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Augusto Lins, presidente da fintech Stone.

Entrevista

Para o presidente da Stone, a prioridade agora é digitalizar pequenos negócios

Patrícia Basilio, especial para o Gazz Conecta
04/05/2020 19:08
Manter as vendas e ter capital de giro suficiente para lidar com a crise financeira decorrente do coronavírus é o maior desafio das empresas atualmente. A Stone, fintech brasileira de pagamentos e serviços, não fica fora deste cenário, mas decidiu analisar a situação olhando por outro ângulo: o dos clientes.
A startup, avaliada em mais de US$ 1 bilhão, criou diversos projetos para apoiar pequenos e médios comerciantes, que representam mais de 50% do seu público. Todos os dias, a empresa conversa com os clientes para conhecer suas dores e prospectar novos produtos. Em uma espécie de “ganha-ganha”, o objetivo da fintech neste momento é que as empresas vendam seus produtos pelos meios digitais e, assim, não quebrem.
“Já passamos por muita crise, mas conseguimos sair de todas. Nossa visão é que ela começou, tem um meio e terá um fim. Não sabemos qual será o tempo de duração da crise, mas temos certeza que sairemos juntos dela”, afirmou Augusto Lins, presidente da Stone.
Após movimentar R$ 129 bilhões com suas "maquininhas" em 2019, a credenciadora decidiu  oferecer isenção de taxas e ofereceu uma linha de microcrédito de R$ 100 milhões para comerciantes das regiões e setores mais afetados pela crise.  Além disso, lançou recentemente o Gerador de Anúncios, uma ferramenta gratuita para empreendedores criarem anúncios e compartilharem nas redes sociais.
O GazzConecta conversou com o empresário sobre este cenário e os desafios para os próximos meses. Confira a entrevis:

Quais foram as ações tomadas pela Stone para apoiar os empresários?

Escolhemos agir em três frentes: ajudar o empreendedor a vender mais, gerir melhor o seu negócio e crescer. Uma nova frente foi criada também: contribuir com a saúde da população. As micro e pequenas empresas são responsáveis por empregar 52% dos profissionais do país e, por isso, são a mola propulsora do Brasil. Ao mesmo tempo, poucas delas estão preparadas para lidar com a crise porque não têm plano de contingência e seguro.
Criamos a campanha “Compre local, cuide de um pequeno negócio” e criamos ações diretas e indiretas. Além disso, oferecemos mais de R$ 100 milhões de microcrédito para ajudar o empreendedor a sobreviver. Os estabelecimentos comerciais não tinham plano de contingência. E quando o cliente não sai de casa e, por isso, o lojista fecha suas portas, é necessário encontrar outros modelos de venda. Conversando com os clientes, avaliamos que os canais mais adequados para eles venderem agora são a internet e o telefone.
Não temos a presunção de manter o mesmo nível de venda neste período, mas decidimos focar em dar treinamento para o estabelecimento comercial se digitalizar, desenvolver ferramentas para ele estar preparado para comercializar seus produtos e ajudar o empreendedor criar serviços e oferecer suporte e atendimento por esses novos canais. Para ser ter ideia, 30% do nosso tempo é gasto conversando com o cliente todos os dias para a gente entender a dor dele.

Vocês sempre divulgam vagas. Como mantêm a saúde financeira da empresa  neste período para aumentar a equipe?

Somos uma empresa extremamente capitalizada e vínhamos em um momento de expansão. Estávamos contratando 100 pessoas por mês. No ano passado, lançamos a Conta Stonte [conta de pagamento para empreendedores] e deixamos de ser uma empresa de maquininha para prover todos os serviços financeiros que um pequena empresa precisa. Estamos em um processo de acelerar esse produto. No início do ano, também fechamos uma joint venture com o Grupo Globo para o lançamento da TON, voltado autônomos.
Quando as lojas fecharam, no entanto, tivemos que desacelerar. Também mudamos o processo de contratação. Antes, havia o preconceito de a entrevista não ser presencial, mas agora a reunião a distância se tornou necessária. Concordo que fazer presencialmente é melhor, mas há casos em que realmente é difícil. Imagina fazer uma entrevista no Maranhão? É muito caro. Pelo Zoom [app de videoconferência da Microsoft], por exemplo, custa 2% do preço. Em relação ao início do ano, o número de contratações desacelerou muito, mas não paramos de contratar.

Quando a Stone prevê voltar às operações normais?

Estamos operando em modo de contingência. Março foi um mês crise, abril seguiu a mesma linha e maio também vai ser bastante impactado. Torcemos para o achatamento da curva do coronavírus e para que todos sejam atendidos. A gente se prepara para o pior e faz o melhor.
Nos dividimos em quatro fases para enfrentar essa crise: preservação da saúde da equipe, afastando o grupo de risco, oferecendo home office e orientação; criação de um grupo de crise, que analisa despesas e receitas e prepara a fintech para um futuro incerto; conversa com clientes para pensar em novos produtos; e adiantamento de férias para parte da equipe para que os funcionários voltem com energia para a retomada do país. Achamos importante que as empresas não demitam.

Na sua avaliação, como as pequenas empresas vão passar por essa crise?

Vai se sair bem dessa situação quem tiver mais disposto a mudar seu processo de negócio. Na Stone, entendemos que esse é o momento de se reinventar como pessoa, de olhar para o negócio e conversar com o time para entender o que está mudando no comportamento do cliente e como isso vai impactar o futuro da empresa.
Eu mesmo estou me impondo mudanças para ser uma pessoa melhor. Espero que as empresas façam isso também. Eu gostava de sair para jantar, mas estou aprendendo a gostar da experiência do delivery —  de comer no conforto do meu lar.
Uma coisa podemos afirmar com certeza: todos nós seremos mais digitais. Estamos conversando de forma mais remota, entrevistando pessoas a distância e até contratando profissionais para vagas remotas. Do lado de consumo, as pessoas não estão indo mais ao banco pagar contas. O ensino a distância e a telemedicina também estão crescendo.

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