José teve a oportunidade de conhecer as pessoas que receberam suas doações de medula óssea | Arquivo Pessoal
José teve a oportunidade de conhecer as pessoas que receberam suas doações de medula óssea| Foto: Arquivo Pessoal

O analista químico José Ciocca Junior tem apenas 27 anos, mas entrou na lista dos super doadores de medula por ser compatível em duas doações para pessoas diferentes. Conheça a história emocionante de um jovem que restaurou famílias com um ato de amor.

“Conheci o processo de doação de medula em 2008. Estava no primeiro ano da faculdade e uma equipe do hospital Amaral Carvalho, de Jaú, fez uma campanha de doação de sangue e medula óssea. Eles fazem isso anualmente e uma professora nos incentivou a doar. Ela explicou a importância, como fazer e nos orientou. Confesso que eu nunca tinha ouvido falar sobre isso, não conhecia o procedimento, pois moro numa cidade no interior de São Paulo, bem pequena, chamada Sabino, e nunca tinha acontecido algo parecido com qualquer parente ou amigo. Fiz o cadastro porque recebi informações de que poucas pessoas doavam, que o cadastro precisava aumentar. Doei o sangue e passei pela triagem para doação de medula. Vários amigos meus foram também, mas na triagem a grande maioria tinha um impeditivo para seguir em frente com a doação de medula.

Em 2010 recebi o primeiro telefonema. Era meados de junho, eu estava no trabalho, a moça explicou que era do Redome e que havia uma possível receptora da minha medula. Fiquei muito surpreso e, mesmo sem saber nada sobre o procedimento, na hora respondi: sim! Eu vou!

Não me importei de não saber quem era, eu quis ir imediatamente. Conversei com minha família. Meus pais ficaram apreensivos, eu tinha 20 anos na época. Mas o sentimento era de alegria em saber que alguém precisava de mim, desse ato de doar.

Em julho agendamos os exames. Me ofereceram duas opções bem próximas da minha cidade e eu optei por Jaú. Fui pra lá e passei por uma bateria: coleta de sangue, raio x, eletro etc. Me avisaram que a coleta da medula já ficaria agendada para agosto. Fui muito bem atendido em todo o processo e não tivemos nenhuma despesa. Minha internação durou três dias e o procedimento foi por meio da pulsão na bacia, praticamente indolor, com anestesia. Coletaram 500ml da minha medula. Depois de um mês repeti os exames de sangue e estava tudo normal. E a medula em 15 dias se regenera. Não tive dor, nenhum desconforto, nada. Num primeiro momento fiquei muito ansioso, não sabia o que me esperava. Depois que tudo passou, veio a felicidade pela oportunidade de ajudar alguém. Há um sigilo na hora da doação, mas o médico me deu notícias de que a família da pessoa que recebeu minha medula estava muito feliz. Senti no meu coração que era uma criança. O médico chegou a comentar: José, você nasceu pra doar medula. Fui embora com a sensação de dever cumprido.

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Em 2015, recebo uma nova ligação. Era a mesma moça do Redome, aquela que me contactou em 2010. Na hora que começamos a conversar, ela lembrou de mim. Demos risada e confirmei de que se tratava do mesmo José de cinco anos atrás. Ela disse: tenho uma outra notícia José, tem mais uma pessoa precisando da sua medula. Você está disposto a doar novamente? Eu falei: claro! Sim na mesma hora. Fiquei super feliz e todo o processo foi ainda mais tranquilo. A rotina do preparo foi exatamente a mesma. No hospital lembraram de mim, foi bem legal. Da mesma forma como fiz anteriormente, perguntei ao médico: e aí doutor, fiz um bom trabalho? Queria saber se quem recebeu estava bem. Mais uma vez, ele respondeu que sim.

A maior surpresa de todas

Em 2016, meados de fevereiro, nova ligação do Redome. Achei que era mais uma doação. Mas, na verdade era um pedido da família que recebeu a medula para me conhecer. Eu tinha como premissa respeitar e não quis ir atrás das pessoas que receberam minha medula. Deixei para Deus preparar o momento, se fosse o caso. Meu desejo, acima de tudo, era que eles estivessem bem e voltassem a ter uma vida normal, saudável, alegre. Se elas quisessem me conhecer, seria bem bacana. Mas se não quisessem, eu respeitaria, porque eu sou voluntário e o objetivo principal é a vida. Após afirmar que concordava conhecer o receptor, assinei um termo de responsabilidade para assinar.

