Entrevista

Startup pioneira em impressão 3D de casas no Brasil reduz custos de construção em até 50%

Mariana Ceccon, especial para o GazzConecta
03/11/2020 20:52
Juliana Martinelli é o nome à frente do primeiro projeto brasileiro de impressão 3D de casas. Em parceria com a 3DHomeConstruction, empresa do Rio Grande do Norte, a startup comandada por Juliana — a InovaHouse3D — concluiu, em julho, a primeira construção deste tipo em território nacional.
Dando sequência à série de lives promovidas pelo Sebrae/PR no Canal Construções Inteligentes, o GazzConecta entrevistou Martinelli sobre seu trabalho com o ensino de empreendedorismo, inovação e consultorias para industrialização da construção civil, bem como um novo modelo de franquias para empresas interessadas em levar a impressão 3D para outros estados. Durante a conversa, a executiva não só deu detalhes de como o projeto no Rio Grande do Norte saiu do papel como também adiantou tendências em industrialização e automação da construção civil.
"A gente acredita que o futuro da construção é um modelo híbrido e industrializado, no qual a impressão 3D vai trabalhar em conjunto com outras tecnologias como os módulos pré-fabricados e materiais leves como o drywall e o steel frame. Não tem como fugir da automação", pontua. "A capacitação da mão de obra para que os trabalhadores passassem a ser operadores de máquinas aconteceu no setor agro, automobilístico e a construção civil estava ficando um pouco para trás", arremata.
Além da iniciativa promissora no Brasil, Martinelli também foi convidada para participar da Incubadora de Negócios Internacional da Juventude dos BRICs, na Rússia, evento que deve acontecer nos próximos meses (ainda sem data confirmada, por conta da pandemia de Covid-19). Na ocasião, a executiva representará não só o Brasil, como também o empreendedorismo feminino e as construtechs brasileiras.

A casa

Com 66 m², a casa feita em impressão 3D está localizada em Macaíba, cidade da região metropolitana de Natal (RN). Ao todo, a preparação do canteiro de obras levou uma semana, sendo que dois dias foram dedicados exclusivamente para a impressão. Com dois quartos, sala e cozinha conjugadas, banheiro e área de serviços, a intenção das startups foi imprimir um modelo semelhante ao realizado dentro do projeto habitacional Minha Casa, Minha Vida.
Para as paredes, a startup usou compósito cimentício, uma combinação semelhante à argamassa que leva outras substâncias químicas, as quais permitem que o material chegue à consistência adequada para ser processado pela impressora. Veja o vídeo acelerado da impressão:
Entre as vantagens do novo método está a velocidade para conclusão de edifícios e a redução de custos. A startup calcula que, para a fase de levantamento de paredes, cada metro quadrado custou cerca de R$ 36, valor 20% menor do que o orçado para ser realizado da forma convencional.
"A redução média de custos gira em torno de 20% a 50%. Mas, se pensarmos em construções de casas em escala, é possível diluir o custo do equipamento e reduzir ainda mais estes valores. Internacionalmente, alguns projetos trabalham com orçamentos até 80% menores", conta Martinelli.
Até o fim do primeiro semestre de 2021, a casa em Macaíba deve receber acabamento e ser finalizada. Durante este período, a resistência e durabilidade do material usado na impressão deve passar por vários testes. Após concluída, o destino mais provável da nova residência é ser o lar de um dos engenheiros do projeto. Também não está descartada a ideia de doação após legalização da construção junto à prefeitura local.

Concorrência internacional na impressão 3D

A concorrência de tecnologia internacional de impressão 3D é um dos fatores que motiva a startup de Martinelli a tentar liderar a popularização desta tecnologia.
"Se a gente deixar esse movimento acontecer somente lá de fora, vamos trazer não só maquinário, como mão de obra e matéria-prima do exterior em pouco tempo, sendo que o Brasil tem total capacidade de ser pioneiro", comenta Martinelli. "Essa é a questão da Inova: reciclar nossa mão de obra, ter manuais de operação em português e movimentar a indústria nacional desde a parte de motores até controle de sistemas e softwares", resume.
Para a CEO, o maior empecilho passa pela mudança na mentalidade dos investidores privados brasileiros para apostar em projetos de alto risco, como o da impressão.
"Ao todo, se juntarmos tudo o que gastamos desde o início, o valor é de cerca de R$ 1,5 milhão. Nos EUA, temos exemplos de startups deste mesmo ramo com orçamentos de US$ 37 milhões. Já recebemos feedbacks internacionais de que a impressão que fizemos em Macaíba está em nível muito próximo de qualidade a desses projetos internacionais", explica Martinelli.
"A diferença, no entanto, é que lá existe um investimento na indústria completa para uso da tecnologia não só para erguer paredes, mas também na arquitetura, no design de interiores e até pintura. A indústria como um todo está envolvida".
Apesar da busca por mais investimento interno e fomento público, a InovaHouse3D já está negociando novas impressões no Sudeste e Sul, além de novas construções no Nordeste, em parceria com a Cruz Vermelha.

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