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Diferentemente dos unicórnios, startups camelo resistem às mais duras crises.

Camelos x Unicórnios

O que são startups camelo e por que elas são mais atrativas que unicórnios durante crise

Patrícia Basilio, especial para o GazzConecta
24/08/2020 19:00
No Vale do Silício (EUA), o objetivo dos principais investidores foi, por décadas, encontrar as raras startups com potencial de atingirem valor de mercado acima de US$ 1 bilhão — os futuros unicórnios. Com o crescimento do ecossistema de inovação, hoje há mais de 350 delas no mundo. Nos últimos dois anos, contudo, crescimento acelerado e queima de caixa deixaram de ser diferenciais de mercado e uma nova classificação ganhou relevância: startups camelo. Diferentemente dos seres mitológicos, esses animais do deserto são reais, resilientes e podem sobreviver até três semanas sem água. Ou seja, esses tipos de negócio resistem às mais duras crises — como a provocada pelo novo coronavírus.
Estudo
realizado pelo fundo Norte Ventures aponta que os unicórnios prezam pelo
crescimento exponencial e, desta forma, estão sempre em busca de novas rodadas
de investimentos. Os camelos, por sua vez, priorizam a satisfação do usuário e
o equilíbrio financeiro da empresa. Como exemplos brasileiros, foram citados
como unicórnios as empresas 99, Nubank, Loft e Gympass. Já entre os camelos
estão VTEX, MaxMilhas, Locaweb e Hotmart.
“Com a pandemia, vimos que as startups que tinham maior controle financeiro estavam mais aptas a lidar com os desafios. No estudo, vimos que essas startups são mais comuns em mercados emergentes porque desde cedo elas tiveram de lidar com dificuldades e burocracia. No Brasil, por exemplo, há mais dificuldades para abrir empresas”, aponta José Pedro Cacheado, sócio do Norte Ventures.
Apesar
da diferença entre os dois modelos de negócio, Cacheado explica que eles
poderão — e deverão — coexistir com a experiência do mercado pós-pandemia e a
valorização do dólar, que dificulta a formação de novos unicórnios. “Ele
[unicórnio] vai continuar sendo importante, afinal qualquer empresa que chegar
nesse valuation [US$ 1 bilhão] será motivo de orgulho.  No entanto, partir
de agora ela terá de fazer isso de forma mais saudável, sem queimar caixa.
Serão unicórnios com características de camelos”, analisa.

Rigidez nas finanças

Fundada em 1998, a Locaweb atravessou diversas crises no Brasil e assistiu a importantes mudanças no cenário tecnológico mundial, como o crescimento de empresas como  Apple, Amazon e Google. “A Locaweb sempre se preocupou em gerar resultados e priorizou ser lucrativa. Não teríamos a estrutura que temos hoje se não fôssemos assim. Também nascemos com cara de SaaS (software como serviço), o que nos levou a ter recorrência”, detalha Higor Franco, diretor-geral de varejo da empresa.
Higor Franco, diretor-geral de varejo da Locaweb, startup considerada "camelo".
Higor Franco, diretor-geral de varejo da Locaweb, startup considerada "camelo".
Com
mais de 30 produtos em seu portfólio, a Locaweb se considera austera e
conservadora nas finanças: investimentos e aquisições, por exemplo, só são
realizados após um rígido processo de análise, garante Franco. Não à toa, a
empresa registrou um crescimento de 24,5% na receita líquida no primeiro
semestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. “Costumamos
falar para investidores que somos de tecnologia, mas temos mentalidade de
gestão de caixa antiga e conservadora. Não queimamos caixa em hipótese alguma”,
reforça o executivo.
Segundo
Renato Mendes, mentor da Endeavor Brasil, principal organização sem fins
lucrativos de apoio ao empreendedorismo do mundo, os camelos são uma espécie de
resposta aos unicórnios, principalmente após o fracasso do IPO da Uber e
demissões do WeWork.
“É como se o mercado falasse: o modelo [de unicórnios] falhou, volte duas casas. O unicórnio parece que disputa uma corrida para chegar a algum lugar, enquanto o camelo traça uma jornada. Por isso, as teses de investimentos de alguns fundos estão sendo repensadas”, pontua Mendes.

Escassez de camelos

Novo tesouro buscado por investidores, uma startup camelo hoje é tão difícil de encontrar quanto potenciais unicórnios no passado. Ou seja, negócios com modelos resilientes, lucrativos e conservadores ainda são raros. “A moda ainda é ser unicórnio. A minha sensação é que um movimento pendular de descoberta de novos modelos. Não tenho dúvidas de que vamos descobrir novos ‘animais’ no futuro”, avalia o mentor.
Considerada um camelo pela Norte Ventures, a Hotmart, espécie de vitrine de produtos digitais como cursos, e-books e podcasts, garante priorizar autossuficiência da empresa para que seu crescimento seja consistente mesmo em caso de falta de crédito ou de investimento. Desde sua fundação, em 2011, a startup captou investimento três vezes, sendo que a primeira foi para pagar os custos do negócio após 10 meses de operação.
João Pedro Resende, CEO da Hotmart, outro exemplo de startup camelo.
João Pedro Resende, CEO da Hotmart, outro exemplo de startup camelo.
“É
uma empresa dinâmica, que não tem medo de errar e recomeçar ou de simplesmente
refazer os planos caso o cenário mude completamente. Diversas vezes adequamos
nossas estratégias à medida que as condições de mercado mudaram. O uso consciente
do capital também nos deu tranquilidade para fazer esses movimentos sem colocar
a empresa em risco”, afirmou João Pedro Resende, CEO e cofundador da empresa.
Com previsão de dobrar de tamanho este ano, a Hotmart, tem sede no Brasil, Espanha, Colômbia, México, Holanda e Estados Unidos e contabiliza mais 20 milhões de usuários em 188 países.

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