão de mulheres não é só estatística: essa transformação impacta a sociedade como um todo.
Para que as startups pratiquem a inclusão é preciso preparar as demais lideranças para recebê-las. As empresas estão preparadas para promover, de fato, a inclusão de mulheres em seu corpo de funcionários?
O ponto é que precisamos trazer diferencial na contratação. Como trazer mulheres não só na tecnologia, mas abrir outras oportunidades. É muito fácil olhar para os setores administrativos e de marketing, que geralmente têm mais mulheres. Difícil é fazer isso nas áreas tecnológica e financeira, nas quais a maioria são homens.
Para além da contratação, o que as empresas podem fazer para que o impacto da diversidade ultrapasse a estatística e promova uma mudança cultural?
Empresas precisam ter programas de incentivo para que as mulheres entendam o quão representativo é estar em um cargo de liderança. Representar é também trazer mulheres para perto. As mulheres que já estão dentro das empresas também precisam se capacitar e desenvolver novas habilidades.
Pela Women Leadership promovemos o bootcamp, além de eventos que as incentivam a se desenvolver e assumir cargos de liderança – não apenas dentro de empresas. Antes de ser uma boa líder no mercado, é preciso ser uma boa líder em sua vida.
Os programas que as empresas devem desenvolver neste sentido são treinamentos, eventos internos e a criação de comunidades, por exemplo. A empresa precisa falar sobre isso com os colaboradores não só no dia da mulher, mas no ano inteiro. Dentro disso, a essência, construção dos líderes e a cultura da empresa também precisa mudar.
Quais diferenças acontecem quando uma mulher assume um cargo de representatividade e liderança? No seu próprio negócio ou na empresa, quais os impactos reais de uma mulher líder?
Mulheres de fato revolucionam a gestão da empresa com inovação, principalmente quando queremos ter um ambiente diverso. A promoção da representatividade passa a ser um estímulo para outras mulheres. É comprovado que mulheres líderes saíram na frente, por exemplo, no combate à Covid-19.
Como propor uma inclusão mais radical em grupos que são duplamente excluídos, principalmente na nova economia, como as mulheres negras?
É na cultura das empresas que isso vai mudar. Eu sempre vi em eventos o holofote estar com homens brancos quando mulheres líderes e negras líderes também deveriam estar nesses espaços. A cultura da empresa impacta muito nesta inclusão. A meu ver, é essencial ter programas específicos para isso, como o recentemente proposto pela Magazine Luiza. Quanto mais isso é incentivado, mais portas serão abertas.
Como você vê os impactos da pandemia na promoção da igualdade de gênero na sociedade?
Temos ainda um caminho grande pela frente, pois travamos em alguns pontos. Essa mudança trouxe pautas importantes, principalmente sobre o cuidado com o lar e a sobrecarga emocional. Vejo que a partir de agora um dos principais temas discutidos será o olhar para o feminino. Já observamos mais empresas falando sobre isso e, para mim, essa é uma tendência do mercado.
A mulher que está no mercado de trabalho e quer assumir postos de liderança ou que deseja empreender deve seguir qual caminho?
Tudo acontece no processo de se conhecer e se apropriar de quem você é e de seus sonhos. O autoconhecimento muda a autoestima, que leva a assumir o protagonismo e a liberdade. Outro caminho é desenvolver as habilidades para trabalhar naquilo que você é boa. Se descubra, se desafie e estude. Desenvolver habilidades técnicas é um processo constante na busca para ser quem desejamos ser.
O que é empoderar e qual o propósito da Women Leadership?
Empoderar é mostrar o poder que existe dentro de cada mulher, baseado na sua história de vida e no quanto ela é capaz. Nós mostramos para a mulher que ela deve ser feliz e realizar seus sonhos. Nesse sentido, o propósito da Women é fomentar o protagonismo feminino por meio da nova liderança na nova economia.

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