Govtechs

Como o setor público pode se juntar a startups para inovar

Maria Clara Dias, especial para o GazzConecta
06/05/2021 13:00
Em tempos de transformação digital, acompanhar as tendências de mercado se tornou um passo fundamental para a sobrevivência dos negócios. E, ao que tudo indica, a mesma regra passa a se aplicar também ao setor público.
O momento é oportuno: com a pandemia, diversos setores tiveram que adaptar a maneira como atendem e interagem com os cidadãos, tendo em vista o fechamento de pontos físicos, por exemplo. A partir daí surgiram aplicativos, sistemas de atendimento online, entre outros. Mas, a revolução no âmbito público exige, assim como para as empresas, uma atualização ágil de sistemas digitais, com maior segurança e comodidade para a execução de serviços.
O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná decidiu se antecipar e buscar todos esses novos artifícios por meio da associação com startups da região. O TRE-PR vem tentando se aproximar, cada vez mais, das pequenas empresas tecnológicas com a ajuda da Agência Curitiba de Desenvolvimento (ag.CWB) e Inovação, braço do município responsável pela promoção de ações do Vale do Pinhão.
O objetivo é um só: mostrar ao público de que é possível inovar - até mesmo em procedimentos mais sensíveis como o da jornada eleitoral.

Cultura de inovação no setor público

Em um primeiro momento, servidores e funcionários do TRE-PR receberam palestras sobre cultura da inovação, promovida pela ag.CWB. Agora, o Tribunal faz a sua primeira chamada pública para receber empreendedores e fundadores de startups que desejem conhecer o dia a dia das rotinas de trabalho. A partir desse primeiro contato, a expectativa é de que as empresas possam oferecer seus serviços num futuro próximo.
O objetivo da ação é trazer eficiência ao órgão. “É uma
inovação que não basta ser tecnológica, mas tem que vir em benefício da
sociedade e, no caso da Justiça Eleitoral, dos eleitores”, disse desembargador
Tito Campos de Paula, presidente do TRE-PR ao GazzConecta. “Essa é uma
preparação para novas chamadas nacionais para tecnologias que possam nos ajudar
a tornar o processo eleitoral muito melhor, começando pelo Paraná e
futuramente, no Brasil”.

Inovação de dentro para fora

Para facilitar a jornada em busca de melhorias, o TRE-PR criou, ainda em 2019, um laboratório voltado à inovação e à criação de soluções, apelidado de “LIODS”. Uma das primeiras preocupações do laboratório foi buscar empresas que já possuíam soluções na área eleitoral e promover a capacitação técnica dos funcionários. “Para abrir as portas de um tribunal para ouvir o que o público tem a dizer, é preciso capacitação interna e suporte tecnológico”, diz Cláudia Afânio, do LIODS.
Tradicionalmente, os órgãos públicos são os últimos a ingressar na nova economia, dada a sua dimensão, explica Marlon Cardoso, coordenador geral de programas da ag.CWB.
Para ele, o número de pessoas impactadas pela atuação dos órgãos públicos serve de entrave, na maioria das vezes, na busca por soluções mais ágeis e inovadoras.
“Agora, o que muda é que esses órgãos entenderam que é possível qualificar ainda mais, tornar as rotinas mais ágeis e transparentes na prestação dos serviços públicos a partir da inovação que vêm das startups”, afirma Cardoso.

A vez das govtechs

Trazer mais velocidade na entrega de serviços, economia do
tempo e aumentar a proximidade com o cidadão é a missão estrutural das chamadas
govtechs, startups que oferecem soluções baseadas em tecnologia para o setor
público.
A Gove é uma dessas empresas. Criada em 2018, ela atua com
governos municipais, nas prefeituras, por meio de uma plataforma de
inteligência de dados para apoiar a tomada de decisões financeiras dos
administradores públicos.
Atualmente, cerca de 74% dos mais de 5.300 municípios
brasileiros estão em situação de gestão fiscal difícil ou crítica, de acordo
com o estudo de 2019 da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
(FIRJAN).
Nesse cenário, a proposta da Gove é otimizar o orçamento da
gestão ao permitir o acesso simples a informações determinantes. A partir
disso, os governantes - especialmente secretarias da fazenda - podem definir a
melhor maneira de usar recursos repassados, estabelecer melhores cargas
tributárias, além de resolver ineficiências, como dívidas e inadimplências.
“A proposta é que a plataforma seja capaz de identificar
todas essas ineficiências a partir de uma análise, por exemplo, do balanço de
receitas e despesas”, disse Rodolfo Fiori, cofundador da Gove. Segundo Fiori e
Ricardo Ramos, também cofundador da startup, a empresa já aumentou a eficiência
financeira de municípios em mais de R$ 100 milhões desde a sua fundação.
Recentemente, a Gove recebeu um aporte de R$ 8 milhões em uma rodada seed liderada pelo fundo de venture capital Astella Investimentos. Para 2021, a startup quer expandir sua presença para 70 municípios do país, nas regiões Sul e Sudeste, e está otimista com a projeção.
Esse é um setor com um potencial imenso. O nosso desafio é conseguir escalar
O desafio desta e das demais govtechs do país em expandir a atuação nacionalmente deve se tornar um pouco mais simples com a alteração da Lei de Licitações e o novo Marco Legal das Startups, que pretende facilitar o relacionamento entre startups e órgãos públicos, segundo Cardoso, da Agência Curitiba. “Ainda existia uma dificuldade do próprio setor público para contratação de soluções que vinham de startups, devido ao risco tecnológico. Estamos agora vendo com bons olhos esses resultados e movimentações", diz.

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