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Sillicon Valley Web Conference

Executivos do Vale do Silício antecipam tendências em construções inteligentes

Mariana Ceccon, especial para o GazzConecta
16/10/2020 17:05
A escola de nova economia e negócios StartSe promove, durante o mês de outubro, a conferência internacional Sillicon Valley Web Conference, um evento que reúne especialistas do Brasil e dos Estados Unidos para discutir como o Vale do Silício está inovando em 14 áreas diferentes de atuação, que vão desde educação e fintechs até varejo online e construções inteligentes.
Com apoio do Sebrae/PR, o GazzConecta acompanha a conferência e a trilha de conteúdos ligados às construtechs e antecipa quais são as tendências em construções inteligentes que estão despontando na Califórnia e ditarão o ritmo da tecnologia empregada nesta área na próxima década.
Totalizando sete palestras exclusivas sobre construção civil e mercado imobiliário, a conferência online completou, nesta quinta-feira (15), a metade da jornada. Nesta primeira quinzena, passaram pelo palco online nomes como Brendan Wallace, co-fundador da Fifth Wall, maior empresa de capital de risco focada em tecnologias para o setor imobiliário; Sam Ruben, co-fundador da Mighty Buildings, empresa de tecnologia em construções, que cria casas acessíveis e sustentáveis usando impressão 3D, robótica e automação; e Gaurav Kikani, vice-presidente da Built Robotics - empresa que utiliza inteligência artificial para que máquinas operem de forma totalmente autônomas.
Entre os insights apresentados pelos executivos estão o uso cada vez maior de robôs e sensores na construção civil para enfrentar problemas estruturais do setor como a escassez de mão de obra operacional, redução de acidentes de trabalho e aumento da produtividade para enfrentar a crise de moradias e mudanças climáticas.
Para o investidor Brendan Wallace, estamos na iminência de desenvolvermos construções residenciais e comerciais cada vez mais conectadas e capazes de registrar nossos hábitos diários através de sensores de monitoramento. "Quando a internet passou a ser o que nós conhecemos hoje, há menos de quatro décadas, entendemos que nossas interações online, cada clique e conversa, poderia estar sendo registrada e gerando um banco de dados de nossos hábitos online. Para mim, nós já batemos no limite do que era possível nesse rastreio online, e agora a tecnologia vai passar a capturar como os seres humanos estão interagindo com o mundo físico, em suas casas inteligentes e nas lojas físicas", explica Wallace.
O empresário norte-americano acredita que sensores - que vão desde o termoestato do ar-condicionado até os próprios celulares - vão ajudar a integrar a construção civil e o mercado imobiliário ao varejo, criando novas oportunidades de negócios.
"O que estamos prestes a ver são sensores em lojas que vão registrar quanto tempo cada consumidor passa olhando cada produto, qual venda associada é mais provável de ser feita de acordo com a disposição nas prateleiras. Construções inteligentes vão ajudar a coletar esses dados para varejistas locais, marqueteiros e clientes, criando uma experiência de consumo como a que vemos hoje na Amazon, por exemplo: uma marca que sabe o que eu quero comprar antes mesmo de eu pensar no produto", resume.

Canteiros de obra robotizados

Para além da nossa relação como moradores e clientes em obras inteligentes, os executivos do Vale do Silício mostraram os bastidores de como os empreendimentos devem sair do papel de forma mais rápida, limpa e segura.
A resposta para isto é a "robotização", que passa não só pela impressão 3D de casas inteiras como também a automatização de máquinas pesadas como retroescavadeiras, tratores e guindastes, para que funcionem sem a necessidade de um operador humano a bordo.
É este cenário que foi apresentado por Gaurav Kikani. À frente da Built Robotics, o empresário explica que máquinas autônomas estarão presentes de forma intensiva nos canteiros de obras em menos de dez anos, principalmente em construções estruturais de grande porte que envolvem represamento, mineração, fundação, tubulação e criação de fazendas eólicas, obras que deverão ser cada vez mais necessárias devido as mudanças climáticas.
"Hoje, 80% dos dos empreiteiros no mundo não conseguem encontrar mão de obra qualificada para operar essas máquinas. A média de idade de um operador é 47 anos e sobe mais a cada ano. A geração Z e os millenials não estão entrando na área operacional, então automatizar essas máquinas e capacitar uma pessoa para que comande uma frota inteira significa transformar a construção civil", explica o especialista.
Kikani acredita que o Brasil, com uma das maiores costas marítimas do mundo, é um mercado potencial para o emprego de máquinas pesadas automatizadas e desempenhará um papel importante na popularização desta tecnologia.
"Hoje o nosso foco é EUA e Austrália, mas estamos olhando para outros mercados e o Brasil certamente é um deles. Mas é preciso entender que a ideia de que os robôs vão assumir toda a construção é errada. Eles são bons em tarefas repetitivas. Porém, na construção há muitos casos em que entram o julgamento e tomada de decisão. Para isto, os seres humanos sempre serão a melhor escolha. O que queremos é liberar estes profissionais para realizarem tarefas de maior valor agregado", pontua.

Imprimindo casas

Casa desenvolvida com tecnologia de impressão 3D.
Casa desenvolvida com tecnologia de impressão 3D.
Outro importante desafio lançado pelo mercado e que deve ser superado pelas construtechs é a crise de moradias, realidade na Califórnia que, de acordo com os especialistas do Vale, deve chegar a todo o mundo muito em breve. "Temos uma déficit de quase três milhões de moradias que precisam ser construídas na próxima década na Califórnia para atender a população", explica Sam Ruben, co-fundador da Mighty Buildings.
A startup norte-americana conseguiu, neste ano, patentear e aprovar para construções um portfólio de unidades residenciais com um ou dois quartos, que podem ser inteiramente impressas em 3D em menos de 24 horas e com preços a partir de US$ 115 mil.
A startup também conseguiu registrar o patente do seu material base para impressão, a "pedra-leve" (LSM) uma substância que de acordo com os seus criadores é mais ecológica e eficaz do que o concreto reforçado.
"Temos uma nova geração inteira de profissionais que quer trabalhar com programação e não com prego e martelo e são eles vão nos ajudar a solucionar a crise secular da moradia", explica Ruben.
"Este tipo de processo nos dá uma vantagem incrível como a redução de resíduos - a cada metro quadrado construído, diminuímos em cinco quilos a quantidade de material que vai para os aterros. Mas outra vantagem importante é em relação a simulação. Podemos imprimir e identificar problemas em uma construção quantas vezes quisermos, com novos encaixes e materiais, acelerando o desenvolvimento de novos produtos. Agora estamos desenvolvendo um plug-in para que arquitetos no futuro nos enviem projetos customizáveis, fora do portfólio, que permitam linhas e curvas livres, que não seriam acessíveis para a construção tradicional", antecipa.
Com um centro de desenvolvimento na Rússia, a startup foi fundada há menos de três anos e já desponta como uma das líderes mundiais em desenvolvimento de novos projetos 3D. No ano que vem, a startup pretende lançar unidades de dois andares.
Para fechar a conferência organizada pela StartSe, especialistas em drones, internet das coisas e digitalização de processos burocráticos e legislação devem participar do evento. O GazzConecta trará o resumo das principais tendências nestas três áreas no próximo dia 28.

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