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Região do Rebouças, em Curitiba, onde se localiza o coração do Vale do Pinhão.

Viasoft Connect

Vocação paranaense para inovação é destaque em abertura do Viasoft Connect 2020

Aléxia Saraiva, Camila Machado, Mariana Ceccon e Millena Prado
10/12/2020 23:01
O tradicional evento de inovação colaborativa Viasoft Connect deu início à sua programação nesta quinta-feira (10), seguindo com palestras online e gratuitas até o próximo dia 12. A agenda discute os rumos da inovação e do empreendedorismo com debates, workshops e entretenimento. O GazzConecta destaca os principais insights da abertura do evento, cujo primeiro dia foi dedicado em boa parte a discutir o boom de inovação no Paraná através do sucesso dos ecossistemas alimentados pela iniciativa pública e privada, além das oportunidades para fintechs, diversidade nas empresas e o Marco Legal das Startups.
A eleição de Curitiba como a quarta cidade mais promissora do mundo quando o assunto são fintechs, em um estudo conduzido pela Startup Genome em parceria com o Global Entrepreneurship Network (GEN) e o Crunchbase, permeou a essência das mesas-redondas do primeiro dia, destacando também a vocação do estado no setor de desenvolvimento de tecnologias para o setor agro e de saúde. Veja o resumo das principais palestras do dia:

O “boom”

Os ecossistemas de inovação são ativos de competitividade na economia do conhecimento. Esta é a crença do diretor de ciência, tecnologia e inovação da Fundação Araucária, Luiz Márcio Espinosa. “Participar de um ecossistema de inovação não é uma opção estratégica, é uma questão de sobrevivência das regiões e dos negócios. Nestes espaços o empreendedorismo e inovação são a alma que envolve os diversos atores do processo”, afirma.
Nesse contexto, o Paraná tem se consolidado como um grande expoente em inovação no país. Um dos dados que comprova esse expoente é o número de pesquisadores formados no estado: segundo o especialista, são 75 mil pesquisadores e 17 mil doutores mapeados - informação da plataforma i-Araucária, alimentada pela Fundação Araucária, que unifica dados sobre universidades, empresas, governo e sociedade civil para a promoção da inovação e conhecimento.
“Como um Airbnb da inovação, nós olhamos para o território e mapeamos disponibilidades em termos de ativos, para então integrar necessidades e soluções nas nove regiões do estado”, explica Espinosa.
O diretor da Fundação também mediou um painel sobre ecossistemas paranaenses de inovação, aprofundando especificidades de quatro regiões no estado: centro, Campos Gerais, oeste e região metropolitana de Curitiba. Para isso, três gestores vinculados a essas regiões puderam explanar o contexto de criação desses ecossistemas e elencar projetos nos quais têm se debruçado.
Para Rodrigo Régis, diretor de negócios e inovação do Parque Tecnológico Itaipu, o que fomenta a inovação na região é uma série de ingredientes próprios da cidade: a potência do agronegócio, a usina hidrelétrica Itaipu Binacional, a característica corporativista dos trabalhadores da região, a presença de três universidades públicas. “Nesse contexto, a Itaipu Binacional quis transcender a produção de energia e estimular conhecimento através do desenvolvimento de capital intelectual. Daí surgiu o Parque Tecnológico de Itaipu”, explica.
O PTI atualmente é um modelo de “living lab” no país: espaço de experimentação em que startups podem testar novas soluções antes de chegarem ao mercado. Atualmente, o laboratório atua nas áreas de energia, agronegócio, turismo, cidades inteligentes e segurança.
Vila A Inteligente, living lab em Foz do Iguaçu.
Vila A Inteligente, living lab em Foz do Iguaçu.
Já em Curitiba, segundo a presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento, Cris Alessi, a origem do seu “DNA inovador” pode estar em dois pilares presentes na cidade há décadas: o olhar para a sustentabilidade e para a mobilidade. “O primeiro ponto [para um ecossistema se desenvolver] é a vontade política: melhorar o ambiente de negócios, possibilitar a discussão para entender novos caminhos da economia, desburocratizar. Os quatro últimos anos consolidaram essa governança do ecossistema, e passamos a enxergar várias frentes de trabalho, com inúmeras oportunidades”, pontua.
Ela elenca que, no viés de governança municipal, o Vale do Pinhão - como o ecossistema curitibano é conhecido - tem cinco pilares estruturantes sob os quais podem ser desenvolvidos projetos voltados à inovação: articulação do ecossistema de inovação, legislação e incentivos ficais, educação em empreendedorismo, tecnologia, urbanização e sustentabilidade.
Por fim, representando o centro do estado, o gestor da linha estratégica de empreendedorismo e gestão na Regional Centro do Sebrae/PR, Agenor Felipe Krysa, endossa que a principal iniciativa para fomentar um ecossistema é o apoio ao empreendedor. Nessa extensa região, cuja extensão territorial vai das fronteiras com Santa Catarina e São Paulo e comporta 46 municípios, os destaques vão para as cidades de Guarapuava e Ponta Grossa, que têm captado investimentos públicos e privados nos últimos anos, impulsionando a região.
“Tanto na região dos Campos Gerais como no centro do estado, os ativos de conhecimento e tecnológicos são trabalhados há muito tempo em universidades como Unicentro e UEPG [Universidade Estadual de Ponta Grossa], que há muitos  anos formam profissionais e preparam a base do ecossistema. Por isso, a gente entende como uma evolução”, explica.