Alguns dias depois eu soube o nome da pessoa que recebeu a medula. Ele é de Prata, Minas Gerais, e na época do transplante tinha apenas 12 anos. Me deram o telefone de contato e me disseram que eu poderia ligar, ou esperar que a mãe dele me ligasse. Liguei antes e foi muito emocionante. Ela chorava no telefone, comemorava a vida do filho, contou o sofrimento dele para sobreviver. Fiquei muito emocionado também. Que alegria! Depois recebi fotos pelo Whatsapp e foi fantástico. Ver que fui capaz de transformar uma vida, na verdade toda a família. Liguei para minha mãe e contei correndo. Depois contei pros meus amigos e todos se emocionaram. Em novembro, fui pessoalmente até Prata. Vê-lo pessoalmente foi demais.

Fui bem acolhido, todos estavam super gratos. Compartilhamos esse momento e comemoramos juntos.

Em dezembro repassei o feedback pro Redome, com fotos e depoimento do meu encontro com a família. No final do documento eu falei do meu desejo de conhecer a outra pessoa que recebeu a medula e ter um encontro com os dois ao mesmo tempo.
Em março desse ano, após os 18 meses do transplante – existe uma regra de confidencialidade nesse período – o Redome me avisou que entraria com o requerimento para eu conhecer o segundo paciente. Depois de 15 dias recebi o nome e a sensação maravilhosa de felicidade era a mesma da primeira vez. Só quem passa por isso, consegue saber. Dessa vez a família me ligou e a menina que recebeu a medula me agradeceu por telefone. Falei com a mãe, com o pai e recebi muito carinho da família toda.

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E lá veio o Redome fazer contato mais uma vez. Eles contaram sobre um evento em que alguém é convidado para contar sua história. Fui escolhido para ir ao Rio de Janeiro e encontrar as crianças de novo, com seus familiares. Foi um encontro de almas. Alguns doadores foram homenageados e foi muito especial. Realmente eu não tinha ideia da dimensão de tudo isso. 

Hoje, ao olhar para trás, a sensação que fica é de ter feito minha parte, transmitir amor, o bem. Sinto que tem um pedaço de mim na Bahia e outro em Minas. Sempre fui otimista, alto astral, vejo o lado bom das coisas. Mas depois das doações passei a refletir sobre a dimensão do que foi proporcionado a essas famílias. Fiquei sabendo que apenas duas pessoas no Brasil tiveram a oportunidade de doar medula duas vezes. Que privilégio! Se precisar doarei de novo sim. Estou pronto. Mas um caso assim nunca aconteceu na história da medicina. Quem sabe?”

Sobre o projeto The Hardest Run 

Apenas 25% dos pacientes que precisam transplante de medula óssea encontram o doador ideal na família. O restante depende de familiares parcialmente compatíveis, bancos de cordão umbilical ou doadores de medula voluntários. Em razão disso, um cadastro amplo e atualizado é necessário para dar mais chances de cura a quem precisa do transplante. 

O movimento The Hardest Run pretende chamar atenção das pessoas em todo o mundo e aumentar, de forma significativa, o cadastro de doadores de medula. A iniciativa reúne corredores de todos os tipos, amadores, profissionais e iniciantes para ajudar de alguma forma na doação de sangue e medula óssea, seja abastecendo o cadastro de doadores de medula, divulgando, doando sangue, mobilizando pessoas ou levando no peito o “red number”, número do cadastro da equipe. Tudo isso para aumentar as chances de encontrar um doador de medula óssea compatível que, de acordo com estatísticas, é de, pelo menos, 1 em 100 mil. 

Equipe The Hardest Run

Para fazer parte da equipe The Hardest Run basta se cadastrar e levar a causa onde e da forma que puder. A pessoa receberá um número vermelho exclusivo e que será dela para sempre. A ideia é usar esse número em provas de corrida que ela participar. Outras sugestões são: 

  • Contar para amigos e familiares sobre o movimento, convidá-los para fazer parte e incentivar a contribuir com a causa, cadastrando-se como doador de medula ou como doador de plaquetas e granulócitos para pacientes. 
  • Postar e compartilhar informações do movimento em suas redes sociais. Quando fizer postagens sobre corrida utilizar sempre a #thehardestrun #thehardestrunners ou #rednumberteam para reforçar que faz parte de uma equipe. 
  • Se cadastrar como doador de medula óssea, plaquetas e granulócitos. 
  • Ficar ligado nos canais do grupo, contribuir e/ou mobilizar pessoas quando chamados para entrar em ação. 
  • Participar dos eventos e corridas temáticas. 

Qualquer pessoa de qualquer cidade ou país pode participar e ajudar. Para se inscrever como Hardest Runner e receber mais informações sobre o movimento basta acessar http://www.thehardestrun.com.br/

Além dos corredores, o movimento também conta com um grupo de apoiadores que prometem levar a causa ainda mais longe. The Hardest Run já conta com o apoio do estúdio Matilha, da produtora The Youth Films e da agência P+G. A correalização é do Hospital Nossa Senhora das Graças.