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Futuro do trabalho

Vale a pena monitorar de perto a produtividade em home office?

Patrícia Basilio, especial para Gazeta do Povo
17/07/2020 21:34
Como você organiza sua rotina durante o home office? Responde e-mails enquanto soluciona demandas no software corporativo? Costuma ouvir música ou assistir a vídeos também? Seja qual for a ordem das atividades que realiza, seu gestor certamente está monitorando seu rendimento da casa dele também. Desde o início da quarentena, mais empresas recorrem à tecnologias de gestão de produtividade para acompanhar de perto, o que a equipe está fazendo durante as horas de trabalho.
A Meetime, startup que oferece solução para gestão de produtividade para times de vendas, por exemplo, cresceu 20% no segundo trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Uma vez logado na plataforma, o gestor tem acesso a dados de quantas ligações e videoconferências o funcionário fez com possíveis clientes e quantas delas, de fato, avançaram.
“O conteúdo também é armazenado. Ao acessar parte das gravações, os gestores podem ajustar discursos. Afinal, se eu me torno um vendedor melhor, eu performo mais”, afirmou Diego Cordovez, cofundador da startup, que fatura por volta de R$ 4 milhões ao ano e tem em seu portfólio 200 empresas, como BB, Sodexo e Ambev.
Para Cordovez, que também realiza palestras sobre eficiência em vendas, alta produtividade não significa ter “sangue nos olhos”, mas sim realizar mais atividades com um método que resulte em mais resultados. No caso dele, em mais vendas.
“Não adianta fazer 40% mais ligações se o  trabalho extra não gerar mais vendas. Não acredito em produtividade sem qualidade. Por isso, aconselhamos o cliente a explicar ao funcionário que o sistema vai ajudá-lo a conquistar mais resultados e ter mais comissão”, justificou.
Outro exemplo de startup que tem crescido com base neste tipo de monitoramento é a norte-americana Tim Doctor, que além do controlar a entrega de resultados, promete tirar fotos da tela do funcionário, checar o tempo que ele gasta em reuniões e com quem ele passa mais tempo ao telefone, para avaliar sua produtividade durante o horário de trabalho.
“Screenshots são tiradas somente quando membros da equipe indicam que estão trabalhando e nunca durante intervalos. Elas também podem ser deletadas por membros da equipe se eles perceberem que acidentalmente estavam fazendo atividades não relacionadas com o trabalho, o que ajuda a manter a privacidade”, informou a empresa, garantindo que não há problema de privacidade.
Mas é preciso ter atenção ao excesso de controle. Na avaliação de Tania Mara Lopes, diretora de gestão corporativa na ISAE Escola de Negócios, em Curitiba, produtividade está relacionada à entrega de valor e, por este motivo, demanda confiança e um bom relacionamento entre o funcionário e o gestor.
“Cada vez mais comando e controle vão dar espaço para outras formas de gestão de entrega. Mais importante que monitorar as entregas diárias e semanais é acompanhar as entregas macro. Se o controle for muito grande, tanto líder quanto funcionário também perdem muito tempo”, alertou ela, que é especialista em learning agility (agilidade de aprendizado).

Produtividade bonificada

Rodolfo Carvalho, CEO da Incentivar.
Rodolfo Carvalho, CEO da Incentivar.
Não basta apenas monitorar. A tecnologia também tem sido usada para bonificar a conclusão de metas. O Incentivar, por exemplo, é um software que acompanha o rendimento da equipe, mas com uma diferença: estabelece metas com as empresas para, a partir do desempenho de cada funcionário, premiar os mais produtivos com pontos que,  ao serem acumulados podem ser trocados por créditos no celular, viagens e eletrônicos. “Empoderamos o funcionário a escolher seu próprio prêmio de reconhecimento. Há mais de 2 milhões de opções disponíveis em parceiros como Casas Bahia, Magazine Luiza e CVC”, explicou Rodolfo Carvalho, CEO da startup.
Segundo Carvalho, o sistema atua da seguinte maneira: a meta enviada pelo cliente é parametrizada com o software — que passa a acompanhar se elas estão sendo batidas pela equipe. E para ter acesso aos dados da companhia, a startup integra seu programa com o software de resultados da empresa. “Não adianta as empresas medirem produtividade apenas na quarentena. Tem que ser algo perene, a longo prazo. Há empresas, inclusive, que comparam um funcionário com o outro para estimular uma competição interna”, disse Carvalho.
Com um crescimento de 60% no segundo trimestre do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, a startup deve dobrar de tamanho este ano e adotar tecnologia de inteligência artificial em sua solução. Entre seus clientes, estão Coca Cola, Nestlé e Siemens. “Antes, as empresas demoravam 60 dias para criar uma política de incentivo. Com nossa plataforma, elas conseguem fazer isso em cinco horas”, garantiu o executivo.

Mais produtividade e menos custos

Com o início da quarentena, a curitibana ROIT Consultoria e Contabilidade permitiu que seus 175 funcionários fizessem home office. E para garantir que os resultados da empresa não caíssem no período, o diretor executivo da empresa, Lucas Ribeiro passou a acompanhar de perto a produtividade e a motivação da equipe, por meio de um software de gestão, reuniões e pesquisas internas. “Estamos economizando duas horas por dia em produtividade e vamos poupar R$ 1 milhão por ano em receita líquida. Cerca de 85% dos funcionários querem home office permanente ”, disse Ribeiro.
Com os resultados, a ROIT fechou três unidades físicas, uma em Curitiba, uma em Brasília (DF) e outra em São Paulo (SP), e vai atuar apenas a distância, mantendo um escritório apenas para reuniões e encontro de funcionários na capital paranaense. “O funcionário pode gerenciar a própria jornada. A gente não cobra quantas horas ele trabalha, contanto que ele produza. A comunicação também se tornou mais eficaz. Antes, para a gente reunir 175 pessoas era um evento. Agora, é só chamar uma call”, comparou ele.
A Digibee, startup de integração de sistemas, está gerindo a produtividade dos 60 funcionários desde que a quarentena foi decretada. Ao aprimorar a tecnologia interna e realizar um processo colaborativo, a empresa conseguiu melhorar a comunicação e o rendimento da equipe de produtos em 30%, mesmo com todos em home office.
Rodrigo Bernardinelli, cofundador da scale-up e residente do Cubo Itaú
Rodrigo Bernardinelli, cofundador da scale-up e residente do Cubo Itaú
“Quando a Digibee foi para casa, a produtividade aumentou. Ou seja, quando nossos funcionários ficaram próximos de suas famílias, tivemos um resultado melhor. Nossas implementações estão 40% mais rápidas. Descobri que posso contratar funcionários de qualquer lugar do Brasil”, analisou Rodrigo Bernardinelli, cofundador da scale-up e residente do Cubo Itaú, maior hub de inovação da América Latina.
Após receber um aporte de US$ 5 milhões no mês passado, a Digibee planeja sua internacionalização, primeiro nos EUA, depois em países da Europa e da Ásia.

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