Inovação da porta para dentro e também da porta para fora

“Inovação é um esporte coletivo, no qual a gestão pública não é o jogador principal, mas tem um grande papel como articulador, reduzindo burocracias e eliminando barreiras”. Foi com esta afirmação que o superintendente geral de inovação do Governo do Paraná, Henrique Domakoski, exemplificou a visão da atual gestão pública à frente do governo do estado, quando o assunto é empreendedorismo. Dividindo a missão em quatro pilares principais, o superintendente explicou que a inovação deve acontecer da porta para fora do governo-- criando um ecossistema de inovação aberta e investindo os recursos necessários para isto, mas também deve ocorrer da porta para dentro, estimulando uma gestão inteligente, ágil e colaborativa, cujo propósito seja oferecer os melhores serviços públicos para o cidadão paranaense.
“No Brasil, temos dados que apontam que para prestar qualquer tipo de serviço ao público o custo é em média de R$ 42 para cada cidadão. Em formato digital, o custo desses atendimentos cairia para R$ 1,20”, exemplificou Domakoski em um painel dedicado exclusivamente para apresentar o atual cenário de inovação no Paraná. “Existe um potencial de economicidade muito grande aí e atrelado a uma melhor prestação de serviços para a população. Se tivéssemos que colocar um propósito para os próximos anos, seria sermos conhecidos como a Estônia da América do Sul, que é tido como um dos governos mais inteligentes do mundo e que você só precisa procurar presencialmente um atendimento público em três situações: casamento, divórcio ou compra de um imóvel”, pontuou.
Relembrando os programas desenvolvidos ao longo do último ano para ajudar o ecossistema paranaense de inovação a se desenvolver, mesmo diante da crise causada pelo novo coronavírus, Domakoski destacou projetos como a Lei da Inovação, o programa de capacitação Melhor Aprendiz Tech e a Feira Health Tech, além de outras iniciativas como a consolidação do compartilhamento de carros elétricos, cuja retomada deve acontecer após a vacinação.
O superintendente também destacou que o Paraná, no ano passado, foi o segundo estado onde as empresas de tecnologia mais faturaram e o primeiro em que o setor de TI mais cresceu, bem como o despertar das vocações agro e healthtech como áreas potenciais de desenvolvimento no Paraná.  “Isto dá o tom do que tem sido feito e o que ainda está por vir. Estamos falando de um plano de recuperação econômica que passa pela emissão de vouchers para startups e programas como o Pitch Paraná, sem esquecer de que a digitalização dos serviços públicos, em especial nesse momento de pandemia, é uma das nossas principais metas. O governo é apenas um pedacinho dessa engrenagem, a união de todo o setor, da chamada tríplice hélice (universidades, setor público e privado) é o que nos fará alcançar os melhores resultados como estado”, arrematou.

2021: o ano das fintechs

Não que o sistema financeiro não venha colecionando uma série de recordes em investimentos e abertura de novas startups. O mercado de fintechs não só é um dos maiores rincões de tecnologia no Brasil, como também o que mais fatura. Mas 2021 deve representar um marco ainda maior para este setor, muito impulsionado pela chegada do Pix e do Open Banking.
É esta a opinião dos advogados especializados nesta área, Rodolfo Farias, Maylin Maffini e Luiz Fernando Dietrich. Os três protagonizaram uma mesa redonda sobre oportunidades no setor financeiro e bateram o martelo: as novas tecnologias não só serão ferramentas chave para a inovação das empresas, como também deverão incluir uma parcela significativa da população brasileira desbancarizada dentro deste sistema.
“Agora temos uma legislação ótima, mas ainda precisamos enfrentar desafios como a infraestrutura digital precária nas zonas rurais e de classes B e E. Outro ponto de desenvolvimento no nosso país é que a política monetária e de investimentos ainda é muito focada em poupança e tesouro direto. O brasileiro aplica pouco ou quase nada nas empresas do país. E quando trazemos estes dois desafios para as fintechs fica claro onde essas empresas precisam crescer”, pontuou Maffini, lembrando que a implementação do Open Banking deve acontecer em fevereiro e marcar o próximo ano.
Dietrich, que é presidente da Comissão de Direito Bancário da OAB/PR, comentou as perspectivas de fechamento de agências bancárias físicas e o empoderamento do cidadão em relação às tarifas, pacotes e tipos de serviço que poderão ser contratados. “O Pix e o Open Banking vão nos ajudar a sermos senhores de nossas decisões. Queremos usar nosso tempo para aproveitar a família ou o lazer e não ficarmos em agências bancárias. Isto vai aumentar a competitividade deste mercado. Já vemos inclusive cooperativas de crédito trabalhando em prol dessa digitalização que democratizará o acesso de toda a população”, comentou. “Será o ano das fintechs de crédito e meios de pagamento, assim como daquelas que prestarem serviços digitais para o e-commerce”, arrematou.
O ingresso de empresas não tradicionais na estrutura do sistema financeiro foi outra tendência apontada por Farias, que também é cofundador da Fintech Banckero. Mas para o profissional, o futuro ainda é incerto. “Todos nós precisamos descobrir o que vem adiante. Não existe no mercado um modelo que podemos seguir cegamente como sendo inovador ou perpétuo. Este é um momento que temos de aproveitar, com solo fértil e uma agenda legislativa positiva, para inovar. Há menos de cinco anos, as fintechs brasileiras que hoje são unicórnios estavam nascendo e nem tínhamos uma discussão madura sobre as mudanças na infraestrutura do sistema financeiro. Quem dirá o que virá nos próximos cinco anos?”, finalizou.

Diversidade fomenta a inovação

É difícil falar de inovação sem considerar o conceito de diversidade. É isso que pensam os convidados do painel "Diversidade como promotora da inovação", um tema bastante presente no Viasoft Connect 2020. Luiza Luth, mediadora da mesa e Community Manager na Haze Shift, abriu o papo falando sobre a relação de inovação com criatividade e arrematou: "empresas com equipes diversas são até seis vezes mais criativas".
A posição de Luiza foi endossada pela head de Customer Success na Zoox, Carolina Guimarães. Ela deu um exemplo prático: "Façamos uma mesma pergunta para diferentes pessoas, mas com trajetórias de vida e oportunidades diferentes, e teremos múltiplas respostas. E é essa pluralidade que nos faz criativos. E inovadores", declarou. E foi ainda mais a fundo: “A diversidade deve ser uma estratégia de inovação dentro de uma empresa", explicou Carolina.
Ambas as executivas fazem parte da comunidade Inovadores Inquietos, que busca transformar o mundo através da inovação. Foi com um case interno da instituição que o conceito da diversidade ganhou ainda mais força e espaço nas discussões do grupo.
"Fomos questionados sobre como estávamos trabalhando isso dentro da comunidade de Inovadores Inquietos e o caminho até a concretização de uma política direcionada para a diversidade foi muito enriquecedor. Diversidade é mais do que ter representados nos espaços um homem, uma mulher, negros e brancos. É uma ação contínua, já que nunca tem fim e muda sempre”, destacou Angela Fey, gerente de sustentabilidade regional para América Latina na Novozymes, empresa líder mundial em soluções biológicas. Angela participou da construção das ferramentas inclusivas dos Inovadores Inquietos.

Diversidade na prática

A executiva da Novozymes falou também sobre como colocar em prática o conceito da diversidade nas empresas, que para ela “é acolher o incomum”.
“A primeira barreira a se quebrar é da inércia e o primeiro passo é a ação. É preciso parar de reproduzir o que estamos habituados. Depois, é legal voltarmos os olhos a nossa essência. A própria Constituição Brasileira traz o conceito da igualdade. É tratar os desiguais na mesma medida da desigualdade que elas sofrem. Buscar sanar a desigualdade de maneira ativa", explicou.
Hubber Clemente, consultor na área de hotelaria com foco em estratégias comerciais e marketing, exemplificou ações na prática. "A diversidade é o único caminho para que o mundo seja mais colaborativo e ela precisa estar no nosso dia a dia, porque a sociedade não foi pensada para a diversidade. Um exemplo claro é a diferença salarial de um homem branco e uma mulher negra no Brasil, é de mais de 150%”, declarou. Ele também citou ações de inclusão, como o programa de trainee para negros do Magazine Luiza.
“É preciso mostrar a necessidade da diversidade. A sociedade nos mostra isso: um jogo de futebol que é paralisado por conta de racismo; um homem que morreu em um supermercado porque era negro;  uma mulher é agredida por ser mulher. São retratos sociais”, finalizou Clemente.

Os caminhos da inovação aberta

Outro tema abordado no Viasoft Connect foi o conceito de inovação aberta — que trata da conexão de startups com empresas de maiores portes. Assim, startups oferecem velocidade na resolução de dores de corporações mais estruturadas.
E como fazer esse approach? Alexandre Grenteski, membro do Open Innovation BR, avalia: "É preciso reconhecer a maturidade da startup, olhar para dentro de casa. Depois, entender os processos de uma grande empresa, que geralmente trabalha com planejamentos anuais consolidados, objetivos traçados e rotinas orçamentárias definidas. O match precisa acontecer levando em conta os dois lados", explicou.
O empresário Michel Sehn, CEO na 4Vants, falou também sobre persistência. "Chame atenção para o seu produto e mostre que você pode ter a solução, já que você conhece a dor do mercado em que atua.”
Leo Tostes, mediador do papo, cofundador e especialista em inovação aberta na Haze Shift, falou sobre a importância de conectar-se com o ecossistema de inovação para alavancar mais oportunidades. “Sem um ecossistema rico, de troca, o negócio vira de vendedor e caçador. Se gasta muita energia para se acertar conexões. Já quando se está inserido em um sistema rico - de contatos, oportunidades, mercado - tudo se encaixa com mais facilidade", disse.
A fala de Tostes foi endossada por Marcela Milano, consultora de inovação do Sebrae/PR. “A inovação aberta é uma grande construção de pontes. Vale para startups e para empresas maiores. Os hubs podem facilitar esse processo de conexão - Sebrae, eventos como esse que estamos, entre outros, são exemplos”, finalizou Marcela.

O Marco Legal das Startups para o “jogo da inovação”

Aspectos jurídicos também foram objeto de debate durante a programação do primeiro dia do Viasoft Connect. Entre os temas abordados o Marco Legal das Startups, cujo objetivo principal é regulamentar o acesso a investimentos em startups no país.
Na visão de Vinícius Rezende, advogado e sócio do Ferreira e Chagas Advogados, para que exista uma sociedade segura e inovadora, a regulamentação é fundamental. “A principal vantagem do Marco é a segurança jurídica que autoriza a administração pública a fazer investimentos de forma clara. Isso gera uma grande oportunidade para o empresário”, mostra Rezende.
Luiz Daniel Haj Mussi, professor de direito empresarial da Universidade Federal do Paraná (UFPR), acredita que a grande solução proposta pelo marco é estabelecer quais os possíveis mecanismos de financiamento e seus desdobramentos jurídicos, uma vez que as empresas que mais precisam de aportes estão justamente em sua fase inicial. “O marco leva segurança e previsibilidade, fatores importantes no modelo de negócio. A lei também promove uma simplificação para desburocratizar a composição societária das empresas”, explica o professor.

Viasoft Connect 2020

A segunda edição de um dos maiores eventos de inovação do Brasil, o Viasoft Connect 2020, é realizada online entre os dias 10 e 12 de dezembro. A programação discute os rumos da inovação e do empreendedorismo com palestras, workshops e entretenimento. As inscrições são gratuitas.

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